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Se eu tenho epilepsia meu filho também vai ter? Mitos e verdades sobre a doença

Mitos e verdades sobre a epilepsia, doença que atinge mais de 70 milhões de pessoas no mundo

Epilepsia atinge mais de 70 milhões de pessoas no mundo: confira mitos e verdades da doença – Freepik

Existe uma diferença entre epilepsia e convulsão. Por definição, epilepsia é uma doença neurológica caracterizada por descargas elétricas anormais e excessivas no cérebro que são recorrentes e geram as crises epilépticas. Em cerca de 70% existe um controle da epilepsia.

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Para considerar que uma pessoa tem epilepsia ela deverá ter repetição de suas crises epilépticas, portanto, a pessoa poderá ter uma crise epiléptica (convulsiva ou não) e não ter o diagnóstico de epilepsia. O Dr. Ricardo Santos de Oliveira, neurocirurgião pediátrico, comenta as principais dúvidas em relação ao tema.

EPILEPSIA: MITOS E VERDADES

MITO: A epilepsia é uma doença mental.

Não! A epilepsia é uma doença neurológica. Em casos graves, e principalmente quando a epilepsia ocorre na população pediátrica, antes de dois anos de idade, o risco de atraso mental é maior.

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Toda convulsão é uma crise epiléptica, mas além da convulsão existem várias formas de crises epilépticas. Na convulsão o paciente apresenta movimentos grosseiros de membros, desvio dos olhos, liberação de esfíncteres e perda de consciência. E um exemplo comum de crise epiléptica não convulsiva é a crise de ausência.

MITO: A epilepsia é uma doença contagiosa.

A epilepsia é uma doença neurológica não contagiosa. Portanto, qualquer contato com alguém que tenha epilepsia não transmite a doença.

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MITO: Uma crise convulsiva define a epilepsia.

A epilepsia é uma doença frequente que acomete cerca de 1 a 2% da população geral. A convulsão é um tipo de crise epilética, que acontece quando um agrupamento de células cerebrais se comporta de maneira anormal. Um único episódio não indica que a pessoa tenha epilepsia – muito embora a consulta com um especialista seja necessária – e a doença não implica obrigatoriamente em ter distúrbios de comportamento.

Existem situações que podem predispor o aparecimento de uma crise convulsiva, como por exemplo febre, estresse, drogas ou distúrbios metabólicos, privação de sono, estímulos visuais excessivos, entre outros.

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Um episódio único de crise convulsiva não pode ser considerado o diagnóstico de epilepsia.

Existem várias formas de epilepsia em crianças e nas emergências pediátricas é comum observar a convulsão febril, que costuma ter evolução benigna. Essa chamada epilepsia benigna da infância pode acontecer desde a idade pré-escolar até a adolescência. As crises com breves paradas comportamentais sem evento motor nítido, exemplificam formas comuns de epilepsia na infância.

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MITO: Os pacientes com epilepsia podem dirigir.

Segundo a Associação Brasileira de Educação de Trânsito, o paciente com epilepsia que se encontra em uso de medicação antiepiléptica poderá dirigir se estiver há um ano sem crise epiléptica – dado que deve ser apresentado através de um laudo médico. Caso o paciente esteja em retirada da medicação antiepiléptica, ele poderá dirigir se estiver há, no mínimo, dois anos sem crises epilépticas e ficar por mais seis meses sem medicação e sem crise. Já a direção de motocicletas é proibida.

MITO: A epilepsia não tem cura.

Existem várias medicações que são indicadas de acordo com o histórico de cada paciente, porém, nos casos de epilepsia grave e que não respondem ao tratamento clínico, o paciente pode precisar da cirurgia. A tecnologia avançada tem permitido um melhor diagnóstico e o tratamento medicamentoso e cirúrgico têm sido cada vez mais seguro e com melhores resultados.

Existem situações que a crise convulsiva ocorre de forma inédita num paciente adulto ou pediátrico, podendo estar associada a um tumor cerebral. O uso de tecnologias avançadas como a neuronavegação e a monitorização intraoperatória permitem cirurgias mais seguras.

Em outros casos, chamados de epilepsia refratária, observamos uma continuidade das crises convulsivas apesar da medicação. Estes pacientes devem ser avaliados numa unidade especializada em cirurgia de epilepsia na tentativa de correlacionar uma região do cérebro (foco) com a origem da epilepsia.

Orientações do Especialista:

Como usar a medicação?

Os remédios para epilepsia são controlados e o paciente deve sempre fazer acompanhamento médico para avaliar possíveis efeitos colaterais erroneamente atribuídos ao tratamento. A dose da medicação nunca deve ser alterada por conta própria.

Tenho epilepsia. Meu filho também vai ter?

Cerca de 4% das pessoas já apresentaram pelo menos uma crise convulsiva na vida, mas isso não significa que tenham epilepsia. Pai ou mãe que tem epilepsia não significa que o filho também terá, pois a maiorias das doenças que cursam com epilepsia não são hereditárias.

Como ajudar alguém que esteja em crise epilética?

É importante tentar proteger a cabeça da pessoa para evitar um traumatismo, e virar o rosto dela de lado para eliminar o acúmulo de saliva e impedir a asfixia com o próprio vômito. Não se deve segurar a língua do paciente, sob o risco de tomar uma mordida, ou colocar objetos na boca, como uma colher. Se a crise estiver durando mais de 5 minutos, já vale a pena chamar uma ambulância, o mesmo deve ser feito se a pessoa demorar a recobrar a consciência.

“O paciente com epilepsia pode ter uma vida normal, desde que controlados, podem e devem ser inseridos completamente na sociedade, ou seja, devem trabalhar, estudar, praticar esportes, se divertir”, finaliza Dr. Ricardo Oliveira.


Sobre Dr. Ricardo de Oliveira – Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRPUSP). Doutor em Clínica Cirúrgica pela Universidade de São Paulo, com pós-doutorados pela Universidade René Descartes, em Paris, na França e pela FMRPUSP. É orientador pleno do Programa de Pós-graduação do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRPUSP e médico assistente da Divisão de Neurocirurgia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.

Também é docente credenciado do Departamento de Cirurgia e Anatomia da pós-graduação e tem experiência com ênfase em Neurocirurgia Pediátrica e em Neurooncologia, atuando principalmente nas seguintes linhas de pesquisa: neoplasias cerebrais sólidas da infância, glicobiologia de tumores cerebrais pediátricos e trauma crânio-encefálico. É presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia Pediátrica (2019/2021). Foi o neurocirurgião pediátrico principal do caso das gêmeas siamesas do Ceará. Atua com consultórios em Ribeirão Preto no Neurocin e em São Paulo no Instituto Amato.