Por que a raiva humana pode ser fatal? Especialistas explicam

Depois de 10 anos, o estado de Minas Gerais voltou a registrar casos e óbitos de paciente com raiva humana

Especialistas explicam gravidade da raiva humana
Especialistas explicam gravidade da raiva humana – Unsplash/Riizz

Há uma década, o estado de Minas Gerais não havia mais registros oficiais de casos de raiva humana. No entanto, esse cenário mudou com quadros da doença na área rural do município de Bertópolis. Na reserva indígena no Vale do Mucuri, três crianças de 5 e 12 anos não resistiram à doença. Duas delas foram contaminadas pela mordida de um morcego, mas outra foi diagnosticada com a doença sem a presença de mordida ou arranhão pelo animal, em que autoridades de saúde estão investigando o óbito.

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Zoonose é um termo que caracteriza a raiva. A infectologista do Hospital São Francisco de Mogi Guaçu, Fabiana Romanello, explica o significado desse conceito: “doença que é transmitida dos animais ao homem e vice-versa, sendo mortal para as duas espécies”. A transmissão da raiva é como aconteceu com a maioria das crianças do Vale do Mucuri, por meio de “mordedura, arranhadura ou lambedura em pele ou mucosa” de animais com o vírus da doença na saliva.

POR QUE A RAIVA HUMANA É LETAL?

Apesar de as contaminações em Minas Gerais terem ocorrido em uma área rural, a doença também pode ser transmitida em meio urbano. O médico e mestre em Ciências da Saúde, Dr. Tasso Carvalho, explica que no urbano, a transmissão ocorre entre os pets cachorros e gatos. Já no rural, a contaminação é entre morcegos, macacos e raposas. E o que caracteriza a raiva humana? Carvalho diz que a doença é “uma encefalite progressiva aguda e letal”.

Os dois especialistas citam que a fatalidade da doença ocorre em praticamente 100% dos casos. “A destruição causada pelo vírus da raiva atinge áreas do sistema nervoso, paralisando o indivíduo”, explica a infectologista Fabiana Romanello. O mestre em Ciências da Saúde diz que quando a raiva humana evolui para o sistema nervoso central, o paciente encontra-se em uma fase grave onde há uma “difusa inflamação do parênquima cerebral chamada encefalite”.

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A RAIVA PODE SER TRANSMITIDA ENTRE HUMANOS?

Se uma pessoa for contaminada pela raiva, a questão que pode ficar é se o paciente pode contaminar outros humanos. Conforme Romanello, apesar de raros, há registros de casos como esses, em que a transmissão pode ocorrer por “via respiratória, no momento em que a pessoa não vacinada inala o ar contendo o vírus”. Tasso lembra que “todos os mamíferos são suscetíveis ao vírus da raiva”.

SINTOMAS DA RAIVA HUMANA

Conforme os especialistas, os sintomas da doença são:

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  • Mal-estar geral;
  • Febre;
  • Dor de cabeça e garganta;
  • Dores abdominais;
  • Náuseas;
  • Perda do apetite;
  • Coceira e formigueiro no local do ferimento.

“Em seguida, há uma fase de inquietação e ansiedade, com duração de até 10 dias. Após esse período, há alterações neurológicas, como agressividade intensa, confusão mental, alucinações, crises convulsivas causadas por qualquer barulho, luz ou toque, produção excessiva de saliva e febre bem alta. Há também manifestações de fobias, com movimentos chamados de espasmos, quando vê ou tenta beber água, recebe corrente de ar ou excesso de claridade, destaca a infectologista.

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QUADRO DE CASOS DE RAIVA HUMANA EM MINAS GERAIS É PREOCUPANTE?

Para a infectologista Fabiana Romanello, a situação é preocupante por se tratar de uma questão de saúde pública. Já Tasso Carvalho explica que “como foram casos isolados restritos a uma localidade para a qual o acesso só é possível por meio de uma estrada vicinal, com 38 km de extensão, associados às medidas de controle já adotadas, a situação não é preocupante”.

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As medidas de combate à doença precisam ser intensificadas, como lembra Romanello, com:

  • Vacinação de cães e gatos;
  • Atendimento adequado das pessoas expostas ao risco de adquirir a doença;
  • Recolhimento de animais identificados como infectados.

“É de extrema importância procurar atendimento imediato assim que houver ferimento causado por animais sem histórico de vacinação”, alerta a infectologista.


Sobre as fontes:

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  • Fabiana Romanello é infectologista do Hospital São Francisco de Mogi Guaçu;
  • Tasso Carvalho é Mestre em Ciências da Saúde pelo Programa de Pós-graduação Strictus Sensus da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e é médico pela pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP). Tasso também é nutrólogo pela Associação Brasileira de Nutrologia (Abran e AMB). Foi Coordenador do Curso de Medicina na Universidade Estadual Sudoeste da Bahia (UESB) durante dois anos. O médico criou a Integrative Academy, uma plataforma onde já ministrou 12 cursos que falam desde terapias de equilíbrio hormonal, de homeostase hormonal, base da fisiologia à terapêutica.