Ganhar ‘likes’ nas redes sociais estimula a área de recompensa do cérebro humano; especialista explica

Psicanalista explica que, nas redes sociais, uma curtida promove uma ação positiva e motivacional no cérebro; mas nem sempre o resultado é benéfico

Ganhar ‘likes’ nas redes sociais estimula a área de recompensa do cérebro humano; especialista explica
Ganhar ‘likes’ nas redes sociais estimula a área de recompensa do cérebro humano; especialista explica – Foto: Shutterstock

Em tempos de redes sociais, um click “gostei” promove uma ação positiva e motivacional no cérebro de quem curte e recebe a curtida. Mas, todo cuidado é pouco com essa dinâmica de relacionamento, em momentos contemporâneos, vulneráveis ao esvaziamento dos sentimentos humanos.

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Casais se conhecem rápido demais e logo partem para mudar o status do relacionamento nas redes sociais. Com isso, esquecem de conhecer melhor o parceiro, ver até onde existe compatibilidade, saber se estar num relacionamento saudável e se é  isso mesmo que se deseja.

Essas questões ficam para daqui algumas semanas ou meses. São líquidas as relações de hoje em dia, segundo o sociólogo Zygmunt Bauman. E em um click, torna-se muito fácil conquistar, acabar, excluir, bloquear pessoas como um produto descartável.

A falsa sensação de estar rodeado de amigos

O fato é que as pessoas possuem muitos “amigos” nas redes sociais e continuam solitárias esperando que alguém “curta” o que foi postado. Uma explicação à luz da neurobiologia, revela que o cérebro humano precisa de determinados estímulos que influenciam a autoestima e a aceitação em um determinado grupo de pessoas. O humano é um “animal social” que precisa intencionalmente de elogios como fator estimulante para ativar o sistema de recompensa emocional.

Nosso cérebro “adora” novidades. Mas, no fim das contas, ele seleciona o que é importante para depois guardar essas informações de verdade. Ou seja, ele trabalha em duas etapas. Acontece que, por conta dessa primeira etapa ser mais prazerosa e frenética, liberando compostos químicos que satisfazem o corpo, sempre queremos involuntariamente nos manter conferindo novidades e acabamos sem tempo para guardarmos o conteúdo na segunda etapa. E essa é a especialidade da internet, produzir informações rápidas e inovadoras.

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Redes sociais estimulam o cérebro 

As redes sociais influenciam nossos sentidos biológicos e estimulam o cérebro humano a continuar “clicado e ligado”. Esse processo acontece devido ao prazer estabelecido na função cerebral, como acontece nas probabilidades de sobrevivência, por exemplo, comer comidas calóricas, dormir bem, aprender novas habilidades, conseguir apoio social, fazer sexo.

O cérebro pode ser estimulado por qualquer atividade ou informação prazerosa, mesmo sem ter a função de sobrevivência, por exemplo, jogos, músicas, filmes, livros, danças, redes sociais, sendo especialmente superativado por drogas como anfetaminas e heroína.

De fato as redes sociais provocam modificabilidade cerebral, esse fenômeno é incontestável, pois, evidências científicas demonstram que conexões neuronais são estimuladas por determinados fatores neurotróficos que estabelecem novas rotas alternativas nas células neuronais do córtex cerebral.

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Consequências dos prazeres imediatos no cérebro 

Entre 5% e 10% dos usuários de internet são incapazes de controlar a quantidade de tempo que passam on-line. Apesar de ser uma dependência psicológica, estudos mostram que há deficiências cerebrais parecidas com as provocadas por dependências químicas.

Regiões do cérebro que controlam as emoções, a atenção e a tomada de decisões são afetadas, porque as redes sociais oferecem respostas imediatas com pouco esforço. E quanto mais respostas imediatas se tem, mais rapidamente se quer resolver os problemas, e é o mesmo processo que acontece quando há consumo de drogas. Prazeres imediatos.

Papel das redes sociais na produção de hormônios 

As redes sociais também desencadeiam uma liberação de dopamina, o hormônio do bem-estar. Em exames de ressonância magnética, cientistas descobriram que as áreas de bem-estar dos cérebro são muito mais ativadas quando as pessoas falam sobre si mesmas ou expressam opiniões, em vez de ouvir os outros. Em uma conversa face a face com outra pessoa, cerca de 30% a 40% do tempo é destinado a falar sobre nós mesmos. Na internet, o número sobe para 80%.

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A neurobiologia explica que as ações cerebrais diante das curtidas nas redes sociais podem aumentar os níveis de ocitocina, conhecida como “hormônio do amor”, que estimula sentimentos como empatia, generosidade e confiança, e tem altas quando o indivíduo está apaixonado.

Estudos neurocientíficos revelam que quando o indivíduo compartilha informações pessoais na internet, ele estimula as  regiões do cérebro envolvidas na conectividade, como o córtex pré-frontal medial, amígdalas cerebrais e precuneus – regiões do cérebro envolvidas na autorreflexão e em determinados aspetos da consciência emocional.

Cuidado com a exposição excessiva nas redes sociais

O importante é encarar a realidade e as emoções presentes nas nossas vidas para evitar exposições excessivas e desnecessárias nas redes sociais.  Também vale alertar que podemos ter atividade emocional no nosso cérebro de vários aspectos: proativo, vítima, atento, desligado, observador e desnorteado. Todos nós temos um pouquinho de cada traço, e o que influencia o comportamento humano são as medidas que tomamos frente às mudanças efetivas em nosso dia a dia.

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O ser humano vive em busca de aceitação

As emoções e os sentimentos fazem parte de nossas vivências e são importantes na solução de problemas, no raciocínio e no funcionamento inteligente, em relação às questões que o ser humano se depara em sua vida, num constante equilíbrio/desequilíbrio em busca de uma homeostasia.

O ser humano reage ao detectar um desequilíbrio no processo de vida e, ao perceber este desequilíbrio, procura corrigi-lo, no sentido de adaptar-se, dentro dos limites da biologia humana e do ambiente físico e social. Na verdade, o ser humano quer se sentir querido, produtivo e aceito nas suas relações, sejam elas reais ou virtuais. Mas, todo cuidado é pouco quando o envolvimento emocional fica por conta das redes sociais.


Por Marta Relvas 

Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Neurociência e Comportamento, Psicanalista, Psicopedagoga, Especialista em Neurofisiologia Humana, Anatomia Humana e Bioética. Entre os livros lançados estão “Sob o comando do cérebro” e “Cérebro – Contextos, nuances e possibilidades”, publicados pela Wak Editora.