Bebida alcoólica, cigarro, alimentação desregrada, insônia: saiba como reverter os maus hábitos da pandemia

Com a pandemia do Coronavírus, brasileiros passaram a realizar com mais frequência hábitos que podem colocar a saúde em risco. Time de especialistas dá dicas para reverter a situação.

Saiba como reverter os maus hábitos da pandemia – FREEPIK

A pandemia do Coronavírus virou nossa vida de cabeça para baixo. O isolamento social, o cenário econômico e político, a mudança para o home office e o aumento do estresse e da ansiedade são fatores que contribuíram para que nossa rotina mudasse completamente. E, apesar de algumas pessoas terem aproveitado esse momento para rever hábitos e melhorar o estilo de vida, a realidade é que a grande maioria dos brasileiros relaxou nos cuidados com a saúde, passando a aumentar a frequência de hábitos que podem prejudicar o bom funcionamento do organismo. Para entender melhor esse cenário, consultamos um time de especialistas que apontou os maus hábitos que mais cresceram na pandemia, além de dar dicas sobre como reverter essa situação. Confira:

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Alimentação desregrada

Um dos hábitos mais afetados pela pandemia com certeza foi a alimentação. Segundo dados do instituto de pesquisas de mercado Demanda, cerca de 30% dos brasileiros passaram a exagerar na comida. E um dos motivos para esse aumento está no fato de muitas pessoas enxergarem a comida como forma de lidar com os sentimentos aflorados nesse período de pandemia, como a ansiedade e o estresse. “As comidas podem proporcionar alívio emocional ou sensação de prazer em situações de fragilidade, principalmente quando estão associadas a períodos significativos da vida do indivíduo ou remetem a lembranças de experiências positivas do passado. Além disso, as comidas também proporcionam ao indivíduo um bem-estar físico devido as suas características físico-químicas, como composição, textura, facilidade na mastigação e temperatura. É o que chamamos de comfort food”, diz a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, professora e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).

E não há problema algum em sentir prazer na alimentação. Mas é fundamental evitar os exageros e apostar em uma alimentação balanceada, afinal, esse é um dos pilares mais importantes para manutenção da saúde e prevenção de doenças. “Por isso, o ideal é sempre apostar nos alimentos in natura e em preparações caseiras, priorizando as proteínas de alto valor biológico (carnes, ovos e leguminosas), os ácidos graxos ômega-3 (peixes de água fria e sementes oleaginosas), vitamina C (frutas cítricas e vegetais verde escuro), polifenóis (vegetais pigmentados e frutas de coloração avermelhada) e carotenoides (vegetais amarelos, alaranjados e vermelhos como abóbora, cenoura e tomate)”, recomenda a médica.

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Aumento no consumo de açúcar

Ainda falando sobre a alimentação, a pandemia aumentou principalmente o consumo de açúcar. Segundo um estudo realizado entre abril e maio de 2020 pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em parceria com a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), quase 2/3 (63%) dos brasileiros consome doce duas vezes ou mais por semana, o que representa um aumento de 7% com relação ao período anterior à pandemia. E esse hábito é extremamente prejudicial para o organismo, pois os açúcares são rapidamente digeridos pelo organismo e transformados em glicose no sangue, provocando assim um pico de glicemia. “Para reequilibrar esse alto nível de glicose no sangue, o organismo aumenta a produção de moléculas que podem se transformar em radicais livres envolvidos em um processo denominado como estresse oxidativo, que desencadeia problemas ao ativar diversas vias inflamatórias no organismo e contribuir para a inflamação crônica”, explica o Dr. Juliano Burckhardt, médico cardiologista, geriatra e nutrólogo, membro Titular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).

De acordo com a cirurgiã plástica Dra. Beatriz Lassance, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e da Isaps (International Society of Aesthetic Plastic Surgery), com um excesso de açúcar circulante, as respostas imunes são piores, os riscos de infecção por micro-organismos são maiores e os processos de recuperação e cicatrização são mais lentos. Logo, é importante que os açúcares não componham mais de 10% de todas as calorias ingeridas. Além disso, tome cuidado com os açúcares escondidos. “Seja um comedor informado, conheça os ingredientes e leia atentamente os rótulos nutricionais. Açúcares ocultos e ingredientes não saudáveis podem aumentar seu peso e piorar o perfil lipídico. Então fique longe de alimentos que contenham fontes escondidas de açúcar, como xarope de milho com alto teor de frutose e algumas dextrinas”, afirma o Dr. Juliano.

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Sedentarismo

O estudo realizado pela Fiocruz também mostrou que os índices de sedentarismo aumentaram, com 62% dos brasileiros tendo deixado de fazer qualquer tipo de exercício durante a pandemia. “E é aí que mora o perigo, pois o sedentarismo prejudica a circulação e favorece o surgimento de trombose, uma condição que ocorre quando um coágulo sanguíneo se desenvolve no interior das veias das pernas devido à circulação inadequada, impedindo, assim, a passagem do sangue. Em casos mais raros, o coágulo pode ainda se desprender da parede da veia e correr pela circulação até chegar ao pulmão, causando uma embolia pulmonar que pode até resultar em morte”, alerta a cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. O ideal então é realizar semanalmente 150 minutos de exercícios físicos de intensidade moderada. “Mas qualquer atividade já pode trazer benefícios, como aumentar o número de passos por dia e subir escadas”, diz a Dra. Beatriz Lassance.

Prática de exercícios sem orientação

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Em contrapartida ao sedentarismo, aqueles que não param de praticar exercícios de jeito nenhum, com o isolamento social, passaram a realizar esse hábito sem qualquer tipo de orientação, o que aumenta o risco de lesões musculares. Por isso, é sempre importante buscar um profissional treinado para te dar orientações de forma a prevenir que você se machuque durante os exercícios. 

Ingestão excessiva de bebidas alcoólicas

Outro hábito prejudicial estimulado pela pandemia foi o consumo de álcool. Para se ter uma ideia, de acordo com um levantamento realizado pela agência de saúde independente Vital Strategies, em 2020 houve um aumento de 18,4% no número de mortes causadas pelo consumo excessivo de álcool em comparação a 2019, maior índice em 10 anos. Isso porque as consequências do consumo excessivo de álcool são extremamente graves para o organismo. “Por exemplo, quando você bebe álcool, acaba adicionando mais uma tarefa na função do fígado. Consequentemente, esse órgão não consegue processar a gordura de maneira eficiente, pois estará trabalhando para expelir o álcool. Logo, ocorre a desaceleração do metabolismo, levando, inclusive, ao acúmulo de gordura, ao ganho de peso e, consequentemente, a obesidade”, explica a Dra. Marcella Garcez. Além disso, segundo a Dra. Beatriz Lassance, o álcool em excesso também provoca um aumento enorme na produção de radicais livres. “Com um maior número de radicais livres circulando, o corpo entra em um estado de estresse oxidativo, o que agrava o quadro inflamatório do organismo e piora as respostas imunológicas”, afirma a cirurgiã.

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Por favorecer a desidratação, o álcool, além de aumentar a incidência de câimbras e dores musculares, ainda pode fazer com que o organismo retenha mais líquidos. “Como resultado, ficamos mais edemaciados e a pressão vascular pode aumentar, o que contribui para o surgimento de problemas vasculares como varizes e trombose”, alerta a Dra. Aline Lamaita. Logo, a melhor dica é apostar na moderação e não tornar o ato esporádico de beber em um hábito rotineiro. “No geral, recomenda-se limitar o consumo diário a, no máximo, uma taça de até 150ml e optar sempre pelas variedades que apresentam funcionalidades, como o vinho tinto e seco”, aconselha a Dra Marcella.

Crescimento do tabagismo

O tabagismo também aumentou na pandemia. Segundo dados da Fiocruz, 34% dos fumantes brasileiros aumentaram a quantidade de cigarros consumidos neste período. E os danos do cigarro ao organismo já são conhecidos por todos. “Cada vez que você inala a fumaça do cigarro, sua frequência cardíaca e sua pressão arterial aumentam temporariamente. Com o tempo, as substâncias tóxicas do cigarro obstruem suas artérias, aumentam a coagulação, danificam seus pulmões, enfraquecem seus ossos e sistema imunológico, além de aumentar a inflamação”, alerta o Dr Juliano Burckhardt. Por isso, parar de fumar é indispensável para a manutenção da saúde. “Apenas 20 minutos depois de parar, sua pressão arterial e frequência cardíaca diminuem. Em 2 a 3 semanas, seu fluxo sanguíneo começa a melhorar. Depois de um ano sem cigarros, você tem metade da probabilidade de sofrer com alguma doença cardíaca do que quando fumava. Depois de 5 anos, o risco é quase o mesmo do que alguém que nunca acendeu um cigarro”, afirma o médico.

Falta de sono

O isolamento social parecia a oportunidade perfeita para colocar o sono em dia. Mas não foi isso que aconteceu. Em pesquisa feita pela Royal Philips, 50% dos brasileiros relataram que a pandemia afetou diretamente sua capacidade de dormir bem, o que pode colocar a saúde em risco.  “Temos evidências extensas de que dormir cinco horas ou menos aumenta consistentemente o risco de condições adversas à saúde, como doenças cardiovasculares e até diminuição da longevidade. Além disso, esse período é indispensável para a reparação do organismo e é importante para o bom funcionamento do sistema imunológico”, explica Dra. Aline Lamaita. Dormir bem também é importante para potencializar uma série de funções cerebrais, auxiliando, por exemplo, na produtividade, na capacidade cognitiva, na melhora do humor e na diminuição do estresse e ansiedade. “Tempo e qualidade ao dormir nos deixam com um humor melhor e aguçam nosso cérebro. Também nos dão a energia e a capacidade de administrar nossas vidas ocupadas, desde exercícios físicos a até o trabalho. Se você não dormir o suficiente, mesmo uma tarefa simples pode exigir mais esforço mental. Você também achará muito mais difícil se concentrar e poderá notar lacunas em sua memória de curto prazo”, afirma Dr. Gabriel Novaes de Rezende Batistella, médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA).

Por isso, é fundamental dormir entre 7 a 8 horas por dia. E o sono deve ser de qualidade. “Se mesmo após 7 horas os sintomas forem de cansaço e sonolência pode ser que a qualidade do sono esteja ruim, sendo importante então investir em alguns cuidados para melhorar esse quadro, como exercitar a higiene do sono”, recomenda Dra. Beatriz Lassance. “A higiene do sono consiste, basicamente, em adotar uma rotina que avisará o cérebro que está na hora de dormir. Então tome um banho, coloque um pijama, cuide da pele, escove os dentes, apague a luz e deite-se na cama. Enquanto isso, seu cérebro gerará sinais para que o organismo passe a produzir hormônios reguladores do sono, como a melatonina e a serotonina, e pare de produzir hormônios de alerta, como o cortisol. Mas evite utilizar qualquer tipo de equipamento eletrônico uma hora antes de dormir, seja o celular, o tablet ou a televisão, para evitar a luz azul emitida por dispositivos”.


FONTES:

*DRA. BEATRIZ LASSANCE: Cirurgiã Plástica formada na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e residência em cirurgia plástica na Faculdade de Medicina do ABC. Trabalhou no Onze Lieve Vrouwe Gusthuis – Amsterdam -NL e é Membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, da ISAPS (International Society of Aesthetic Plastic Surgery) e da American Society of Plastic Surgery. Além disso, é membro do American College of LifeStyle Medicine e do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida.

*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo.

*DR. GABRIEL NOVAES DE REZENDE BATISTELLA: Médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA). Formado em Neurologia e Neuro-oncologia pela Escola Paulista de Medicina da UNIFESP, hoje é assistente de Neuro-Oncologia Clínica na mesma instituição. O médico é o representante brasileiro do International Outreach Committee da Society for Neuro-Oncology (IOC-SNO).

*DRA. ALINE LAMAITA: Cirurgiã vascular, Dra. Aline Lamaita é membro da diretoria (comissão de marketing) da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). Membro da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia, do American College of Phlebology, e do American College of Lifestyle Medicine, a médica é formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (2000) e hoje dedica a maior parte do seu tempo à Flebologia (estudo das veias). Curso de Lifestyle Medicine pela Universidade de Harvard (2018). A médica possui título de especialista em Cirurgia Vascular pela Associação Médica Brasileira / Conselho Federal de Medicina. RQE 26557 http://www.alinelamaita.com.br/

*DR. JULIANO BURCKHARDT: Médico Cardiologista, Geriatra e Nutrólogo, membro Titular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Especialista também em Clínica Médica, Medicina de Urgência e Ergometria. É membro da American Heart Association e da International Colleges for Advancement of Nutrology. Mestrando pela Universidade Católica Portuguesa, em Portugal. Atua como docente e palestrante nas suas especialidades na graduação e pós-graduação. É diretor médico do V’naia Institute. Diretor Científico Brasil da European Academy of Personalized Medicine. Membro do Corpo Clínico do Hospital Sírio Libanês.

Editora Viva Saúde