Desde os primeiros casos confirmados de Covid-19, todos nós sofremos uma série de mudanças em nossas rotinas, sendo forçados a adotar hábitos que até então não eram realizados, lidar com novas emoções e nos acostumar com uma realidade diferente de tudo que já tínhamos experimentado até então. Nesse cenário, praticamente todos os setores da sociedade foram impactados. Mas talvez as maiores mudanças tenham ocorrido no setor da saúde. E não apenas na rotina de profissionais e estabelecimentos dessa área, mas também na forma como a população geral enxerga e cuida da saúde do próprio organismo. Por exemplo, o aumento no número de pesquisas e estudos fez com que entendêssemos alguns aspectos e funções do organismo sob um novo olhar. Além disso, a iminência constante do vírus combinada ao período de isolamento social estimulou a adoção de novos hábitos para contribuir com a manutenção da saúde e prevenção de doenças.
Então, para fazer um balanço das mudanças que experimentamos com relação a saúde, consultamos um time de especialistas para apontar de que maneiras a pandemia influenciou a forma que entendemos e cuidamos do nosso organismo.
Confira:
Gerenciamento do estresse nunca foi tão importante
Devido ao crescimento da ansiedade e do estresse na pandemia, passamos a dar muito mais importância à saúde mental, investindo em medidas que auxiliam no controle dessas emoções, que podem causar sérios danos ao organismo. “Na pandemia, mais do que nunca, nos percebemos apreensivos e ansiosos com o presente e futuro próximo, o que acabou fazendo com que muitos realizassem hábitos e funções no piloto automático, com a cabeça permanecendo sempre ligada e alerta, o que acaba gerando ainda mais estresse. Por isso, gerenciar o estresse e adotar cuidados para manter a sanidade mental tornou-se fundamental para diminuir a incidência de problemas psicológicos e evitar que o sistema imunológico seja afetado”, explica a cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. Nesse cenário, medidas de relaxamento, como a meditação e o mindfulness, hábitos prazerosos, incluindo cozinhar e ler, e pausas durante o trabalho foram adotadas por grande parte das pessoas para evitar desestressar e evitar complicações.
O autocuidado se tornou praxe
Nunca se falou tanto em saúde, o que também inclui o autocuidado. E, em casa, tivemos mais tempo para realizar esses hábitos. “Na pandemia, as pessoas alocaram recursos e tempo para cuidar de si mesmas, priorizando coisas que eram deixadas de lado até então”, diz dermatologista Dra. Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Muitas pessoas apostaram, por exemplo, na realização da rotina de cuidados com a pele para relaxar e se manter bem nesses tempos difíceis. “Por meio do cuidado com a pele somos capazes de nos conhecer melhor, aumentar nossa autoestima e bem-estar e ainda diminuir o estresse e a pressão do dia a dia”, diz a médica. Esse foi um cuidado adotado por muitos, pois não é preciso ir longe para estabelecer uma rotina de cuidados com a pele. “O método conhecido como skip-care, por exemplo, já é um ótimo começo, consistindo na utilização de apenas três produtos que vão manter sua pele bem cuidada: um sabonete de limpeza, um hidratante e um filtro solar (usados nessa ordem)”, completa.
A saúde oral ganhou mais atenção
Durante a pandemia, aprendemos na prática o impacto que a cavidade oral possui na saúde do organismo como um todo, já que, quando em desequilibro, pode favorecer o surgimento de doenças periodontais que, por sua vez, agravam doenças sistêmicas, inclusive relacionadas a quadros graves de Covid-19. “Isso porque gengivas inflamadas e problemas periodontais podem provocar a liberação de mediadores inflamatórios na corrente sanguínea, causando uma série de danos. Por exemplo, podem se alojar em lesões pré-existentes nas artérias do corpo e acelerar a formação de placas que colocam em risco a saúde cardiovascular”, explica o Dr. Hugo Lewgoy, cirurgião-dentista e doutor em Odontologia pela USP. “A doença gengival também possui influência negativa sobre o controle glicêmico, contribuindo assim para a dificuldade no controle da glicemia e, consequentemente, para a diabetes”, completa o Dr Hugo.
Entendemos melhor o papel da genética
O Coronavírus mostrou que a genética, que por muitos ainda era enxergada simplesmente como a transmissão hereditária de características físicas e a tendência de desenvolvermos doenças de cunho genético, influencia nossa saúde de diversas outras formas, inclusive afetando a gravidade de doenças que não são hereditárias, como é o caso da Covid-19. “A maior expressão de alguns genes pode favorecer a infecção pelo Sars-Cov-2 e sua replicação rápida, levando a um quadro inflamatório grave”, diz o geneticista Dr. Marcelo Sady, Pós-Doutor em Genética, que explica que existem vários genes que influenciam nessa questão, como o ACE2, TMPRSS2 e FURIN, que codificam enzimas com o mesmo nome. “Tais enzimas são fundamentais para a nossa saúde, porém, elas possuem uma grande desvantagem: facilitam a entrada de vírus nas células. Existem variantes genéticas que podem tornar esses genes mais expressivos e, assim, permitem a inserção do material genético dos vírus dentro da célula com mais facilidade, levando a maior carga viral. Isso pode aumentar a gravidade de qualquer doença, contribuindo inclusive para um risco maior da Covid-19 ser mais grave”, afirma o geneticista. Nesse cenário, os testes genéticos ganharam atenção, já que, através da análise das variantes genéticas, são capazes de dizer se você está mais protegido ou vulnerável ao vírus e as suas complicações. “Os exames são feitos por geneticistas experientes e o laudo é elaborado da forma mais completa possível com as informações atuais para que o médico avalie qual a melhor estratégia de prevenção para o paciente”, completa o especialista.
Percebemos como nosso organismo está interligado
A Covid-19 mostrou que não é porque uma doença possui um alvo específico que ela não vá afetar outras estruturas do corpo, podendo causar, inclusive, sequelas de longa duração, afinal, o bom funcionamento do organismo depende do trabalho coordenado de uma série de órgãos e sistemas. “Com relação a Covid-19, por exemplo, pessoas que tiveram a doença apresentaram o que vem sendo chamado de long covid, o que inclui, entre outras queixas, sequelas como perda da massa muscular, cansaço físico e emocional, falta de ar, alterações de paladar e olfato e disfunções circulatórias, que podem ter várias consequências, desde a formação de pequenos coágulos até a queda de cabelos”, explica a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia.
Atenção ao estilo de vida se tornou imprescindível
Não é novidade para ninguém que manter um estilo de vida saudável é indispensável, afinal, maus hábitos podem levar a uma série de doenças metabólicas, como obesidade, diabetes, hipertensão e até câncer, que figuram entre as principais causas de morte em todo mundo. Mas, com a pandemia, a importância da adoção de hábitos saudáveis se intensificou. “Hoje, mudar o estilo de vida se tornou prioritário, sobretudo em meio à pandemia de Covid-19, já que as comorbidades, como obesidade e diabetes, intensificam o grau de acometimento da doença”, explica a cirurgiã plástica Dra. Beatriz Lassance, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e da ISAPS (International Society of Aesthetic Plastic Surgery).
Essa maior busca por hábitos saudáveis durante a pandemia vai inclusive de encontro com uma tendência recente da área médica, que propõe uma maneira diferente de se enxergar o paciente: a Medicina do Estilo de Vida. “A Medicina do Estilo de Vida tem como finalidade cuidar do paciente de forma global, mudando seus hábitos para não apenas tratar, mas, principalmente, para prevenir doenças. Ou seja, a Medicina do Estilo de Vida é uma maneira de fornecer ao paciente ferramentas para a mudança de seus hábitos”, diz a cirurgiã plástica. De acordo com a Dra. Aline Lamaita, a Medicina do Estilo de Vida é baseada em seis pilares — alimentação, controle do stress, prática de atividade física, cessação do tabagismo, qualidade de sono e relações interpessoais — e é destinada a todas as faixas etárias. “E o melhor é que a Medicina do Estilo de Vida não atua apenas na prevenção das doenças, mas também no tratamento. Sabe-se que com mudanças de estilo de vida é possível não apenas prevenir, mas também reverter grande parte das doenças”, finaliza a médica.
FONTE:
*DRA. PAOLA POMERANTZEFF: Dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD), tem mais de 10 anos de atuação em Dermatologia Clínica. Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina Santo Amaro, a médica é especialista em Dermatologia pela Associação Médica Brasileira e pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, e participa periodicamente de Congressos, Jornadas e Simpósios nacionais e internacionais. http://www.drapaola.me/
*DRA. BEATRIZ LASSANCE: Cirurgiã Plástica formada na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e residência em cirurgia plástica na Faculdade de Medicina do ABC. Trabalhou no Onze Lieve Vrouwe Gusthuis – Amsterdam -NL e é Membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, da ISAPS (International Society of Aesthetic Plastic Surgery) e da American Society of Plastic Surgery. Além disso, é membro do American College of LifeStyle Medicine e do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida.
*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo.
*DRA. ALINE LAMAITA: Cirurgiã vascular, Dra. Aline Lamaita é membro da diretoria (comissão de marketing) da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). Membro da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia, do American College of Phlebology, e do American College of Lifestyle Medicine, a médica é formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (2000) e hoje dedica a maior parte do seu tempo à Flebologia (estudo das veias). Curso de Lifestyle Medicine pela Universidade de Harvard (2018). A médica possui título de especialista em Cirurgia Vascular pela Associação Médica Brasileira / Conselho Federal de Medicina. RQE 26557 http://www.alinelamaita.com.br/
*DR. MARCELO SADY: Pós-doutor em genética com foco em genética toxicológica e humana pela UNESP- Botucatu, o Dr. Marcelo Sady possui mais de 20 anos de experiência na área. Speaker, diretor Geral e Consultor Científico da Multigene, empresa especializada em análise genética e exames de genotipagem, o especialista é professor, orientador e palestrante. Autor de diversos artigos e trabalhos científicos publicados em periódicos especializados, o Dr. Marcelo Sady fez parte do Grupo de Pesquisa Toxigenômica e Nutrigenômica da FMB – Botucatu, além de coordenar e ministrar 19 cursos da Multigene nas áreas de genética toxicológica, genômica, biologia molecular, farmacogenômica e nutrigenômica.
*HUGO ROBERTO LEWGOY: Especialista, Mestre e Doutor pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo; Professor Colaborador do Instituto de Pesquisas Nucleares (IPEN) e do Mestrado Profissional em Biomateriais em Odontologia da Universidade Anhanguera (UNIAN); Pós-graduado em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP); Instrutor da filosofia individually Training Oral Prophylaxis (iTOP); Pós-graduado em Implantodontia pela Miami University e University of Berna; Membro do International Team of Implantology (ITI); Consultor Científico da Curaden Swiss.