Dependendo da sua idade e geração, você pode não se lembrar de uma época em que a paternidade solteira não era considerada uma escolha para as mulheres. Anos atrás, elas se tornavam mães solteiras devido ao divórcio, à morte de um cônjuge ou a uma gravidez acidental.
Hoje, no entanto, algumas mulheres pensam em engravidar e ter um filho sozinhas. Embora esse caminho seja cada vez mais comum e mais amplamente aceito do que no passado, decidir segui-lo pode ser solitário. Conversamos com o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana, para abordar algumas perguntas que envolvem o tema: o que está envolvido nessa escolha de gravidez por produção independente?
Monoparentalidade: caminhos e desafios para mulheres se tornem mães sem um parceiro
Segundo o Dr. Rodrigo Rosa, algumas pessoas no final dos 30 e início dos 40 anos que esperavam desfrutar da gravidez e da paternidade com alguém podem não ter encontrado o parceiro certo. “Eles podem se preocupar cada vez mais com o declínio da fertilidade, tornando o namoro mais estressante”, diz o médico.
Algumas mulheres podem até sentir-se pressionadas pela idade, de forma que todo primeiro encontro se torna uma entrevista para saber se o possível parceiro está interessado em casar e ter filhos. “Outra razão de mulheres decidirem pela gravidez de produção independente é por experimentarem inúmeros relacionamentos que falharam, o que faz com que decidam iniciar a jornada da maternidade por conta própria ao invés de esperarem encontrar o parceiro ideal para dividir a educação da criança”, comenta o médico.
“As mulheres que consideram a maternidade solteira precisam que quer ser mães. A maioria considera que estar grávida e ter um filho genético é uma prioridade. Por esse motivo, elas estão dispostas a considerar o tratamento de reprodução assistida”, diz o médico.
Como saber se posso realmente fazer isso sozinho(a)?
Ao fazer essa pergunta, as pessoas tendem a se concentrar em duas coisas: segurança financeira e apoio da família, amigos e comunidade. “Embora não seja necessário ser rico para ser pai ou mãe, criar uma criança é caro, e uma família monoparental é uma família de renda única. Nesse sentido, é importante sempre analisar sua renda, segurança no emprego, custos atuais e custos adicionais previstos para ver se a matemática funciona como você espera”, afirma o médico.
“Não surpreendentemente, as mães solteiras relatam que se sentem muito mais confiantes em seguir em frente se confirmarem da melhor maneira possível que não serão estressadas e sobrecarregadas financeiramente”, continua o especialista.
Por outro lado, confirmar a ajuda e o apoio de familiares e amigos pode ser mais complicado do que contabilizar suas finanças. “Enquanto algumas pessoas que exploram a paternidade solteira iniciam o processo verificando com as pessoas mais próximas, outras adiam contar à família e aos amigos até se sentirem seguras com seu plano. Há sempre o medo de que as pessoas com quem você se importa respondam negativamente”, explica o médico.
Quais são meus próximos passos?
O primeiro passo é buscar por um especialista em reprodução humana para auxiliar a mulher nesse processo, que se inicia com a busca por um doador de sêmen. “A doação do sêmen é intermediada por bancos do material que garantem o anonimato do doador e da receptora. No entanto, a mulher pode participar ativamente desse processo através da seleção de características específicas do doador do sêmen, como altura, cor dos olhos e cabelos, etnia, entre outros”, afirma o Dr. Rodrigo.
“Pode parecer estranho entrar em contato com um médico especializado em infertilidade quando não há evidências de que você é infértil. É importante saber que as clínicas de infertilidade tratam um grande número de mulheres cuja única questão é a necessidade de espermatozoides. O médico poderá orientá-la um pouco na sua tomada de decisão em relação ao seu doador”, explica o especialista.
O que é feito depois? Como funciona o procedimento?
Após a doação do sêmen, existem duas técnicas que garantem a fecundação do óvulo: a inseminação artificial e a fertilização in vitro. “A inseminação artificial, também conhecida como inseminação intrauterina, consiste, basicamente, na inserção do espermatozoide doado na cavidade do útero durante o período de ovulação da mulher para que a fecundação ocorra naturalmente, sendo que, em alguns casos, é necessário que a ovulação seja previamente estimulada por tratamento medicamentoso”, diz o médico
“Já a fertilização in vitro inicia-se com a indução medicamentosa da ovulação para que os óvulos sejam coletados e fecundados em laboratório. Em seguida, o embrião é reposicionado no interior do útero. Por esse motivo, a fertilização in vitro é a opção ideal para mulheres que sofrem de alguma condição que impeça a fecundação, como a obstrução das trompas uterinas, ou que não ovulam mais, seja devido à idade ou alguma doença pré-existente, já que os óvulos também podem ser obtidos através da doação”, destaca.
No geral, após 14 dias do procedimento já é possível realizar o exame para confirmar o sucesso da gravidez. A partir desse momento, a gestação prossegue normalmente, com as consultas e exames pré-natais convencionais. “Com alta taxas de sucesso, a gravidez por produção independente é especialmente indicada para homens e mulheres solteiras que desejam ter filhos, independentemente de serem inférteis, e casais homoafetivos”, aponta o especialista.
Só mulheres podem ter filhos sozinhas?
Segundo o médico, é importante ressaltar que, apesar de menos comum, a produção independente também pode ser realizada por homens, sendo que, nesse caso, o homem fornece o sêmen e a doação anônima do óvulo é necessária, assim como a busca por uma barriga solidária, ou seja, uma mulher disposta a gestar o bebê.
Que outros especialistas devo consultar?
“É importante ressaltar que a decisão de optar pela produção independente deve ser muito bem pensada e discutida com um especialista em reprodução humana e um psicólogo”, diz o médico. “Isso porque, além da maternidade ser uma tarefa difícil que, nesse caso, deverá ser enfrentada sozinha, a gravidez por produção independente ainda é alvo de grande preconceito por parte da família, amigos e sociedade, o que pode causar um grande impacto na saúde mental da mulher”, finaliza.
FONTE:
*DR. RODRIGO ROSA: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.