Múltiplos fatores impactam a fisiopatologia da acne, incluindo influências genéticas, hormonais, inflamatórias e ambientais, sabia?
E, por causa de suas implicações em muitos desses fatores, a dieta faz parte da discussão sobre acne há décadas, como mostrou a extensa revisão Effects of Diet on Acne and Its Response to Treatment, publicada no ano passado no American Journal of Clinical Dermatology.
“Vários estudos avaliaram a significância do índice glicêmico de vários alimentos e da carga glicêmica em pacientes com acne, demonstrando que indivíduos com acne que consomem dietas com baixa carga glicêmica apresentam lesões acneicas reduzidas em comparação com indivíduos em dietas de alta carga glicêmica. Os laticínios também têm sido um foco de estudo em relação às influências dietéticas sobre a acne; as proteínas do soro do leite, responsáveis pelos efeitos insulinotrópicos do leite, podem contribuir mais para o desenvolvimento da acne do que o conteúdo real de gordura ou laticínios”, explicou o médico nutrólogo Dr. Juliano Burckhardt.
+++ Posso doar após tomar a vacina da Covid-19? Especialista responde dúvidas sobre a doação de sangue em tempos de pandemia
+++ Variante Lambda: saiba porquê a capa que circula na América do Sul está preocupando a OMS
Outros estudos examinaram os efeitos do consumo de ômega-3 em indivíduos com acne, mostrando que esses pacientes se beneficiam de dietas compostas de peixes e óleos saudáveis. “Pesquisas recentes sobre os efeitos da administração de probióticos em indivíduos com acne apresentam resultados promissores, incluindo uma melhora expressiva na resposta do tratamento tópico”, destacou o nutrólogo.
Segundo o médico, as dietas cetogênicas, aquelas que dependem de uma redução dos carboidratos e do aumento do consumo de gordura e proteína, fazem com que o corpo forneça energia de cetonas em vez de glicose. “Foi demonstrado em estudos que as dietas cetogênicas reduzem os marcadores de inflamação e os níveis de IGF-1, um marcador que aumenta a produção de hormônios ligados à inflamação”, explicou o Dr. Juliano.
Com relação aos laticícios, o leite tem um índice de insulina muito alto, independentemente do conteúdo de gordura (integral, semi ou desnatado). “Em comparação, o queijo tem um baixo índice de insulina, enquanto o sorvete tem um alto índice de insulina devido ao açúcar adicionado”, explicou.
Quanto às gorduras, é necessário diferenciar as insaturadas das saturadas e das trans. Enquanto as primeiras, disponíveis nos peixes, no abacate, no azeite de oliva, diminuem os sinais de inflamação que pioram a acne, as gorduras saturadas (óleo de palma, carnes vermelhas e leite) e trans (margarina, biscoitos, sorvete) são associadas ao aumento da gravidade da oleosidade, da inflamação e do quadro de acne.
“O ômega 3 está relacionado à melhora da acne no geral, diminuindo a produção exacerbada de oleosidade e a inflamação”, disse o médico.
No caso das dietas veganas e vegetarianas, os estudos não detalharam o conteúdo da alimentação. “Uma dieta rica em antioxidantes ajuda a controlar a produção de sebo e pode auxiliar no controle da oleosidade da pele. Apesar do potencial anti-inflamatório e antioxidante pelo consumo de folhas, verduras, frutas, legumes e grãos integrais, esse tipo de dieta também deve ser dosado quanto ao índice glicêmico para evitar a piora da oleosidade”, contou o Dr. Juliano.
Um dos mais promissores tratamentos para a acne é relacionado ao consumo de alimentos probióticos. “A microbiota intestinal também tem sido implicada na fisiopatologia da acne. Tanto na acne vulgar quanto na disbiose intestinal foi observada expressão aumentada da substância P, que pode desencadear um aumento nos mediadores pró-inflamatórios, que influenciam no desenvolvimento e piora do quadro de acne”, disse o médico.
“Além disso, o uso de antibióticos orais, indicações comuns no quadro de acne, pode interferir na microbiota, por isso os probióticos podem ser suplementados para diminuição da inflamação intestinal”, explicou.
Ainda com relação à suplementação, vários estudos descobriram que o tratamento com sulfato de zinco oral resultou em um número ligeiramente reduzido na gravidade das lesões de acne.
“A principal ação do zinco é com relação à diminuição da produção de sebo, um dos principais desencadeadores da acne, inibindo a enzima 5-alfa-redutase, responsável pela conversão de testosterona em di-hidroxitestosterona”, explicou o médico nutrólogo.
“Apesar de a alimentação ser um fator importantíssimo para a manutenção da saúde e da oleosidade cutânea em equilíbrio, outros fatores e disfunções também podem ser a causa. Por isso, a situação em muitos casos necessita de avaliação e tratamento médico para que volte à normalidade”, finalizou o médico.
DR. JULIANO BURCKHARDT: Médico Nutrólogo e Cardiologista, membro Titular da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) e da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). É membro da American Heart Association e da International Colleges for Advancement of Nutrology. Mestrando pela Universidade Católica Portuguesa, em Portugal, atuou e atua como docente e palestrante nas suas especialidades na graduação e pós-graduação. O médico tem certificação Internacional pela Harvard Medical School, para tratamento da Obesidade. É diretor médico do V’naia Institute.