Mudanças nos rótulos de alimentos industrializados passam a valer em 9 de outubro; nutricionista Thaisa Leal explica
Mudança aprovada pela Anvisa começa a valer em outubro e obriga produtos que possuem excesso de açúcares, sódio e gorduras a identificarem o risco através de um selo de lupa na parte frontal da embalagem
Você já parou para ler as letras minúsculas atrás das embalagens dos alimentos que compra no supermercado? Se sim, conseguiu entender o que aqueles nomes científicos complexos e números significam? Se a resposta for não, você não está sozinho. A maioria das pessoas não entende ou até mesmo não lê os rótulos. Essa atitude pode ser extremamente perigosa para a saúde da população, uma vez que muitos alimentos industrializados possuem excesso de sódio, gorduras e açúcares. A ingestão desses ingredientes, sem equilíbrio, pode acarretar em inúmeras doenças.
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Além disso, alguns podem enganar o consumidor, aparentando serem saudáveis, quando, na verdade, ainda assim contêm números excessivos de ingredientes prejudiciais. Pensando em promover uma maior saudabilidade da população, a partir do dia 09 de outubro, todas as embalagens de alimentos industrializados deverão contar com a chamada “lupa” – nome dado para a simplificação do rótulo nutricional na parte da frente das embalagens (FoP, Front-of-package, do nome técnico).
Novos rótulos em alimentos industrializados: mudanças e objetivos para saudabilidade
A proposta aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 2020 é baseada em diversos debates com especialistas e consultas públicas que vêm acontecendo há dois anos. Através da “lupa”, os alimentos que possuírem excesso de açúcares, sódio e gorduras saturadas em sua composição deverão conter um selo expondo essa informação de forma clara na parte frontal da embalagem. A partir da aprovação do projeto, todas as empresas da indústria alimentícia tiveram dois anos para realizar as mudanças propostas nas embalagens para que, em outubro deste ano, todos os produtos já estejam adaptados.
“Isso é muito importante para trazer mais consciência de consumo para o público. Essa norma tem um impacto de longo prazo na saúde da população, porque a partir dela as pessoas poderão ter mais acesso à informação de forma clara”, avalia a nutricionista Thaisa Leal.
Embalagens de alimentos devem mudar e deixar a informação mais fácil de ser encontrada
Outro ponto que a nova norma também trará com obrigatoriedade para as embalagens é a padronização das cores da tabela nutricional. A Lupa define que a tabela tenha fundo branco e letras pretas, além de uma linguagem clara sobre o conteúdo dos produtos. “Isso é muito importante porque você consegue enxergar de fato o que contém no produto e entender o que está comendo. Além disso, a marca se torna também mais transparente com o consumidor”, explica a profissional.
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A lupa pretende, ainda, minimizar os enganos das ilustrações de marketing estampadas nas embalagens dos produtos. Fotos de frutas brilhantes e perfeitas e de cereais que remetem um produto rico em fibras e super saudável, além das palavras que nos conotam produtos saudáveis como ¨natural¨ ou ¨assado¨, mas muitas vezes têm baixíssimo teor de frutas e cereais e são ricos em açúcar e outros aditivos ruins. Tudo isso pode ser classificado como “palavras e figuras mágicas”, como avalia a nutricionista.
“Essas coisas fazem com que as pessoas imediatamente relacionem o produto com algo saudável e acabam nem lendo a lista de ingredientes. Então um produto que tem esse apelo de marketing saudável, mas que na verdade não é. E que tem, na verdade, altos teores de açúcar e gordura, será desmascarado pela Lupa”, aponta Leal.
Aumento da obesidade e doenças cardiovasculares no Brasil
A nutricionista ainda explica que a aplicação dessa nova norma pode ser consequência do aumento da obesidade – fator de risco da principal causa de mortes no mundo: doenças cardiovasculares. “A obesidade já virou uma epidemia. Segundo o relatório Global Health Estimates, divulgado pela OMS, 8 das 10 das principais causas de morte no Brasil são doenças crônicas não transmissíveis, que são aquelas que adquirimos pelos nossos hábitos ruins – diabetes, hipertensão, alguns tipos de câncer, etc.”
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A Lupa também tem provocações econômicas, além da saúde pública.
Dados do segundo volume da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, indicam que 61,7% da população adulta brasileira tem excesso de peso. Segundo a Federação Internacional de Diabetes (IFD, na sigla em inglês), o Brasil é o 6º país que mais gasta com diabetes no mundo. Em 2021 o custo estimado do diabetes no Brasil foi de 42,9 bilhões de dólares, ficando atrás apenas da China e Estados Unidos, com US$ 165,3 bi e US$ 379,5 bi, respectivamente. “É caro ficar doente. Primeiro, caro para a sua qualidade de vida. Uma coisa é viver e outra sobreviver. Queremos estar vivos, mas bem, ou sofrendo com problemas de saúde?”, pondera Thaisa Leal.
Thaisa Leal é nutricionista formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e pós-graduanda em Neurociência comportamental. A especialista busca a democratização da informação sobre a alimentação saudável. Sua intenção é passar informações que parecem difíceis, de forma descontraída e de fácil entendimento e na linguagem do público. Para isso, a especialista criou um canal no Youtube, além de lançar dois e-books, com conteúdos que mostram que ser saudável pode ser muito mais gostoso, fácil e barato do que se imagina.
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