Imunoterapia: tratamento contra câncer de pele melanoma pode ser potencializado com ingestão de fibras

Estudo indica que ingestão pode fazer diferença na imunoterapia, tratamento que combate o câncer

Imunoterapia: tratamento contra câncer de pele melanoma pode ser potencializado com ingestão de fibras – FREEPIK

Uma dieta rica em fibras pode ajudar o organismo de diversas formas, atuando na prevenção de doenças e, segundo um estudo recente, melhorando a resposta do tratamento do câncer de pele do tipo melanoma. “Esse é o tipo de câncer de pele mais mortal. Ele pode se espalhar para outras partes do corpo precocemente, quando as lesões ainda são muito pequenas”, explica a Dra. Patrícia Mafra, dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. O estudo mostrou que pacientes com melanoma recebendo imunoterapia, um tratamento que torna mais fácil para o sistema imunológico matar células cancerosas, respondem melhor à terapia quando suas dietas são ricas em fibras. O trabalho, resultado de uma grande colaboração internacional, foi publicado no final de dezembro na revista Science.

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“As fibras dietéticas e os probióticos têm relação direta com a saúde da microbiota intestinal que, por sua vez, tem influência na resposta terapêutica da imunoterapia, segundo diversos estudos. Isso por que muitas das células imunes, com uma atividade contínua, intensa e silenciosa, estão associadas ao intestino”, acrescenta a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, professora e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).

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MELANOMA É UM DOS CÂNCERES MAIS AGRESSIVOS POR CONTA DE METÁSTASES

Segundo as últimas projeções do INCA (Instituto Nacional de Câncer), em 2020 a estimativa de novos casos de melanoma no Brasil é de 8.450, sendo 4.200 homens e 4.250 mulheres (2020 – INCA). “Um dos cânceres mais agressivos, o melanoma mata muitas vezes por conta de metástases ou se espalhando para outros órgãos, como fígado, pulmões e cérebro”, diz a Dra. Patrícia.

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O estudo, liderado pela Universidade do Texas e pelo National Institutes of Health, estudou como os padrões alimentares podem estar relacionados com a melhora da resposta do tratamento desse tipo de câncer de pele. O trabalho se concentra em uma técnica terapêutica chamada bloqueio de ponto de verificação imunológico, muitas vezes referido por suas iniciais de ICB, que revolucionou o tratamento do melanoma e do câncer em geral. “A terapia com ICB depende de drogas inibidoras que bloqueiam proteínas chamadas checkpoints, que são produzidas por certas células do sistema imunológico – células T, por exemplo – e também por algumas células cancerosas”, explica a Dra. Patrícia. Os pontos de verificação ajudam a evitar que as respostas imunológicas sejam muito fortes, mas às vezes isso significa impedir que as células T matem as células cancerosas. Assim, quando os pontos de controle são bloqueados, as células T podem fazer um trabalho melhor de matar as células cancerosas. E aí entra a fibra: o estudo mostrou que a resposta terapêutica é melhor em pacientes que ingerem mais fibras.

IMUNOTERAPIA

Segundo a Dra. Marcella, o microbioma de uma pessoa é moldado por uma ampla gama de fatores ambientais, incluindo alimentos e medicamentos, enquanto a genética humana é responsável por uma proporção muito menor da variação do microbioma de pessoa para pessoa. “A microbiota intestinal humana é uma comunidade complexa de mais de 30 trilhões de células microbianas de cerca de 1.000 espécies bacterianas diferentes. Mais estudos ainda precisam confirmar se a ingestão de fibra alimentar e o uso de probióticos disponíveis no mercado afetam a resposta da imunoterapia em pacientes com câncer”, diz a médica nutróloga.

Neste estudo, os pesquisadores analisaram centenas de pacientes com melanoma, analisando seus microbiomas intestinais, hábitos alimentares, uso de fibras prebióticas, probióticos, características da doença e resultados do tratamento. Um estudo paralelo envolvendo ratos com implantes de tumores também fez parte da pesquisa. “Na porção humana do estudo, a maior ingestão de fibra alimentar foi associada à não progressão da doença entre os pacientes em imunoterapia; os benefícios mais pronunciados foram encontrados em pacientes com grande ingestão de fibra alimentar e sem uso de probióticos”, diz a Dra. Marcella.

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O modelo em ratos gerou resultados semelhantes. “Como os resultados humanos não poderiam atribuir causalidade – pela ocorrência de outras variáveis não medidas no estudo, assim os pesquisadores testaram também a tese em ratos. Os resultados nos animais apoiam a ideia de que a imunidade antitumoral é mais forte com uma dieta rica em fibras e sem probióticos”, diz a Dra. Patrícia.

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O que são fibras e como incluí-las na dieta

A fibra é um carboidrato não digerível no trato gastrointestinal superior e é disponível em duas formas: insolúvel (que ajuda você a se sentir satisfeito e estimula a o bom funcionamento do intestino) e solúvel (que além das funções de fibra alimentar, ajuda a reduzir o colesterol, o açúcar no sangue e ainda é substrato para o crescimento de bactérias benéficas da microbiota, com impactos positivos no sistema imune). Alimentos que contêm fibras geralmente apresentam uma mistura dos dois tipos, mas cereais integrais, grãos, vegetais, verduras folhosas, cascas de frutos e sementes contêm principalmente fibras insolúveis.

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“Boas fontes de fibras solúveis incluem cereais como cevada, aveia e arroz integral, leguminosa como feijão, ervilhas e lentilhas, sementes como chia, linhaça e nozes, vegetais, frutas como maçãs, bananas, frutas cítricas e peras”, diz a médica nutróloga. Os benefícios da fibra para a saúde – que incluem reduções no colesterol, pressão arterial e peso corporal – foram observados em níveis de consumo com pelo menos 25 a 29 gramas de fibra por dia, de acordo com estudos. O brasileiro médio consome apenas cerca de 10 a 15 gramas de fibra diariamente.

Melanoma: a importância do diagnóstico precoce

A prevenção ainda é o melhor método contra o melanoma e isso pode ser feito com o uso diário do protetor solar. Por ser extremamente agressivo, esse câncer de pele pode ser detectado por meio do autoexame da pele – quanto antes for diagnosticado, melhor o prognóstico; o melanoma é caracterizado por uma lesão que muda de forma, cor, tamanho, sangra ou desenvolve uma borda irregular. “Uma nova grande mancha marrom na pele, às vezes contendo manchas escuras salpicadas; um novo ponto na pele que muda de tamanho, forma ou cor; uma ferida que não cicatriza; tudo isso pode ser sintoma de um câncer melanoma”, diz a dermatologista.

Uma das formas de acelerar o diagnóstico do câncer de pele é por meio do autoexame do tecido cutâneo, utilizando principalmente a regra de manchas e lesões ABCDE (A de assimétrica, B de bordas irregulares, C de cores desiguais, D de diâmetro maior que 6 milímetros e E de evolução – quando crescem aceleradamente).

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“Basta alguns minutos, uma vez por mês, de preferência com luz natural, de frente para o espelho para verificar alguma mudança na pele, com relação às manchas, pintas e lesões. Normalmente, surge uma ferida pequena com casquinha que sangra facilmente. Consideramos que essa é a primeira etapa do problema, onde o próprio paciente pode pesquisar. Além disso, se a ferida for maior que seis milímetros, se houver coloração dupla ou tripla e se não cicatrizar em quatro semanas, é fundamental procurar o médico imediatamente para obter um diagnóstico preciso e tratamento adequado que, normalmente, é cirúrgico para retirada total da lesão e deve ser realizado o mais precocemente possível”, finaliza a dermatologista Dra. Patrícia Mafra.


FONTE:

*DRA. PATRÍCIA MAFRA: Dermatologista, membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Graduada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCM-MG), com estágio em Dermatologia pelo Grupo Santa Casa e acompanhamento do Serviço de Ginecologia e Sexologia do Hospital Mater Dei, Dra. Patrícia Mafra é expert em injetáveis e speaker em eventos nacionais e internacionais, palestrando sobre temas ligados à área de atuação. A dermatologista também foi preceptora de Medicina Estética do Instituto Superior de Medicina (ISMD).

*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento.

Editora Viva Saúde