Variantes genéticas podem predizer quadros graves de Covid-19, diz estudo

Estudo publicado no último dia 3 na Revista Nature traz dados que apontam o caso

Variantes genéticas podem predizer quadros graves de Covid-19 – Freepik

O novo estudo Immune complement and coagulation dysfunction in adverse outcomes of SARS-CoV-2 infection, publicado na Revista Nature no último dia 3 de agosto, destaca que variantes genéticas de genes que atuam no sistema complemento do sistema imunológico e da coagulação sanguínea podem ajudar a predizer quadros mais graves de Covid-19.

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“As taxas de mortalidade e de casos graves associadas à infecção, parecem ser impulsionadas pela replicação viral e comorbidades que influenciam a patologia. Existem evidências de que a severidade dos casos tem relação com algumas condições pré-existentes e também fatores genéticos. Variantes genéticas, como comprovado pelo estudo, podem favorecer a infecção pelo Sars-Cov-2 e sua replicação rápida, levando a um quadro inflamatório grave”, afirma o geneticista Dr. Marcelo Sady, Pós-Doutor em Genética e diretor geral da Multigene, laboratório especializado em análise genética e exames de genotipagem.

“O sistema complemento é responsável por sinalizar e ativar a resposta inflamatória do corpo contra microrganismos invasores. Uma maior expressão de genes envolvidos no sistema pode fazer com que essa resposta seja mais acentuada, o que leva à tempestade de citocinas (mensageiros pró-inflamatórios) e, consequentemente, a uma inflamação generalizada”, acrescenta. Já o risco maior de coagulação está associado à trombose generalizada, que é um fator que favorece casos mais graves e morte dos pacientes.

ESTUDO

O estudo observacional verificou que dos 11.000 pacientes com Covid-19 avaliados, 25% apresentaram degeneração macular relacionada à idade, que está associada a uma maior atividade do sistema complemento, e faleceram, comparado com uma taxa de mortalidade média de 8.5%, e aproximadamente 20% precisaram de intubação. “Segundo os autores, o sistema complemento também é mais ativo na obesidade e diabetes, e pode ajudar a explicar porque pessoas com essas condições também têm maior risco de mortalidade devido à doença Covid-19. Evidências obtidas da análise genética de milhares de pacientes do Biobank do Reino Unido sugerem que a gravidade da Covid-19 está associada à coagulação e ao sistema complemento e que algumas variantes genéticas influenciam a atividade desses sistemas e podem ser utilizadas para predizer o risco de quadros mais graves da Covid-19 que precisem de hospitalização”, afirma o geneticista.

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No estudo, os autores avaliaram o perfil transcricional da aspiração nasofaríngea, o que demonstrou respostas inflamatórias acentuadas de Interleucina-1 e da interleucina-6. “Essa infecção resulta em engajamento robusto das vias do complemento e da coagulação. Foi feita uma associação genética de pacientes com a doença grave de infecção por Sars-Cov-2 e foram observadas variantes genéticas dos genes eQTL e sQTL, reguladores críticos do sistema complemento e de coagulação”, diz o geneticista.

Além de fornecer evidências de que a função do complemento modula o resultado da infecção por Sars-Cov-2, os dados do estudo apontam para marcadores genéticos de suscetibilidade. “Essas variantes genéticas necessariamente irão determinar o grau de risco alto do paciente”, explica o geneticista.

Outros genes – Quando pensamos em termos de genética, existem relatos de vários genes envolvidos na suscetibilidade genética à Covid-19. Até agora, a ciência avançou mais no estudo de um gene específico: ACE2. “Ele é o mais discutido. Sua função é codificar a enzima em um processo que culmina com a vasodilatação. Mas essa ACE2 fica na membrana de algumas células, como as do pulmão, mucosa nasal e do intestino. Sabemos que o Sars-Cov-2 tem uma espícula, que consegue se ligar à ACE2 e isso vai facilitar a fixação do vírus nas células do pulmão”.

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“Existem duas enzimas do próprio indivíduo, que são a TPMRSS2 e a furina. Elas são capazes de clivar várias de nossas proteínas normais, mas também são capazes de clivar glicoproteínas do vírus. Isso vai facilitar a fusão da membrana do vírus com a membrana da célula”, afirma o geneticista.

E é assim que o vírus consegue introduzir o material genético nas células. “A partir do momento em que ele introduz o material genético dele, que é o RNA, ele vai usar toda o maquinário da própria célula para se replicar. Diante da presença do vírus na célula, existe uma resposta inflamatória, que pode ser exagerada. Isso leva a uma tempestade de citocinas, que acaba destruindo as células do hospedeiro e acaba sendo sistêmica: afeta pulmão, intestino e outros órgãos”, diz o especialista.

Qual é, afinal, a influência genética? “Se você tem o gene ACE2, que tem variantes genéticas, alelos, que levam a maior expressão dele mesmo, você terá mais ACE2 nas membranas das células (pulmão, nasal e intestino) e isso vai facilitar a ligação com o vírus  Sars-Cov-2, aumentando a taxa de infecção e a carga viral desse indivíduo. Quanto mais vírus conseguirem introduzir o seu material genético, maior o risco desse indivíduo apresentar um quadro mais grave”, afirma.

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Em relação à resposta inflamatória e à tempestade de citocinas, esses mensageiros pró-inflamatórios são codificados por genes, por exemplo: a interleucina-6, a TNF-alfa, da interleucina-1 beta. “Eles são pró-inflamatórios, e você tem alelos que levam a uma inflamação maior ainda. Então, nós temos uma situação em que devido à presença do vírus, já podemos enfrentar uma tempestade inflamatória, mas ela pode ser mais intensa ainda por causa desses alelos. Isso leva a problemas respiratórios, de circulação e sistêmicos, porque essa inflamação aumenta o risco de trombose. Se você tiver alelos de genes que estão associados com o aumento de risco de trombose, consequentemente pode apresentar um maior risco de trombofilias generalizadas e risco maior de quadros graves de covid-19”, finaliza o especialista.

De acordo com o geneticista, estudo como esses são importantes para entender melhor a ação do vírus de acordo com as variações genéticas dos genes, o que pode facilitar o uso de medicamentos para o tratamento e prevenir casos graves.


FONTES:

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DR. MARCELO SADY: Pós-doutor em genética com foco em genética toxicológica e humana pela UNESP- Botucatu, o Dr. Marcelo Sady possui mais de 20 anos de experiência na área. Speaker, diretor Geral e Consultor Científico da Multigene, empresa especializada em análise genética e exames de genotipagem, o especialista é professor, orientador e palestrante. Autor de diversos artigos e trabalhos científicos publicados em periódicos especializados, o Dr. Marcelo Sady fez parte do Grupo de Pesquisa Toxigenômica e Nutrigenômica da FMB – Botucatu, além de coordenar e ministrar 19 cursos da Multigene nas áreas de genética toxicológica, genômica, biologia molecular, farmacogenômica e nutrigenômica.

Editora Viva Saúde