Morte de Tom Parker levanta dúvida: tumor cerebral pode ser curado?

Após luta incansável contra um câncer no cérebro, o cantor Tom Parker morreu nesta segunda-feira, 30, e discussão sobre a doença surgiu na internet

Morte de Tom Parker levanta dúvida: tumor cerebral pode ser curado? – Reprodução/ Instagram

 A morte do cantor britânico Tom Parker, da boy band The Wanted, nesta quarta-feira, 30, após uma luta incansável contra um tumor no cérebro que não era possível ser tratado com cirurgia, confirma que não há doença mais devastadora que o câncer – e quando ele atinge o cérebro, pior ainda.

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Nesse caso, a idade pouco importa: crianças, adolescentes, jovens e idosos sofrem da mesma maneira. “Existe, realmente, um grande alarde quando a palavra câncer é solta em uma conversa, e isso faz com que muitos considerem até a usar outras palavras para nomear a doença. O fato de o cérebro assustar muito vem do fato de que ele é um órgão muito nobre (na verdade, junto do coração, nosso órgão mais nobre), e danos no cérebro significam sequelas para pacientes jovens ou idosos”, explica o Dr. Gabriel Novaes de Rezende Batistella, médico neurologista e neuro-oncologista do HCor, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA). No geral, o prognóstico não é bom.

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TUMOR NO CÉREBRO PODE SER CURADO?

“Pacientes podem, sim, ser curados de alguns tumores, mas para a maioria dos tumores diagnosticados em adultos, a cura não é possível no momento, justamente por serem tumores infiltrativos. A forma mais simples de explicar isso é tentando mostrar que o tumor no cérebro parece uma geleia grudenta, e não uma massa sólida esférica, logo mesmo com a melhor remoção cirúrgica, alguma célula estará escondida e pode retornar a crescer. Isso justifica o fato de tratarmos dessa doença como algo crônico, e nunca podemos tirar os olhos do paciente”, acrescenta o neuro-oncologista.

Segundo o especialista, as chances de cura nem sempre são maiores com o diagnóstico precoce. “Isso acontece, pois não estamos lidando com tumores curáveis, mas com certeza quanto antes descobrirmos o tumor melhor, por facilitar a cirurgia, evitar que o tumor infiltre áreas importantes do cérebro e, também, reduzir a dose de radioterapia que o paciente irá receber no início do tratamento. Mas, até o momento, não existem recomendações a nível populacional para rastrear tumores cerebrais, apenas para rastrear tumores metastáticos que chegam até ele (como alguns tumores de pulmão e de pele)”, diz o médico.

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No entanto, apesar do susto, o médico esclarece que alguns tumores têm melhor prognóstico e mesmo aqueles famosos por serem agressivos podem ter mutações genéticas que levam a esse melhor prognóstico. “Hoje buscamos saber mais sobre os tumores cerebrais e o seu DNA, e não somente pela ressonância e pelo microscópio. Através disso, conseguimos não só cogitar um melhor prognóstico, mas também levantar possíveis estratégias terapêuticas em casos selecionados”, conta o Dr. Gabriel.

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PARA VENCER A DOENÇA

Quanto às técnicas para vencer a doença, nos casos dos tumores cerebrais curáveis, a melhor estratégia, segundo o médico, seria a melhor neurocirurgia possível. “Nestes casos recomendamos sempre que o paciente busque um grande centro médico com neurocirurgiões oncológicos especialistas. Todo paciente com tumor cerebral, seja ele benigno ou maligno, deveria ser encaminhado para um grande centro médico especializado em tumores cerebrais”, diz. Dependendo do caso, quimioterapia, radioterapia e imunoterapia também podem ser indicados.

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Segundo o Dr. Gabriel, para a maioria dos tumores cerebrais, que são incuráveis, é possível ainda assim ficar anos sem alterações e manter apenas um acompanhamento por ressonância magnética do crânio. “Geralmente começamos este acompanhamento realizando ressonância a cada três meses durante dois anos, seguido de exames semestrais até cinco anos de acompanhamento, quando passamos a fazer todos os anos por tempo indeterminado. Isto varia a cada caso, é claro, e somente em uma consulta neuro-oncológica ou oncológica, podemos efetivamente estabelecer o tempo de acompanhamento”, diz.

Por fim, o médico lembra que alguns pacientes podem se sentir ansiosos ou “assombrados” com a possibilidade da volta do tumor após o tratamento. “Gosto muito de salientar que podemos criar uma estratégia de acompanhamento segura, com ressonância e exames neurológicos, mesmo anos após o tratamento final. Acompanhamento psicológico, na verdade, deve ser ofertado desde o diagnóstico, para preparar o paciente e acompanhar todas as fases do tratamento, não só após o término. Quanto antes colocarmos o paciente em um meio multidisciplinar, melhor será o tratamento em todas as fases”, finaliza o Dr. Gabriel.


FONTE:

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*DR. GABRIEL NOVAES DE REZENDE BATISTELLA: Médico neurologista e neuro-oncologista, membro do corpo diretivo da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA). Formado em Neurologia e Neuro-oncologia pela Escola Paulista de Medicina da UNIFESP, hoje é assistente de Neuro-Oncologia Clínica na mesma instituição e Neuro-Oncologista do Hcor. Instagram: @neuro.oncologia.batistella

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