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Especialista fala sobre questão da vacinação do Brasil e analisa erros e acertos no combate à COVID-19

O Brasil é um dos países mais afetados e muitas ações entraram em questionamento

Vacina Covid-19 – Pixabay

O Brasil, neste dia 14 de janeiro, está com mais de 8 milhões e 250 mil casos confirmados, além de 206 mil mortes.

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A pandemia, que chegou no país definitivamente em março de 2020, trouxe dabates para o público que nunca haviam sidos discutidos antes, tanto que o período, ainda esperado, do “pós-pandemia”, já era chamado de “novo normal”.

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Mesmo o Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, prometendo o início da vacinação para o dia 20 de janeiro, ainda pouco se sabe sobre como acontecerá, o que tem gerado alguns debates.

Entre eles, o mais recente é sobre a questão da importação e produção de seringas para um plano de vacinação nacional.

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Rodrigo Correia da Silva, CEO da Suprevida, é especialista em Regulação e em Relações Governamentais na área da Saúde, e analisou todo o tratamento do Brasil do coronavírus, além de falar sobre questões da corrida pela vacina e a questão das seringas.

No início, ele analisou alguns pontos importantes, principalmente no mundo: “Ao longo desses meses de pandemia, adquirimos muito conhecimento da doença, coisa que não tínhamos no início. Por isso, tiramos alguns aprendizados importantes. O mundo é totalmente interconectado e as doenças viajam rápido. Um monitoramento internacional de riscos é essencial, tomar medidas preventivas com base nessa análise de risco é mais ainda”.

A reação rápida, por mais dura que seja, reduz o impacto inicial e a curva de recuperação. Um lockdown mais agressivo no começo da pandemia poderia ter reduzido a extensão das restrições, que tem se mostrado cada vez mais difícil de sustentar. Desde dezembro (de 2019), haviam notícias do vírus e, somente após o carnaval, o assunto e o lockdown foram tratados no Brasil. Em um país continental, por um lado, a crise tem tempo e comportamentos diferentes em cada região; por outro, o compartilhamento de consequências é inevitável. Uma estratégia nacional, com decisões e ações locais, é mais eficaz“, completou.

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Depois, Rodrigo focou no Brasil: “Os sistemas de informação no Brasil são historicamente precários, e isso é pré-requisito para boas decisões e políticas públicas. Ficaram notórias as deficiências do sistema de saúde, que anteriormente não eram percebidas pela maioria da população. As condições prévias de saúde dos acometidos e a conduta de prevenção da infecção são importantes fatores nas probabilidades de óbito“.

ATRASO NA VACINA

Mesmo sendo um dos países mais afetados, o Brasil ainda não começou a vacinar a população, mesmo com economias mais frágeis que a tupiniquim já terem iniciado.

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A notícia, dada no início deste ano, de que o governo recusara propostas de farmacêuticas em agosto de 2020, não fora bem digerida e colocada como uma das principais causas do atraso.

Rodrigo refletiu sobre o assunto e sobre essa atraso em relação aos outros países: “Alguns fatores devem ser analisados além do atraso. Em muitos países, o início da vacinação foi para um número pequeno de pessoas, já que a população é muito menor do que no Brasil. Isso é um fator muito relevante. Acredito que, neste momento, a velocidade da imunização em percentual da população/mês é o mais importante a ser analisado, considerando as duas doses quando necessárias. Por outro lado, as vacinas, que foram aprovadas recentemente, utilizam tecnologias distintas, tem requisitos logísticos e preços diferentes. A estratégia de aquisição de cada País leva em consideração esses fatores, conforme suas condições locais e orçamento, além – é claro – da perspectiva de surgimento de soluções concorrentes“.

“Portanto, ao meu ver, o ponto principal é não haver clareza sobre a estratégia de aquisição e vacinação para o Brasil, tampouco a visibilidade das medidas preparatórias para o rápido desdobramento dessa estratégia”, concluiu.

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Outra discussão foi sobre a corrida, protagonizada pelos institutos brasileiros, o Butantã e a Fiocruz, que trabalhavam com farmacêuticas distintas, o que gerou certa “rivalidade” e politização.

Porém, Rodrigo analisou esse movimento. Ao ser perguntado se fora a medida mais acertada os principais laboratórios brasileiros trabalharem com vacinas diferentes, ele respondeu: “Sem sombra de dúvidas, em um cenário de incertezas, ter diversas opções em andamento é a melhor estratégia. Neste caso, a redundância é positiva. O pensamento contrário parte da premissa de que, no começo do processo, já se podia ter certeza da viabilidade de todas as alternativas que estavam sendo desenvolvidas”.

CRISE DAS SERINGAS

Como falamos, uma das dicussões sobre a vacinação do Brasil foi sobre as seringas. O Governo chegou a dizer que não tinha seringas o suficiente e que não conseguiria comprá-las, o que revoltou especialistas e autoridades.

Rodrigo analisou o que pode ser feito para que haja a matéria-prima, passando por diversos setores: “Temos produção local e um setor privado diversificado e responsável. Havendo o entendimento das condições excepcionais desta arrancada de produção e uma demanda organizada e realista por parte do poder público e dos serviços privados de saúde, temos condições de atender a demanda não apenas do início da vacinação, mas da sua realização como um todo“.

Ele ainda dissertou sobre a relação comercial, recém feita, com a Índia, para a importação de doses prontas, além de seringas e agulhas: “Qualquer fornecedor que apresente um produto seguro, eficaz e viável economicamente, após aprovação das autoridades sanitárias, é uma excelente alternativa. Quanto maior a oferta, melhor para atender a enorme demanda em  pouco tempo e também para aumentar a concorrência e propiciar melhores condições de aquisição“.

RETROSPECTO

Por fim, Rodrigo analisou como a pandemia, em um todo, e falou o que poderia ser feito: “Com erros e acertos, como se espera de decisões tomadas rapidamente e sem informações suficientes. Penso que poderíamos nos beneficiar de um espírito maior de colaboração de todos os atores. Ainda que ela esteja ocorrendo em níveis científicos e de operação, uma postura e política pública colaborativa daria mais tranquilidade para a população e para os setores produtivo e econômico nacionais e internacionais“.