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Como o estresse na pandemia se tornou um gatilho para as alterações metabólicas? Endocrinologista responde

Published 16/06/2021

Como o estresse na pandemia se tornou um gatilho para as alterações metabólicas? Endocrinologista responde - Foto de Andrew Neel no Pexels

As consequências da pandemia não se restringiram às crises sanitária, econômica, política e social. Na saúde, sem falar da própria Covid-19, tivemos uma série de complicações em decorrência da quarentena, especialmente em relação à saúde mental. Desde o início da pandemia, um dos sintomas mais prevalentes foi o estresse.

“As mudanças nos hábitos de vida e no comportamento impostas pela pandemia resultaram em muitas alterações psíquicas com piora e/ou surgimento de quadros de ansiedade/depressão, assim como alterações metabólicas e danos ao organismo como um todo”, afirma a Dra. Claudia Chang, pós doutora em endocrinologia e metabologia pela USP e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Estresse e as disfunções no sistema metabólico

Ainda que o estresse seja fundamental para a sobrevivência de um organismo, os efeitos dos principais mediadores induzidos pelo estresse agudo podem ter resultados bem negativos, como variações na pressão arterial, dores difusas pelo corpo e problemas gastrointestinais, afetando, inclusive, a saúde mental, podendo levar a ataques de pânico e depressão.

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“O estresse crônico causa um aumento de hormônios, como cortisol, adrenalina e noradrenalina. As consequências endócrinas do efeito aumentado dos glicocorticoides incluem ganho de peso com acúmulo de gordura visceral, o que contribui para alterações nos parâmetros que compõem a síndrome metabólica: dislipidemia (alterações de colesterol e/ou triglicérides), hipertensão arterial e diabetes tipo 2, que podem levar a doenças cardiovasculares”, explica Claudia Chang.

Excesso de comida: muleta para a mente

Em condições de estresse, angústia e distúrbios emocionais, a comida se torna uma “muleta”, ou refúgio. Alguns alimentos ativam o sistema límbico no cérebro, região envolvida com o mecanismo de “ganho e recompensa”. Por exemplo, ao comer doces, há uma diminuição momentânea da ansiedade. Este efeito acaba sendo registrado pelo cérebro como uma solução para combater o estresse.

“Toda vez que a pessoa estiver ansiosa, automaticamente haverá uma associação aos doces, como uma espécie de alívio e fuga do estado emocional. Além disso, o doce é muito palatável, fazendo com que a pessoa fique condicionada a ele nos momentos de tensão, já que o alimento não só proporciona uma sensação de prazer como diminui a ansiedade”, diz.

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No entanto, este suposto bem-estar acabará se transformando em ganho de peso. Segundo a especialista, o acúmulo de gordura corporal associado à redução da massa magra e ao emocional comprometido, contribui para o agravamento da resistência à insulina, um hormônio produzido pelo pâncreas que põe a glicose do sangue para “dentro” das células. Quando se está acima do peso ou com excesso de concentração de gordura na região abdominal, a insulina passa a ter dificuldade para agir, instalando-se assim um quadro de resistência. Para impedir esta resistência, o pâncreas passa a produzir mais insulina.

“Em suma, nestes tempos de estresse constante, quebra de rotina, falta de perspectiva e de controle sobre a situação, torna-se necessário estabelecer novos padrões de comportamento que auxiliem no processo de mudança para uma vida mais saudável. Se for preciso, busque ajuda de um especialista”, finaliza Claudia Chang.

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