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Cirurgia Bariátrica: Especialistas esclarecem fatos sobre ela e sobre o acesso pelo SUS!

A cirurgia já está consolidada no meio médico, mas poucas pessoas sabem como realmente funciona o procedimento e o que ele engloba (tanto no pré quanto no pós)

Cirurgia Bariátrica – Pixabay

“Cirurgia para emagrecer” ou “aquela que corta uma parte do estômago”… Provavelmente você já deve ter ouvido alguma dessas frases quando o assunto é cirurgia bariátrica.

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O procedimento está longe de ser algo único e exclusivamente estético, até porque, para ser aprovado, precisa do aval de vários médicos de inúmeras outras áreas da saúde.

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Além disso, mesmo sendo um procedimento consolidado na comunidade médica, pouquíssimas pessoas sabem como que funciona essa intervenção, quais são os passos a se seguir e, principalmente, em quais lugares se podem fazer a tal cirurgia (spoiler: Pode ser feita pelo SUS).

Para facilitar, vamos separar essa cirurgia em três pontos de vista, analisados por quatro áreas diferentes da comunidade médica, e explicar tudo sobre ela! Vale ressaltar que esses quatro observadores são, justamente, os profissionais que aprovarão ou não a intervenção no paciente.

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LADO PSICOLÓGICO

Com toda certeza, um dos lados mais importantes na decisão do procedimento. Com a sociedade impondo padrões de magreza cada vez mais inalcançáveis e tendo a imagem da pessoa gorda como um ser que só pensa em comida, o psicológico de muitas pessoas que estão em obesidade é afetado.

Um dos principais desfios dos profissionais é fazer com que a pessoa entenda o que a cirurgia, de fato, é, tendo implicações severas no modo de vida.

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A psicóloga Ana Gabriela Andriani falou sobre essa questão: “Analisa-se a capacidade de compreensão da pessoa em relação a operação em si e aos cuidados que serão necessários após esta se realizar, a capacidade de compreensão sobre as  mudanças de hábitos que serão necessários, os motivos pelos quais o paciente quer realizar a cirurgia, se há algum histórico de depressão, TOC, tentativas de suicídio e distúrbios alimentares, e ainda, o ambiente e relações que esta pessoa tem (para entender se a pessoa será suportada afetivamente)“.

Já no pós cirúrgico, o psicólogo acompanha o paciente por um período de tempo ( o que pode se desdobrar em um processo psicoterápico) como o objetivo de dar suporte as mudanças físicas, de estilo de vida e consequentemente emocionais que estão por vir. O ideal seria que fosse realizado um trabalho psicológico preventivo com as pessoas que apresentam uma pré disposição a obesidade e a desenvolver distúrbios alimentares, e não somente uma avaliação no momento da cirurgia“, completou.

Ela também falou o desafio no pós-cirúrgico, no qual a pessoa que faz a operação passa por inúmeros fatores físicos e que podem afetar o psicológico: “Há muitas mudanças físicas decorrentes tanto da fase de recuperação da cirurgia, como do próprio emagrecimento, que afetam a identidade corporal da pessoa, ou seja, a maneira como ela se vê e se sente em seu corpo. Tudo isso tem efeitos sobre sua vida emocional, uma vez que vai precisar se reconhecer em um corpo diferente do que possuía antes, que vai precisar  repensar a maneira como se relacionava ,  o lugar e o sentido que a comida tinha em sua vida“.

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Ana também analisou sobre o acesso à cirurgia pelo SUS, o Sistema Único de Saúde: “Parece haver uma relação entre o grau de instrução, renda familiar e a porcentagem de cirurgias no Brasil. Quanto maior a renda e o nível de escolaridade, maior a demanda pela bariátrica. Embora nos últimos anos tenha havido um crescimento importante  no percentual de obesos nas classes menos favorecidas (especialmente na classe C) ,  estas pessoas tem questões mais urgentes para cuidar relacionadas a própria condição social e econômica.  Além disso, precisamos considerar as dificuldades no acesso a  cirurgia pelo Sus. A fila de espera é grande“.

LADO DO CIRURGIÃO

O endócrino recebe um papel de destaque nessa questão das cirurgias bariátricas, já que é um especialista na função do corpo que será operada.

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São vários fatores levados em consideração. O cirurgião bariátrico, Marcos Reis, também relatou sobre os principais pontos que envolvem o procedimento.

A indicação da cirurgia é definida pelo cirurgião bariátrica em consulta médica e depende principalmente da avaliação do índice de massa corporal (que deve estar acima de 35 Kg/m2) e da presença de doenças associadas a obesidade“, disse ele.

O cirurgião, principalmente, falou sobre a acessibilidade a este tipo de procedimento através do SUS, e fez uma crítica: “Infelizmente o acesso ao SUS para cirurgia bariátrica no Brasil é muito restrito de forma que menos de 20% das cirurgias bariátricas no país são realizadas por essa via. Além disso, a baixa remuneração aos serviços hospitalares não permite a realização da operação por videolaparoscopia cujo equipamento necessário é de alta tecnologia e custo elevado. Hoje estima-se que apenas 0,5% dos portadores de obesidade grave tenham acesso a cirurgia que é o único tratamento comprovadamente eficaz a longo prazo”.

LADO NUTRICIONAL

Outro fator que tem uma importância muito grande é o nutricional. Uma dieta (não apenas no sentido de perda de peso) equilibrada, seja antes ou depois da cirurgia é fundamental para que o procedimento seja bem sucedido.

Giovanna Oliveira, nutricionista especilista no assunto, relatou que a deficiência de nutrientes pode ser um fator de risco: “Há uma alta taxa de deficiência de micronutrientes antes da cirurgia. Muitas vezes causada por dietas muito restritivas sem acompanhamento profissional. A prevalência é de: 45% dos pacientes no pré operatório estão em deficiência de ferro, 70% de cobre, 90% vitamina D, 18% de vit B12, 29% de Tiamina (vit B1), 14% de vit A e 28% zinco. Por isso é muito importante o paciente ser avaliado e fazer essas correções enquanto ainda tem o trato digestório normal. Para reduzir o risco de complicações relacionadas à deficiênciaa de micronutrientes, a suplementação e o tipo de procedimento bariátrico realizado precisam ser adaptados para cada paciente“.

Ela ainda comentou sobre como a cirurgia deve ser tomada como uma “virada de chave”, ou seja, o ponto inicial de uma nova caminhada para uma vida mais saudável, principalmente, com novos hábitos: “A cirurgia bariátrica, independente da técnica utilizada, é somente parte de um longo processo de aprendizado, mudança de hábitos, suplementação vitamínicas e controle clínico, que irá durar por toda a vida. Deve estar claro para o paciente que a cirurgia não caracteriza o término do tratamento da obesidade, e sim uma ferramenta da perda de peso, visando principalmente a saúde. Portanto o acompanhamento por tempo indeterminado de toda a equipe multidisciplinar da área de saúde são de extrema importância no pós-operatório“.

Por fim, ela também contou qual é o principal desafio nutricional para quem está na fila do procedimento: “Algumas pessoas ficam com dificuldade em ingerir alguns alimentos como carnes e alguns vegetais e por isso acabam evitando esse grupo de alimentos tão importantes. Vitaminas e minerais são essenciais em muitos processos biológicos que regulam o peso corporal direta ou indiretamente. Assim, a adequação de micronutrientes é importante não só para a manutenção da saúde, mas também para obter o máximo sucesso na manutenção e na perda de peso a longo prazo”.