Crise na saúde mental do trabalhador brasileiro grita por atenção
* Por Carla Brandão

* Por Carla Brandão
Você sabe como está a saúde mental do trabalhador brasileiro? Dados do Ministério da Previdência Social indicam que 470 mil pessoas foram afastadas do trabalho em 2024 por conta de transtornos mentais. Isso quer dizer que quase meio milhão de trabalhadores se sentiram incapacitados para exercer o que as empresas esperam deles.
As jornadas extenuantes e a pressão para atender a diversos parâmetros de expectativa estão fazendo estrago e as pessoas não conseguem mais esconder os sintomas da ansiedade, da depressão e do burnout, por exemplo. Vejo isso diariamente em consultório, mas a terapia apenas não resolve quando o estágio de alguma dessas questões já está avançada. Nesses casos, o tratamento é multidisciplinar e medicamentoso.
Vale ressaltar que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), somos o país mais ansioso do planeta. Nesse novo estudo, as maiores vítimas de doenças que colocam em risco a saúde mental são mulheres que passaram dos 40 anos de idade. Segundo o último Censo, as mulheres mantêm financeiramente 49,1% dos lares no Brasil. Sendo assim, posso afirmar que estamos diante de uma crise social, que só tende a crescer.
Se antes, terapia era vista com preconceito, agora está fazendo parte da realidade de muitas pessoas. O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) já está sentindo o peso desse desequilíbrio. Os afastamentos no ano passado foram, em média, de três meses. E essa situação tende a se agravar.
O governo já está tomando medidas para se alinhar com os novos tempos, entre elas, uma certificação implementada no ano passado para empresas que fizerem mais pela saúde mental do trabalhador, oferecendo, por exemplo, apoio psicológico e psiquiátrico, programas de conscientização com treinamento e campanhas e por aí vai…
Em maio, entra em vigor uma norma que promete fazer tremer a sala dos donos de qualquer empresa. Afinal, quem não cumprir, sofrerá punição. Estou falando da NR1, que sofreu alteração também em 2024 e vai impor a identificação, gestão e redução dos riscos psicossociais no ambiente de trabalho.
A preservação da saúde mental vai exibir, no mínimo, a elaboração de campanhas de conscientização e a realização de palestras dentro das empresas. Quem não entender que saúde mental é artigo de luxo em tempos pós-pandemia corre o risco de fazer parte de alguma estatística.
*Carla Brandão é psicanalista e escritora