Afeto: quais são os efeitos no desenvolvimento infantil?

A Educadora Parental e especialista em primeira infância, Paloma Silveira Baumgart, explica como o afeto pode impactar no desenvolvimento das crianças

Afeto e desenvolvimento da criança – Pexels/Ketut Subiyanto

Crianças que ganham afeto dos pais nos primeiros anos de vida têm o hipocampo – área do cérebro encarregada da memória – quase 10% maior que as criadas com mais desleixo, segundo um estudo publicado pela revista americana PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences).

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O afeto durante a infância, deve estar nas simples coisas do dia a dia, como através do cuidado com a rotina diária da criança. A Educadora Parental e especialista em primeira infância Paloma Silveira Baumgart explica a importância desse processo:

“Quando uma criança é criada com afeto, ela tem um poder transformador em sua vida. Se você comparar o cérebro de uma pessoa que teve afeto com o de outra que não teve, consegue ver que possuem dimensões diferentes, como visto na pesquisa citada anteriormente. Assim, o afeto pode impactar, não só emocionalmente, mas intelectualmente esse indivíduo. Uma criança com afeto faz muito mais sinapses nervosas, aumentando sua possibilidade de ter maior chance de sucesso na vida pessoal e emocional.”

COMO DEMONSTRAR AFETO QUANDO OS PAIS TÊM ROTINA CORRIDA?

Na atualidade, é notório que muitos pais não tenham tanto tempo em casa, por conta da rotina de trabalho, e compartilham os cuidados dos filhos, seja com parentes próximos ou cuidadores. Porém, Paloma adianta que esse processo pode não ser impactante, se existir um bom aproveitamento do tempo livre e de quem substituirá esse pai ou mãe durante a sua ausência.

“O tempo de qualidade tem grande impacto na vida de uma criança. Ao contrário do que a maioria imagina, o melhor tempo de qualidade que você pode criar com seu filho é através do cuidado. Quando se tem pouco tempo com ele, melhor do que você brincar, é participar dos momentos de cuidado da criança, que são a alimentação, banho, colocar para dormir e até a troca de fraldas tem um papel importante. É através dos cuidados que as crianças criam os vínculos e, por isso, sua importância. A criança que é cuidada por uma terceira pessoa enquanto os pais trabalham, pode não ser em nada afetada negativamente, caso esse cuidador cuide com carinho, conversando e o respeitando como indivíduo, explica.

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A criança passa por diversas situações que podem interferir em seu desenvolvimento, dependendo de como os pais ou adultos responsáveis por essa criança reagir, como pontua Paloma:

“Durante a vida, todos nós passamos por estresses diários. Durante o estresse, nosso corpo reage aumentando a pressão sanguínea e ritmo cardíaco. Além disso,  o corpo também libera hormônios, como, por exemplo, a adrenalina, o cérebro nos prepara para a fuga, isso acontece tanto com o adulto como com a criança, por exemplo, quando ela se machuca. O que interfere é como essa criança é acolhida após esse estresse. Para que o corpo volte a suas condições normais e isso se torne um estresse positivo, precisamos acolher essa criança com carinho e empatia.”

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TIPOS DE ESTRESSE PARA SEREM OBSERVADOS

Ela pontua, porém, que existem três tipos de estresse que devem ser observados.

Existe o estresse positivo, tolerável e o tóxico. Por exemplo, com o afeto é possível tornar o estresse em algo positivo, pois, quando a criança cai e você a acolhe, a confortando, ela se recupera. Já o estresse tolerável, é, por exemplo, quando acontece uma morte de um ente próximo, que com certeza ficará marcas naquela criança, mas quando a mesma é acolhida com carinho e em um ambiente afetuoso e acolhedor, se torna algo suportável, sem efeitos negativos no cérebro. Por fim, o estresse tóxico é quando a criança passa por diversos tipos de situações ruins e não é acolhida. Podem ser brigas conjugais constantes, agressões verbais ou físicas, abuso, entre várias outras situações. O cérebro, quando fica muito tempo em situação de estresse, com os níveis de hormônios alterados, estando sempre em alerta, terá o seu desenvolvimento comprometido, tanto intelectual como emocional, podendo essa criança chegar na fase de alfabetização e não conseguir se alfabetizar.”

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Um outro ponto observado por Paloma é a questão do abandono parental, recorrente no Brasil. Só no ano passado, segundo dados obtidos pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), cerca de 100 mil crianças não possuem o registro paterno em suas certidões de nascimento. Entretanto, a Educadora Parental adianta que a violência doméstica ainda é mais danosa a longo prazo:

“O impacto da violência dentro de casa é muito pior na vida de uma criança. Na maioria das vezes é melhor a ausência de um pai do que um ambiente hostil em casa. Uma criança sem pai, mas com uma mãe que cumpra bem o seu papel, com afeto, respeito e cuidados necessários, tem grandes chances de se tornar um adulto bem-sucedido, na parte emocional e intelectual. Agora, uma criança que vive no meio de brigas conjugais ou com um pai tóxico, que a agride verbal ou fisicamente, essa sim tem pouquíssimas chances de sucesso na vida adulta, conta.

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COMO SEPARAR DEMONSTRAÇÃO DE AFETO E FALTA DE LIMITE?

Ela finaliza dizendo que é preciso separar as demonstrações de afeto com a falta de limites. “O amor tem poder transformador, aliás é isso que falta no mundo, não é mesmo? Porém, não podemos confundir seu excesso com a falta de limites. Afeto é demonstrar o amor, através de abraços, beijos, gentileza, respeito e cuidado. Ele só traz coisas maravilhosas na vida de um ser humano. O amor transforma e tem grande impacto em nossas vidas”.