Genes podem aumentar o risco de desenvolver demência, incluindo a doença de Alzheimer

Uma forma do gene da apolipoproteína E, que desempenha papel chave no metabolismo de lipídeos, participando do transporte de colesterol das células, é um dos principais fatores genéticos reconhecidos para a predisposição ao desenvolvimento da demência

Estudo revela como um gene chave para o metabolismo da gordura pode aumentar risco de Alzheimer – Freepik

Certos genes podem aumentar o risco de desenvolver demência, incluindo a doença de Alzheimer, sabia?

Publicidade

“Alzheimer é uma doença devastadora, caracterizada pela diminuição da cognição e é também a forma mais comum de demência, sendo responsável por 70 a 80% dos casos de demência no mundo, afetando entre 24 a 35 milhões de pessoas no mundo. Devido ao envelhecimento da população, estima-se que 1 em 85 pessoas apresentarão a doença de Alzheimer em 2050”, explicou o geneticista Dr. Marcelo Sady.

Atualmente a doença de Alzheimer é a terceira causa de morte nos EUA. No ano passado, dados publicados pelo NHS England colocaram a demência em segundo lugar (18%) após a diabetes (26%) na lista de comorbidades associadas a Covid-19, de forma que pode estar associada a um risco 3,07 vezes maior para quadros graves do novo coronavírus.

+++ VEJA TAMBÉM: ‘Skincare natural’: Abóbora, batata doce e frutas cítricas são capazes de melhorar a saúde e a beleza da pele
+++ VEJA TAMBÉM: Máscara de carvão ativado limpa profundamente a pele e controla a oleosidade; saiba como fazer

Estudo

Publicidade

E, um estudo recente, publicado em março no periódico Science Translational Medicine, apontou que um dos fatores de risco genéticos mais significativos é uma forma do gene da apolipoproteína E (APOE), que desempenha papel chave no metabolismo de lipídeos, participando do transporte de colesterol das células.

Segundo o geneticista, APOE é produzida principalmente no fígado e é integrante do HDL, VLDL e quilomícrons.

“A APOE é codificada pelo gene APOE, que atualmente é um gene fundamental, tanto em termos de longevidade como envelhecimento e é associado a maior risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Além disso, o genótipo da APOE tem sido fortemente associado a doenças neurodegenerativas, tais como a doença de Alzheimer, e outras doenças associadas à demência”, explicou o Dr. Marcelo.

Publicidade

Segundo o estudo, a forma APOE4 é a que representa um dos mais altos fatores de risco para a demência. 

“Cerca de 25% das pessoas carregam uma cópia do APOE4 e 2 a 3% carregam duas cópias. APOE4 é o gene do fator de risco mais forte para a doença de Alzheimer, embora herdar APOE4 não signifique que uma pessoa irá desenvolver a doença definitivamente”, disse o geneticista.

O gene APOE apresenta 3 alelos principais: E2, E3 e E4. “O alelo E4 é disfuncional e é o maior biomarcador genético de risco aumentado de desenvolvimento de doença de Alzheimer. Estudos clínicos e em autópsias, realizados em populações europeias, tem demonstrado que o risco de demência aumenta com a presença de uma cópia do alelo E4 ou duas cópias quando comparados aos portadores do genótipo E3. Ao contrário, o alelo E2 do gene APOE pode apresentar efeito protetor contra a demência”, disse o Dr. Marcelo Sady.

Publicidade

E, a razão pela qual o APOE4 aumenta o risco de Alzheimer não é bem compreendida. A proteína APOE ajuda a transportar o colesterol e outros tipos de gordura na corrente sanguínea.

“Estudos recentes sugerem que problemas com a capacidade das células cerebrais de processar gorduras, ou lipídios, podem desempenhar um papel fundamental no Alzheimer e doenças relacionadas. Os desequilíbrios lipídicos podem prejudicar muitos dos processos essenciais de uma célula. Isso inclui a criação de membranas celulares, movimentação de moléculas dentro da célula e geração de energia”, explicou o geneticista.

De acordo com o especialista, as descobertas genéticas e o papel dos alelos de risco na predisposição de doença podem ajudar a modular a expressão desses genes. 

Publicidade

“Portadores do alelo E4 são sensíveis à ingestão de gordura saturada maior que 10% da energia total, que tem sido associado com maior risco de neuroinflamação e consequente maior risco de Alzheimer. Portanto, o simples fato de limitar o consumo de gordura saturada a 10% ajuda a minimizar o risco de Alzheimer”, explicou o geneticista. Outras pesquisas mostraram que a suplementação da cultura de células de levedura com colina restaurou o metabolismo lipídico normal. A colina é necessária para sintetizar os fosfolipídios. 

“Além disso, atividade física, restrição calórica, adequados níveis de vitamina D, e o consumo de curcumina ajudam a minimizar mais ainda o risco de desenvolvimento de Alzheimer”, finalizou ele.