Como diferenciar o período de adaptação do desfralde da enurese noturna? O famoso ‘xixi na cama’ tira o sono de muitos pais. “Enurese é a perda de urina involuntária durante o sono em crianças a partir dos cinco anos de idade”, explica a médica Silvana Deodato. Para ajudar os cuidadores nesse processo, Silvana lançou o livro: O menino que dormia na banheira – Uma história sobre xixi na cama.
Antes de se formar médica, a escritora trabalhou como cuidadora de crianças em creche o que lhe confere bagagem teórica e prática sobre o assunto. Como sempre teve interesse em unir a medicina e a escrita, escreveu a obra lúdica que aborda de forma leve e descontraída o aprendizado sobre um dos maiores desafios apresentados na primeira infância. Na entrevista inédita abaixo, Silvana revela as causas e dicas de como tratar o problema.
Quais são os tipos existentes?
Silvana Deodato: Pode ser classificada em enurese noturna primária, quando a criança nunca ficou seca por um período maior que seis meses e enurese noturna secundária, quando ocorre após um período de mais de seis meses que a criança esteve seca à noite. Também pode ser classificada em ‘monossintomática’, se a perda urinária noturna é o único sintoma e ‘não monossintomática’, quando existem outros sintomas associados, como urgência miccional, hesitação e alteração do jato e frequência, por exemplo.
Quais são as principais causas e como é feito o diagnóstico?
Silvana Deodato: É um distúrbio heterogêneo, tendo como causa a incompatibilidade entre a produção noturna de urina e a capacidade de armazenamento da bexiga, complicada pela incapacidade de acordar. Isso pode ocorrer por questões anatômicas do aparelho urinário, atraso do controle miccional e distúrbios hormonais, por exemplo. Predisposição genética e distúrbios respiratórios do sono e obstrução das vias aéreas superiores são fortes fatores de risco. O diagnóstico é feito através da história clínica, exame físico e, se necessário, exames complementares, como análise da urina, exame para descartar outras doenças, como diabetes, por exemplo. Também é utilizado o diário miccional, para tentar identificar a frequência e o volume urinário, além da ingestão de alimentos líquidos e sólidos durante o dia.
Quais são os tratamentos existentes?
Silvana Deodato: Medidas comportamentais podem ser implementadas, como evitar líquido em excesso no período noturno, estimular a criança a urinar mais vezes durante o dia. O tratamento de primeira linha é o alarme miccional, mas também dependendo do caso pode-se usar alguns medicamentos. Algumas vezes é necessário a combinação destes. Muitas crianças que sofrem também de constipação, uma vez tratadas desse problema, apresentam melhora também da enurese.
Quando é necessário procurar um médico e começar um tratamento? E o que a família pode fazer para ajudar a criança nesse processo?
Silvana Deodato: A partir dos cinco anos de idade já não é considerado normal a criança fazer xixi na cama, mas pode-se aguardar até os sete anos para iniciar o tratamento. É fundamental que a família tenha paciência, compreenda e ajude a criança a entender que é um problema, mas que tem tratamento. Não dar bronca ou repreendê-la, pois ela não tem culpa e isso pode piorar o processo.
A enurese noturna pode ter uma causa emocional?
Silvana Deodato: Não necessariamente, mas a própria condição acaba trazendo algum transtorno emocional, constrangimento, baixa autoestima, o que leva a piora do quadro. Entretanto, pode-se observar que algumas situações como abuso sexual, problemas familiares dentre outras podem agravar e/ou alongar o processo de tratamento.
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Como identificar se é físico ou psicológico?
Silvana Deodato: Através da história clínica e exame físico e identificação de possíveis problemas psicossociais no contexto da criança.
Acordar a criança para fazer xixi no meio da noite costuma funcionar?
Silvana Deodato: Pode funcionar, já que geralmente essas crianças têm dificuldade para despertar.
Voltar a usar fralda é uma solução?
Silvana Deodato: Depende da idade da criança. Se por exemplo a criança está na faixa dos 5 aos 7 anos e ela mesma não se sente constrangida a voltar ao uso da fralda, pode amenizar o desgaste. Porém, não é o mais aconselhado.
Como a literatura pode ajudar as famílias a lidarem com o problema?
Silvana Deodato: Através da sensibilização, da abordagem do problema de forma lúdica e descontraída. Ter contato com o tema através dos livros, por exemplo, pode ajuda-las a não sofrerem com o problema, a olharem para os colegas com enurese de forma mais empática e respeitosa.