Publicidade

Apesar das estatísticas mostrarem que a dor crônica acomete mais o sexo feminino, as mulheres são mais questionadas em relação as suas dores

Para a médica intervencionista em dor, Dra. Amelie Falconi, isso acontece porque existe diferença na avaliação do atendimento da dor entre os sexos

Apesar das estatísticas mostrarem que a dor crônica acomete mais o sexo feminino, as mulheres são mais questionadas em relação as suas dores
Apesar das estatísticas mostrarem que a dor crônica acomete mais o sexo feminino, as mulheres são mais questionadas em relação as suas dores – Foto: Freepik

Você já parou para pensar sobre os aspectos que ainda limitam as mulheres e a impedem de serem tratadas de maneira mais equânime com relação aos homens? Para a médica intervencionista em dor, Dra. Amelie Falconi, neste sentido, vale debater a relação da mulher com as dores e mostrar como, apesar de serem, de maneira geral, mais suscetíveis a este sofrimento físico do que os homens, ainda são vítimas de bastante preconceito no que se refere ao diagnóstico e tratamento.

Publicidade

Dra. Amelie explica que pesquisas têm mostrado consistentemente diferenças entre os sexos com relação às dores crônica, como a percepção, a descrição e expressão, o uso de estratégias de enfrentamento e os benefícios de diferentes tratamentos. Existem descobertas convincentes de que as diferenças biológicas contribuem para as diferenças observadas entre os sexos.

As mulheres são mais questionadas em relação à dor; médica explica

A médica intervencionista explica que diversas razões podem levar as mulheres a sentirem mais dor do que os homens, na média. “Os fatores genéticos, entre eles os fatores hormonais, que agem como mediadores da dor específicos do sexo. Estudos mostram que a resposta da dor à mulher é afetada pelo ciclo menstrual, gravidez e também pode ser afetada pelo uso oral de contraceptivos”, diz a médica.

O estrogênio, hormônio essencial à função reprodutiva feminina, por exemplo, quando aumenta ou diminui os seus níveis no organismo da mulher, é responsável pelo aumento da excitação das células. Mais especificamente: as flutuações do estrógeno podem aumentar a expressão do fator de crescimento neural, o número de sinapses excitatórias no hipocampo, a ligação do glutamato ao receptor NMDA e potenciais pós-sinápticos excitatórios.

A médica destaca que as mulheres dominam a maioria dos diagnósticos relacionados à dor crônica. Segundo a Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED), mulheres costumam apresentar em maior quantidade dores no pescoço e ombros, no abdômen, cefaleias tipo tensão, enxaqueca após a puberdade, distúrbio da ATM – Articulação Temporomandibular, e outros.

Publicidade

Para se ter uma ideia, a relação mulher: homem de prevalência de condições dolorosas é da ordem de 1,5 para 1 em lombar, no ombro e joelhos, de 2 para 1 em dor orofacial, 2,5 para 1 em migrânea (dor latejante que afeta o lado da cabeça) e de 4 para 1 em fibromialgia, doença crônica que tem como principal sintoma dores constantes por todo o corpo.

Não obstante a dor crônica ser mais prevalente e mais intensa no sexo feminino, dra. Amelie ressalta que as mulheres costumam ter suas queixas dolorosas minimizadas pela sociedade com mais frequência do que os homens. “Diversas vezes já escutei, inclusive de médicos especializados, que a dor de determinada paciente era ‘frescura’ ou psicológica e que a intenção da paciente era conseguir a atenção, seja do marido e dos filhos, ou de outras pessoas”, relata.

Dra. Amelie destaca que a diferença na abordagem da paciente em relação aos homens já foi mostrada, inclusive, por estudo científico. A médica intervencionista em dor relata que um artigo de revisão levantou 77 artigos na literatura que tratavam sobre homens e mulheres com dor, normas de gênero e preconceito de gênero no tratamento da dor.

Publicidade

“O levantamento observou um paradoxo: não obstante a dor crônica ser mais prevalente e mais intensa no sexo feminino, os relatos da dor das mulheres são levados menos a sério, sua dor é descontada como sendo psíquica ou inexistente e seu tratamento é menos adequado do que o dado aos homens”, relata. Como decorrência deste desdém, segundo o artigo de revisão, as mulheres são frequentemente medicadas com mais antidepressivos e com menos analgésicos.

“Esse artigo escancara a questão do machismo no atendimento da dor. Se é de conhecimento geral que a dor crônica acomete mais mulheres, porque quando elas chegam ao consultório e reclamam de dor são logo taxadas de emocionalmente fracas”, finaliza.

Publicidade