Quando a dor não vai embora: hábitos que transformam a enxaqueca em um problema crônico

Uso frequente de analgésicos, noites mal dormidas e até o cafezinho diário podem alimentar um ciclo perigoso e silencioso de dor de cabeça contínua.

Quando a dor não vai embora: hábitos que transformam a enxaqueca em um problema crônico

Muito além da dor de cabeça: o que é a enxaqueca crônica?

A enxaqueca é uma das doenças neurológicas mais incapacitantes do mundo, afetando cerca de 1 bilhão de pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde. Embora muitos ainda a tratem como uma simples dor de cabeça, o problema pode evoluir para algo ainda mais debilitante: a enxaqueca crônica — quando o paciente sofre dores por 15 dias ou mais por mês, por pelo menos três meses seguidos.

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Os vilões invisíveis: o que causa a cronificação da enxaqueca?

Segundo o neurologista Tiago de Paula, especialista em cefaleia pela UNIFESP, esse agravamento está diretamente ligado aos chamados cronificadores da enxaqueca. “O mais comum é o uso excessivo de medicamentos. Ou seja, quando o paciente toma analgésicos com frequência, pode entrar em um ciclo de efeito rebote: a dor melhora momentaneamente, porém volta mais forte e mais cedo”, explica.

Além disso, distúrbios do sono, consumo regular de cafeína ou álcool e altos níveis de estresse também contribuem. “Mesmo o café diário pode gerar dor de cabeça se for interrompido de repente, criando um efeito semelhante ao de abstinência”, afirma.

O cérebro em alerta: por que quem tem enxaqueca sente mais?

O cérebro de quem sofre com enxaqueca já apresenta uma tendência natural a reagir de forma exagerada a estímulos sensoriais. Com isso, quando exposto repetidamente aos cronificadores, essa reatividade aumenta, dificultando o retorno ao padrão normal e agravando a dor.

É possível evitar ou reverter o quadro?

Sim. De acordo com o Dr. Tiago, a cronificação da enxaqueca pode ser não apenas prevenida, como também revertida. “A campanha ‘3 é demais’, da SBC, alerta para o início do tratamento preventivo em pacientes com três ou mais crises mensais. O problema é que quase metade dos pacientes só procura ajuda quando a doença já está crônica e os remédios deixam de fazer efeito”, destaca.

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Opções modernas de tratamento

Entre as opções terapêuticas estão medicamentos orais como anticonvulsivantes e betabloqueadores, além dos modernos anticorpos monoclonais anti-CGRP. Além disso, em casos mais graves, a combinação com toxina botulínica tem se mostrado eficaz. “Ela atua em pontos estratégicos do sistema nervoso, reduzindo a sensibilidade do cérebro aos estímulos que desencadeiam a dor”, explica o neurologista.

O passo mais importante: buscar ajuda especializada

A recomendação final do especialista é clara: não trate a enxaqueca por conta própria. “Buscar um médico é fundamental. O tratamento precisa ser individualizado e, acima de tudo, quanto antes ele começar, maiores as chances de evitar a cronificação”, conclui.

Fonte: Dr. Tiago de Paula – neurologista especialista em Cefaleia pela Escola Paulista de Medicina (EPM/UNIFESP), membro da International Headache Society (IHS) e da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC).

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