Fungos: aliados invisíveis entre a saúde, alimentos e meio ambiente
Organismos muitas vezes vistos com desconfiança desempenham papéis essenciais na vida cotidiana — da fermentação à medicina

Organismos muitas vezes vistos com desconfiança desempenham papéis essenciais na vida cotidiana — da fermentação à medicina
Fungos: apesar da fama de vilões, são verdadeiros protagonistas invisíveis da vida na Terra. Estão no solo, no ar, nos alimentos, nas plantas e até no corpo humano. E embora muita gente os associe a doenças, eles também são indispensáveis para a saúde dos ecossistemas, a produção de alimentos e o avanço da medicina. É o que explica Andrea Libano, bióloga e coordenadora do curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário de Brasília (CEUB).
Segundo Andrea, os fungos exercem um papel ecológico fundamental: são os principais decompositores da natureza. Eles quebram a matéria orgânica de folhas, galhos e animais mortos, liberando nutrientes que retornam ao solo e alimentam as plantas. “Sem os fungos, os elementos químicos ficariam retidos nos corpos em decomposição, e o ciclo da vida estaria comprometido”, afirma.
Além disso, muitos desses organismos formam associações simbióticas com raízes de plantas, ajudando na absorção de água e nutrientes. Em troca, recebem compostos resultantes da fotossíntese. “Essa simbiose impacta diretamente a saúde vegetal, a produtividade agrícola e o equilíbrio dos ecossistemas”, destaca a especialista.
Outra contribuição importante, mas pouco conhecida, é a capacidade de alguns fungos de proteger as plantas contra pragas. Eles produzem substâncias que atuam como defensivos biológicos, reduzindo a necessidade de agrotóxicos. Essa propriedade tem sido cada vez mais explorada por pesquisas voltadas à agricultura sustentável.
No dia a dia, os fungos estão presentes em muitos dos alimentos que consumimos. São responsáveis pela fermentação do pão, da cerveja, do vinho e da kombucha. E o interesse por cogumelos comestíveis como champignon, shimeji e shiitake também cresce no mundo todo, graças ao seu valor nutricional e à versatilidade culinária.
“O cultivo de cogumelos também é visto como alternativa viável em regiões com insegurança alimentar”, ressalta Andrea.
Na medicina, os fungos têm um histórico ainda mais marcante. Foi deles que surgiu a penicilina, o primeiro antibiótico da história. E novas pesquisas continuam explorando seu potencial para o desenvolvimento de fármacos modernos. “Eles são promissores na biotecnologia e na produção de medicamentos”, completa.
Porém, apesar de tantos benefícios, alguns fungos podem ser patogênicos e provocar doenças em humanos e plantas. Entre os exemplos estão micoses, candidíase, sinusites e infecções mais graves, como a meningite fúngica. Um caso particular é o da histoplasmose, doença respiratória causada pela inalação de esporos encontrados em fezes de aves e morcegos.
Mesmo assim, a especialista reforça que não há motivo para alarme. “Em sua maioria, os fungos convivem bem com o corpo humano. O mais importante é manter o sistema imunológico saudável e seguir práticas de higiene.”
Por fim, o universo dos fungos ainda guarda muitos mistérios: estima-se que existam entre 1 a 5 milhões de espécies no mundo. No entanto, apenas 150 mil foram identificadas. Para a pesquisadora, o estudo desses organismos é estratégico para o futuro da ciência, da medicina e da preservação ambiental.
“O uso sustentável dos fungos pode abrir caminhos para soluções inovadoras em diversas áreas. São organismos que nos ensinam a ver o invisível e a valorizar o que está além do que os olhos alcançam”, conclui a especialista.