Alergia alimentar de crianças pode desencadear impactos psicológicos em pais e filhos; saiba como lidar
Uma em cada cinco mães de alérgicos apresentam transtorno de ansiedade generalizada
Uma em cada cinco mães de alérgicos apresentam transtorno de ansiedade generalizada
Os desafios da gestão da alergia alimentar são complexos e podem gerar impactos psicológicos significativos nos pacientes e em seus pais. Embora no Brasil ainda não haja estatísticas oficiais sobre alergia alimentar, a prevalência parece se assemelhar com a literatura internacional, que mostra cerca de 8% das crianças, com até dois anos de idade, com algum tipo de alergia alimentar. O primeiro tratamento, após o diagnóstico do especialista, é a exclusão do alimento que causa a alergia.
Porém, quanto menor a criança e maior o número de alérgenos a serem excluídos, maior também será o sofrimento psíquico de seus pais, que precisam assumir todos os cuidados envolvendo o estabelecimento e manutenção da dieta de restrição e o suporte com a administração de medicamentos em caso de reação acidental.
A psicóloga Érika Gomes, doutoranda e mestre em psicologia clínica pela PUC-SP, conta que pesquisas apontam que uma em cada cinco mães de alérgicos apresentam transtorno de ansiedade generalizada, um terço das mães acima do limiar para transtorno do pânico e ansiedade social e que a alergia é preditor positivo para depressão.
Leite, ovo, soja, trigo, amendoim, castanhas, gergelim, peixes e frutos do mar são os principais alimentos desencadeadores de alergia alimentar. Os sintomas são bastante variados. “Entre as manifestações possíveis, destacam-se as cutâneas, gastrointestinais, respiratórias, cardiovasculares e nos casos mais graves a anafilaxia, que pode levar a óbito”, explica a Coordenadora do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), Dra. Jackeline Motta Franco.
Como minimizar os impactos na criança com a alergia alimentar
A forma como os pais estabelecerão o manejo da alergia com seu filho interferirá na forma como ele vivenciará a alergia.
“É importante que os pais obtenham conhecimento adequado, suporte emocional e se sintam autoconfiantes para contribuir para que sua criança vivencie a alergia alimentar de forma leve e possam enfrentar as situações diárias envolvendo a sua restrição com autoconfiança”, explica Érika.
A psicóloga elenca algumas sugestões para as famílias que estão passando pela descoberta do diagnóstico de alergia alimentar:
– Busque não vitimizar a criança em função de sua alergia alimentar. Sendo empático, solidarizando-se com sua condição, mas ensinando que as limitações fazem parte da vida e é possível enfrentá-las de diferentes formas.
-Seja solidário com a criança! Estabeleça algumas refeições, no ambiente familiar, em que todos os membros possam desfrutar do mesmo alimento.
– Encontre maneiras de demonstrar afeto à criança que não estejam relacionadas ao alimento. Alimento não é a nossa única forma de demonstrar afeto: abraços, bilhetinhos, passeios, fotografias também revelam nosso amor.
– Busque realizar atividades sociais como ir a festas e eventos sociais, mantendo os devidos cuidados para que a criança não tenha contato com o alimento alergênico. Lembrando que há atividades sociais menos relacionadas ao consumo de alimentos como visitas à museus, feiras de livros que podem se apresentar como opções mais seguras e inclusivas.
– Estabeleça uma rede de apoio. Compartilhar com amigos e familiares informações sobre a alergia alimentar, buscando ampliar a conscientização. Dessa forma, a criança se sentirá mais respeitada, incluída e segura.
– Dê a oportunidade de a criança expressar seus sentimentos, dúvidas e desejos envolvendo a sua restrição, auxiliando-a a encontrar seus próprios recursos internos para lidar com as situações que precisa enfrentar envolvendo a sua alergia alimentar.
– Contribua para que a criança reconheça a alergia alimentar como parte da vida e que é possível estar bem lidando com ela.
Alergia alimentar na escola
A família e a escola precisam se preparar para gerenciar os cuidados com a alergia implementando práticas para minimizar riscos de contato acidental com o alimento alergênico tanto no ambiente familiar quanto no escolar. É preciso que professores e os demais funcionários da escola saibam reconhecer os sintomas e como agir em caso de reação. “É importante favorecer a inclusão da criança em diversas atividades familiares, sociais e escolares e, assim, propiciar que a criança viva a vida a despeito da alergia alimentar, não em função dela”, comenta a psicóloga.
A alergia alimentar é uma reação imunológica a determinado alimento. Existe uma predisposição genética para isso e, nos últimos anos, se reconhece a influência do meio ambiente neste processo – mudança de estilo de vida e alimentação são alguns dos fatores mais associados. “Ao reconhecer a proteína como alérgeno, o sistema imunológico deflagra algumas respostas que acabam por se manifestar em forma de sintomas desagradáveis e potencialmente graves”, explica Dra. Jackeline, da ASBAI.
Sobre a ASBAI
A Associação Brasileira de Alergia e Imunologia existe desde 1972. É uma associação sem finalidade lucrativa, de caráter científico, cuja missão é promover a educação médica continuada e a difusão de conhecimentos na área de Alergia e Imunologia, fortalecer o exercício profissional com excelência da especialidade de Alergia e Imunologia nas esferas pública e privada e divulgar para a sociedade a importância da prevenção e tratamento de doenças alérgicas e imunodeficiências. Atualmente, a ASBAI tem representações regionais em 21 estados brasileiros.