Em 2019, dois cientistas chineses, George Fu Gao e Weifeng Shi, identificaram o vírus que transformou o mundo desde então e recebeu o nome de Covid-19. Agora, em matéria publicada pela revista “Science”, eles alertam a população global para o risco de uma outra pandemia.
Se o momento atual teve início na contaminação por morcegos, a ciência ainda precisa desvendar tal mistério. Mas o fato é que agora os olhos do mundo devem se voltar para as aves, em especial pelo potencial da gripe aviária.
Tal enfermidade não é uma novidade no meio científico. Afinal, este patógeno circula na Europa desde 2014, e desde então milhões de aves já foram contaminadas com ele, segundo o Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC).
Porém, agora o sinal de alerta se acende a partir do momento que o vírus atinge os humanos pela primeira vez.
Um homem de 41 anos da província de Jiangsu, no leste da China, foi diagnosticado com a variante da gripe das aves H10N3, tornando-se o primeiro caso humano de infecção com esta estirpe, disse a Comissão Nacional de Saúde da China (NHC) nesta terça-feira, 1 de junho. O homem foi hospitalizado a 28 de abril após desenvolver febre e outros sintomas, tendo sido posteriormente identificado como portador do vírus da gripe aviária H10N3.
Conforme explicou o PhD, neurocientista e biólogo Fabiano de Abreu Rodrigues, no mês passado “este é um subtipo do vírus influenza A, também chamado de gripe aviária e é altamente letal para aves selvagens e aves domésticas. Até pouco tempo não estava associado a humanos; no entanto, foi descoberto este ano que sete pessoas na Rússia estavam infectadas e agora na China”. No dia 20 de fevereiro deste ano, o governo da Rússia confirmou que estas pessoas foram infectadas numa gigantesca quinta com 900 mil galinhas, na região de Astrakhan, no sul do país. Nenhum deles apresentou sintomas.
Pouco tempo depois, o Ministério da Agricultura da Espanha registrou surtos deste vírus em aves selvagens. Em comunicado, a entidade informou que “a detecção deste caso não implica risco para a saúde pública, pois estudos genéticos mostram que se trata de um vírus aviário sem afinidade específica para humanos”.
Por outro lado, segundo a revista Science, os cientistas chineses estão bem preocupados. “A disseminação mundial do vírus da gripe aviária é um problema de saúde pública”, alertam na revista Science. Se o mundo vive atualmente uma pandemia global por conta da Covid-19, será que a sociedade está preparada para mais uma crise sanitária de grandes proporções?
Para Fabiano de Abreu, “não podemos ter mais um pânico nem abafar responsabilidades em relação ao que temos agora, que é o Covid-19. Obviamente a gripe H5N8 ou H10N3 preocuparia mais que o Covid-19, até porque a nossa proximidade tanto cultural como de vivência cotidiana é muito maior. As aves estão em todo lado, as criamos em casa, estão nas nossas hortas e quintais”.
Segundo os especialistas, a H5N8 e/ou H10N3 já causou o abate de mais de 20 milhões de aves na Coreia do Sul e no Japão, alertam Fu Gao e Shi. “É imperativo que a disseminação global e o risco potencial do vírus da gripe aviária não sejam ignorados”, alertam.
Ainda assim, Abreu acredita que o momento atual é que “algo que tem que ser observado. Ainda é cedo para essa gripe colocar em risco a saúde pública, mas tem que estar em observação. A China precisa se preocupar mais com a cultura local que favorece ao aparecimento de novos patógenos e em ajudar no combate à Covid-19”, completa o neurocientista.