Verdade seja dita, a procrastinação é uma realidade na vida de todos nós. Inclusive, pare e pense: quantas vezes você já procrastinou hoje? Às vezes é involuntária, outras nem tanto, o que importa é que esta ação se faz necessária em nossas vidas, como aponta a psiquiatra Maria Francisca Mauro.
“Com prazos curtos, precisamos entender se essa atitude é essencial, porque você precisa primeiro se aprofundar e construir tal conhecimento, descansar a sua cabeça e depois encarar o que está se propondo a fazer e, assim, conseguir produzir. Ou se, de fato, está somente deixando para a última hora”, pontua a Mestre em Psiquiatria pelo PROPSAM/UFRJ.
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É muito comum que a gente pense que no passado deixávamos tudo para a última hora, mas dávamos conta de entregar e hoje isso não acontece. “Você não tem forças para fazer, acaba descumprindo prazos, esquece o que deve ser realizado”, afirma a especialista ao acreditar que essas posturas são importantes para perceber que pode não ser preguiça e sim um adoecimento emocional. Este tipo de procrastinação não é um adiamento voluntário, mas uma sensação de incapacidade. São sensações distintas.
“Essa paralisia produtiva consegue ir além da dificuldade para iniciar algo. Nesses casos, é importante buscar ajuda profissional, já que não está dando conta de começar. Caso esteja preocupado com a sua produtividade, primeiro respire, porque afobado e com nível de estresse elevado, é possível que fique cada vez mais tenso e, às vezes, desesperado, deixando de fazer o que realmente precisa. Portanto, seja capaz de estabelecer prioridades”, assegura.
PROCRASTINAÇÃO: DO PERFECCIONISMO À PREGUIÇA
Embora o perfeccionismo, em alguns casos, seja uma desculpa para a preguiça, quem realmente tem essa característica pode acabar procrastinando algumas tarefas por medo de elas não ficarem perfeitas o suficiente. Também, podem se acomodar no seu lugar de bom desempenho e destaque para escolherem a hora de fazerem entregas.
“É importante não deixar que o seu nível de exigência tome conta da situação, já que ninguém nasce sabendo. Não tenha medo do fracasso. Até porque, quanto mais você demora a realizar algo, maiores são as chances de isso acontecer”, afirma a psiquiatra ao acreditar que ao propor metas muito distantes, você precisa ter métodos para esta jornada.
“Não se dorme de um jeito e acorda com tudo pronto. Entre o ponto de saída e chegada é necessário ter uma construção e para tal ocorre uma demanda de dedicação e esforço”, pontua.
DICA PARA AVANÇAR E CONCLUIR TAREFAS
Uma dica que pode ser útil é pensar nas tarefas por pequenas etapas, isso faz com que o processo se torne mais fácil. Pode parecer a coisa mais chata do mundo, mas por melhor que seja a sua memória, colocar tudo o que precisa ser executado em um papel e seguir uma ordem de prioridades é uma forma de não deixar para depois.
“Esta é uma sugestão que vale aos que não conseguem ter prioridade, ou mesmo, os que não desenvolveram um método de realizarem suas atividades e cronogramas. Habilidades são desenvolvidas, por isto, ao caminharmos em nossa trajetória educacional temos uma melhor capacidade para tarefas mais complexas. Aos que são afoitos em concluir algo, ou apenas se contentam em fazer sem ao menos se darem conta do que estão desenvolvendo: cuidado”, esclarece.
Por outro lado, às vezes pode ser só porque não esteja com vontade de fazer nada e esse é um dos maiores motivos que nos faz procrastinar. Com uma rotina tão estressante, os trinta minutinhos para relaxar podem virar horas, já que o ócio é essencial para a vida humana, mas lembre-se: quando a procrastinação vira frustação está na hora de repensar suas escolhas.
“Por fim, torna-se fundamental perceber se o adiamento é um sinal de adoecimento, ou simplesmente, uma falta de responsabilidade com seus compromissos.”, sugere a psiquiatra que acredita que um bom início é refletir, ponderar, estabelecer prioridades e começar. Nada se termina antes de um começo. Ao invés de se atordoar, cair em desespero, entenda qual a medida do seu adiamento.
Psiquiatra Maria Francisca Mauro
Mestre em Psiquiatria pelo PROPSAM/IPUB/UFRJ. Psiquiatra associada da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), doutoranda em psiquiatria e saúde mental pelo PROPSAM/IPUB/UFRJ, representante discente da pós-graduação do IPUB/UFRJ junto à comunidade acadêmica geral da UFRJ e do IPUB. Desde 2008 atua como psiquiatra clínica e tem experiência em pacientes com quadros graves, como depressão, ansiedade, alterações de comportamento alimentar, transtorno bipolar do humor, esquizofrenia e quadros psiquiátricos ainda em investigação para definição diagnóstica. Participou da equipe de interconsulta psiquiátrica dos hospitais Clínica São Vicente, Pro-Cardíaco e São Lucas.