Um fator genético recém-identificado permitiria que a pele adulta se reparasse como a pele de um recém-nascido, sabia?
O estudo Lef1 expression in fibroblasts maintains developmental potential in adult skin to regenerate wounds foi feito por pesquisadores da Washington State University e publicado em setembro de 2020 na revista científica eLife Science.
“A descoberta tem implicações no tratamento de feridas, no pós-cirúrgico e na prevenção de parte do processo de envelhecimento da pele. Os pesquisadores identificaram um fator na pele de camundongos bebês que controla a formação do folículo capilar. Quando foi ativado em ratos adultos, sua pele foi capaz de curar feridas sem deixar cicatrizes. A pele regenerada incluía até pelos e podia causar arrepios”, disse o cirurgião plástico Mário Farinazzo.
De acordo com a pesquisa, os pesquisadores identificaram um fator que atua como um interruptor molecular na pele de camundongos bebês. “Esse interruptor controla a formação de folículos pilosos conforme eles se desenvolvem durante a primeira semana de vida. Essa chave é desligada principalmente após a formação de pele e permanece desligada no tecido adulto. Quando foi reativado em células especializadas em ratos adultos, observou-se uma habilidade gigantesca de reparação, sem formação de cicatrizes como a de adultos”, afirmou o cirurgião plástico.
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Nova técnica
Além disso, os pesquisadores usaram uma nova técnica chamada sequenciamento de RNA de célula única para comparar genes e células na pele em desenvolvimento e na pele adulta.
“No desenvolvimento da pele, eles encontraram um fator de transcrição – proteínas que se ligam ao DNA e podem influenciar a ativação ou desativação dos genes. O fator que os pesquisadores identificaram, chamado Lef1, estava associado aos fibroblastos papilares, que são células em desenvolvimento na derme papilar, uma camada dA pele logo abaixo da superfície que dá à pele sua tensão e aparência jovem. Quando os pesquisadores ativaram o fator Lef1 em compartimentos especializados da pele de camundongos adultos, isso aumentou a capacidade da pele de regenerar feridas com cicatrizes reduzidas”, explicou o Dr. Mário.
E, o grande trunfo do trabalho é conseguir transferir essa capacidade inata da pele jovem neonatal para a pele mais idosa. “O estudo mostrou que, em princípio, esse tipo de regeneração é possível”, explicou o médico.
Os mamíferos não são conhecidos por suas habilidades regenerativas em comparação com outros organismos, como as salamandras que podem regenerar membros inteiros e regenerar sua pele. O estudo sugere que o segredo da regeneração humana pode ser encontrado estudando nosso próprio desenvolvimento inicial.
“Ainda podemos buscar inspiração em outros organismos, mas também podemos aprender sobre a regeneração olhando para nós mesmos. Nós geramos novos tecidos, uma vez em nossas vidas, conforme estamos crescendo”, afirmou o médico.
A ideia do estudo partiu da observação de cirurgias de emergência para salvar vidas no útero, no qual observou-se que, quando esses bebês nasceram, eles não tinham nenhuma cicatriz da cirurgia. O cirurgião plástico ainda enfatizou, no entanto, que muito trabalho ainda precisa ser feito antes que esta última descoberta em ratos possa ser aplicada à pele humana. “Mas este é um avanço fundamental e que poderá ter implicações importantes no cuidado após procedimentos, feridas e tratamento do envelhecimento”, finalizou ele.