Trombose em pacientes com câncer: risco silencioso pode atrasar tratamento e comprometer a recuperação

Além do tumor, pacientes oncológicos enfrentam maior propensão a desenvolver coágulos que podem ser fatais. Médicos alertam para a importância da prevenção

Trombose em pacientes com câncer: risco silencioso pode atrasar tratamento e comprometer a recuperação

Receber um diagnóstico de câncer já representa um enorme desafio. No entanto, muitas pessoas desconhecem uma complicação frequente e grave: a trombose venosa profunda. Esse quadro ocorre quando se formam coágulos nas veias, principalmente das pernas, que podem se deslocar até os pulmões, resultando em uma embolia pulmonar — condição que pode ser fatal.

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Para quem enfrenta o câncer, o risco de trombose aumenta significativamente. “A trombose é a segunda causa de morte mais comum entre pacientes oncológicos, perdendo apenas para o próprio câncer”, afirma a cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.

Câncer e trombose: ligação perigosa

Diversos fatores ligados ao câncer favorecem a formação de coágulos. O próprio tumor, por exemplo, pode estimular o sistema de coagulação. Segundo o oncologista Dr. Ramon Andrade de Mello, pesquisador honorário da Universidade de Oxford, o câncer libera substâncias que aumentam o risco trombótico. “Essas substâncias ativam a coagulação e criam um ambiente propício à trombose”, explica.

Além disso, os tratamentos utilizados contra o câncer também contribuem para esse risco. Quimioterapia e terapias-alvo, por exemplo, causam alterações nos vasos sanguíneos. “Esses medicamentos lesionam os vasos e favorecem a formação de coágulos”, acrescenta o oncologista.

Internações, fadiga e sedentarismo ampliam o risco

Outro aspecto preocupante é a limitação física causada pela doença e seus tratamentos. Muitos pacientes sentem-se cansados e permanecem longos períodos deitados. Como resultado, há uma menor movimentação da musculatura da panturrilha, que é essencial para bombear o sangue de volta ao coração.

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De acordo com a Dra. Aline, essa imobilidade favorece a estagnação do sangue e aumenta o risco de trombose. “O paciente começa a sentir inchaço, peso nas pernas e, em alguns casos, dores que não deve ignorar”, alerta.

Internações frequentes e uso de cateteres também elevam a probabilidade de desenvolver a condição. Por isso, é fundamental adotar estratégias preventivas desde os primeiros estágios do tratamento.

Tumores com maior risco trombótico

Embora qualquer pessoa com câncer possa ter trombose, certos tipos de tumores apresentam risco ainda maior. Entre eles estão os cânceres de:

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  • Pulmão
  • Pâncreas
  • Cérebro
  • Intestino
  • Estômago
  • Ovários
  • Rins
  • Mama

Nesses casos, o acompanhamento vascular se torna ainda mais relevante. O Dr. Ramon enfatiza que, além do tipo de câncer, o histórico clínico também influencia. “Pacientes com obesidade, tabagismo, doenças inflamatórias ou familiares com histórico de trombose precisam de atenção redobrada”, afirma.

Como identificar os sinais da trombose?

É essencial conhecer os principais sintomas. Fique atento a:

  • Inchaço repentino em uma das pernas
  • Dor localizada, especialmente na panturrilha
  • Calor e vermelhidão na região afetada
  • Sensação de peso ou endurecimento

Caso esses sintomas apareçam, o ideal é procurar atendimento médico imediato. O diagnóstico precoce faz toda a diferença na evolução do quadro.

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A boa notícia: é possível prevenir

Apesar de preocupante, a trombose é uma complicação que pode ser prevenida com o devido acompanhamento. O uso de anticoagulantes, sob prescrição médica, é uma das principais estratégias. No entanto, cada paciente exige uma avaliação individualizada. “A recomendação depende de diversos fatores, como o tipo e estágio do câncer, além do histórico do paciente”, orienta a Dra. Aline.

Além dos medicamentos, manter-se em movimento dentro das possibilidades e evitar longos períodos de repouso também são atitudes valiosas. Em ambiente hospitalar, essas práticas são bem estabelecidas. No entanto, o Dr. Ramon destaca que o cuidado precisa se estender também aos pacientes ambulatoriais. “Não podemos esperar o primeiro evento trombótico para agir. A prevenção deve ser parte da rotina do tratamento”, reforça.

Um cuidado essencial na jornada contra o câncer

Cuidar da saúde vascular é mais um passo importante na trajetória de quem enfrenta o câncer. A trombose, além de colocar a vida em risco, pode interromper o tratamento, exigir internações e atrasar a recuperação. Por isso, tanto pacientes quanto profissionais da saúde precisam estar atentos.

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Informar-se, prevenir e agir rapidamente são atitudes que salvam vidas.

 

Fontes:
Dr. Ramon Andrade de Mello – Médico clínico-geral, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, pós-doutor pelo Royal Marsden NHS Foundation Trust (Inglaterra), pesquisador honorário da Universidade de Oxford (Inglaterra), membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, entre outros. Instagram: @dr.ramondemello

Dra. Aline Lamaita – Cirurgiã vascular, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, com formação em Lifestyle Medicine por Harvard. Atua com foco em Flebologia e Medicina Integrativa. Instagram: @alinelamaita.vascular

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