Lipedema: tratamento cirúrgico e clínico deve estar alinhado para melhores resultados e controle da doença
A cirurgia plástica pode ajudar as pacientes que sofrem com lipedema; no entanto, o tratamento clínico deve estar alinhado
A cirurgia plástica pode ajudar as pacientes que sofrem com lipedema; no entanto, o tratamento clínico deve estar alinhado
Junho é o mês de conscientização do lipedema, uma doença caracterizada pelo acúmulo de tecido adiposo nas pernas.
“O lipedema afeta predominantemente mulheres e surge principalmente nos membros inferiores, mas também pode acometer membros superiores e, em raros casos, áreas distintas como abdômen, face e axilas. A doença, apesar de não ser rara e afetar mais de 12,3% das mulheres brasileiras, ainda é pouco conhecida, levando a falta de diagnóstico ou diagnósticos incorretos, o que atrasa o início do tratamento, aumenta a progressão da doença e, consequentemente, faz com que a paciente sofra física e emocionalmente”, explica a Dra. Heloise Manfrim, cirurgiã plástica especialista em lipedema e sócia-fundadora da BAPS (Brazilian Association of Plastic Surgeons).
“O tratamento cirúrgico pode ajudar o paciente, mas deve sempre ser acompanhado do tratamento clínico, conservador, que tem como base quatro pilares: dieta anti-inflamatória, atividade física específica para lipedema, terapia física complexa e protocolos medicamentosos específicos para a doença”, acrescenta a médica.
A doença é interdisciplinar e seu tratamento envolve, além do cirurgião plástico, profissionais como endocrinologistas, nutricionistas e cirurgiões vasculares. A médica explica que os lipedemas são sempre simétricos e os sintomas incluem sensação dolorosa ao toque, aumento da frequência de hematomas espontâneos e maior tendência ao acúmulo de líquido.
Apesar de estar relacionada a fatores hereditários e hormonais, a doença ainda não tem causa definida e, logo, não tem cura. Mas existe uma diversidade de procedimentos e terapias capazes de aliviar os sintomas e controlar a evolução da doença para impedir o surgimento de complicações como cicatrizes, infecções e falta de mobilidade. Nesse sentido, a lipoaspiração vem ganhando cada vez mais espaço.
“A cirurgia só é indicada quando a paciente já fez o tratamento clínico por mais de seis meses e não apresentou melhora ou quando a paciente tem uma queixa estética muito mais importante do que a queixa funcional. Nesses casos, a cirurgia é indicada, sendo que o cirurgião plástico é o especialista mais habilitado para a realização do procedimento”, diz a Dra. Heloise.
A BAPS esclarece que o tratamento com lipoaspiração é especialmente interessante para aliviar as dores causadas pelo lipedema, além, é claro, de diminuir a largura dos membros afetados. A técnica utilizada vai variar de acordo com cada caso.
“Por exemplo, quando a retirada da gordura tem altas chances de resultar em flacidez, podemos realizar a lipoaspiração com plasma, que aquece e provoca uma retração na pele, o que diminui a flacidez do tecido”, completa a cirurgiã.
Segundo a Dra. Heloise, os resultados do procedimento no tratamento do lipedema são satisfatórios e duradouros. Mas, apesar da maior parte da gordura ser retirada, pode restar uma pequena quantidade de células adiposas doentes que ainda possuem a capacidade de acumular gordura, segundo a médica.
“Logo, ainda que a lipoaspiração ofereça bons resultados e o processo natural de emagrecimento não tenha grande impacto sobre as áreas afetadas pelo lipedema, a adoção de um estilo de vida saudável é indispensável para potencializar a ação do procedimento e impedir que a doença evolua novamente”, explica a Dra. Heloise.
“Antes e após a lipoaspiração é necessário incluir bons hábitos em sua rotina, como praticar exercícios físicos regularmente, ingerir pelo menos dois litros de água por dia e manter uma alimentação balanceada, consumindo uma grande quantidade de frutas, legumes e verduras e evitando alimentos processados e ricos em gordura, sódio e açúcar”, aconselha.
“O lipedema é uma característica constitucional que pode ser modificada com atividade física, alimentação adequada, medicação e, em alguns casos, meias de compressão. Além disso, é essencial o tratamento de outras patologias associadas, como varizes e pressão alta, para evitar complicações”, destaca a médica.
Por fim, é importante ressaltar que, geralmente, a lipoaspiração não é a primeira escolha de tratamento para o lipedema, sendo reservada para casos mais graves ou quando tratamentos mais conservadores, como terapias de compressão e massagem, não obtiveram sucesso. Por isso, antes de optar por qualquer tipo de terapia para a condição, a consulta com um médico especializado é fundamental.
“Além disso, o lipedema é de difícil diagnóstico, sendo constantemente confundido com obesidade, pois não existem exames específicos para identificação da doença. Cabe então ao médico durante a consulta de avaliação diagnosticar o lipedema corretamente por meio dos sinais clínicos, recomendando assim o tratamento mais adequado para cada caso”, finaliza a Dra. Heloise Manfrim.