Bolachas, miojo, refrigerantes, embutidos e salgadinhos. Você sabe o que esses alimentos têm em comum?
1) São alimentos ultraprocessados, que, apesar de extremamente populares por serem práticos, de baixo custo e altamente palatáveis, podem causar sérios prejuízos a saúde.
2) Tiveram seu consumo aumentado durante a pandemia, principalmente entre a população entre 45 a 55 anos, passando de 9% para 16% justamente nessa faixa etária, que já apresenta o maior percentual de sobrepeso e obesidade, de acordo com levantamento realizado pelo Datafolha.
“Alimentos ultraprocessados são formulações industriais fabricadas a partir de substâncias extraídas ou derivadas de outros alimentos (sal, açúcar, óleos, proteínas e gorduras) e sintetizadas em laboratório (corantes, aromatizantes, conservantes e aditivos). No geral, esses alimentos ultraprocessados possuem sabor mais agradável e um grande prazo de validade, mas são pobres nutricionalmente e ricos em calorias, gorduras e aditivos químicos, favorecendo então a ocorrência de deficiências nutricionais, doenças do coração, diabetes, colesterol e obesidade”, explica a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia. Para se ter uma ideia sobre as consequências desse hábito, estudos apontam que uma dieta composta de apenas 15% de alimentos processados está ligada a um maior risco de morte precoce por todas as causas, principalmente por doenças cardiovasculares. “Cuidado inclusive com produtos ‘fit’, ‘light’, ‘zero’ e ‘diet’, que, apesar de serem vendidos como alternativas saudáveis por terem menos calorias, possuem um maior teor de produtos químicos adicionados”, explica o médico nutrólogo, cardiologista e geriatra Dr. Juliano Burckhardt, membro Titular da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). E a ação desses alimentos no organismo é muito diversa, afetando o bom funcionamento de diversas estruturas. Para entender melhor, consultamos um time de especialistas que explicaram alguns impactos do consumo excessivo desses alimentos.
Confira:
Aumentam o colesterol ruim: Por serem ricos em gorduras trans e saturadas, os alimentos ultraprocessados favorecem o aumento do perfil inflamatório e dos níveis de colesterol e, consequentemente, o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e metabólicas. “Se sua dieta for estritamente rica nesses alimentos, seus níveis de colesterol no sangue serão mais elevados, assim como o risco de doenças cardiovasculares também aumentará. Além disso, o ganho de peso favorecido pelo consumo desses alimentos também aumenta o risco dos níveis altos de colesterol”, diz o Dr. Juliano. “O grande problema dos altos níveis de colesterol no sangue está no fato de ser uma intercorrência silenciosa: o colesterol aumentado pode não causar sintoma nenhum, obstruindo as artérias aos poucos. Então, em alguns casos, a primeira manifestação da alta do colesterol é um evento como infarto ou derrame, quando já é tarde para prevenir”, alerta a cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.
Favorecem o inchaço e a hipertensão: Os alimentos ultraprocessados são ricos em sódio, que está presente mesmo em alimentos doces e sucos para realçar o sabor. E o uso excessivo de cloreto de sódio é o principal fator alimentar que aumenta a prevalência de hipertensão arterial, além de ser ruim para a saúde das veias. “O excesso de sódio é um vilão porque contribui com o aumento de pressão arterial, que é um fator de risco para a doença aterosclerótica e problemas circulatórios, além de piorar a retenção de líquidos e, consequentemente, o inchaço. Se você tem uma dieta muito rica em sódio, você tem maior tendência a retenção de líquidos no organismo”, destaca a cirurgiã vascular Dra. Aline.
Prejudicam o cérebro: Quanto mais calorias você ingerir, o que não é difícil através do consumo de alimentos ultraprocessados, maiores serão as chances de perda de memória. “A razão não é clara, mas um maior IMC (índice de massa corporal) na meia-idade está relacionado a problemas de saúde do cérebro mais tarde na vida. Como se não bastasse, os alimentos ultraprocessados, por serem mais inflamatórios, também aceleram o processo de oxidação do cérebro”, afirma o médico neurologista e neuro-oncologista Dr. Gabriel Novaes de Rezende Batistella, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA). “A ferrugem no guidão de uma bicicleta ou em uma maçã parcialmente comida dá uma ideia do tipo de dano que a oxidação pode causar ao cérebro, danificando as células da região”, completa.
Envelhecem a pele: De acordo com a Dra Marcella Garcez, os alimentos ultraprocessados figuram entre os grandes responsáveis pelo aumento do quadro inflamatório do organismo, além de causarem o estresse oxidativo, que ocorre quando há uma produção exagerada de radicais livres. “Ao danificar o DNA das células da pele, o estresse oxidativo causa uma diminuição na atividade celular, redução da produção e qualidade das fibras de colágeno e elastina e menor poder de cicatrização. O resultado é a aceleração do processo de envelhecimento, com surgimento de flacidez, manchas, rugas, linhas de expressão e perda do viço e luminosidade da pele”, destaca a Dra. Beatriz Lassance, cirurgiã plástica membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Esses alimentos, no geral, têm alto índice glicêmico e também colaboram para o processo conhecido como glicação. “Os alimentos de alto índice glicêmico favorecem a ocorrência de uma reação não enzimática entre a proteína do colágeno e o açúcar presente nos carboidratos e isso leva a formação dos chamados produtos de glicação avançada, AGES, que irão acelerar o processo de envelhecimento celular”, explica a farmacêutica Patrícia França, gerente científica da Biotec Dermocosméticos. E nesse caso, será necessário uso de suplementos anti e desglicantes, como é o caso do Glycoxil. “O Glycoxil irá auxiliar na restauração do equilíbrio metabólico da glicose, insulina e dos minerais minimizando o processo inflamatório associado ao envelhecimento. Também irá contribuir na diminuição da formação dos AGES, ação antiglicante, desglicante, que estão intimamente relacionados a alteração e modificação das funções das proteínas, especialmente o colágeno”, completa a farmacêutica.
Estimulam a produção de oleosidade: O consumo de alimentos ultraprocessados é especialmente prejudicial para quem sofre com oleosidade da pele, já que estimula a produção de sebo, favorecendo, consequentemente, o surgimento de cravos e espinhas. “Por serem ricos em gordura, os alimentos ultraprocessados podem levar a hiperinsulinemia, isto é, altas quantidades de insulina no sangue, o que acarreta no aumento de hormônios androgênicos, que, por sua vez, estimulam a produção de sebo pelas glândulas sebáceas”, afirma a dermatologista Dra. Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Mas, para prevenir todas essas alterações e manter-se saudável por muito mais tempo, a recomendação é adotar uma dieta balanceada. “A regra de ouro para uma alimentação adequada e saudável é optar sempre pelos alimentos in natura ou minimamente processados, aqueles obtidos de plantas ou animais que chegam ao consumidor sem terem passado por nenhum tipo de processamento. Nessa categoria se enquadram alimentos como frutas, legumes, verduras, hortaliças, grãos, nozes e ovos. São eles que provêm os nutrientes necessários para o bom funcionamento orgânico, como os ácidos graxos ômega-3, a vitamina C, os polifenóis e os carotenoides. Também devemos dar preferência às preparações caseiras e restringir ao máximo o consumo dos alimentos ultraprocessados”, aconselha a Dra Marcella Garcez. E, caso você tenha dificuldade para deixar os alimentos ultraprocessados de lado, tente seguir a dica do Dr Juliano Burckhardt: “Embora fazer pequenas mudanças ao longo do tempo seja uma estratégia eficaz para resultados duradouros, eliminar alimentos ultraprocessados por um período de tempo (de uma semana a um mês) pode ajudar a redefinir suas papilas gustativas e colocá-lo no caminho mais rápido”, explica o médico. Mas lembre-se também de comer o que você gosta, pois, caso contrário, dificilmente vai conseguir aderir a mudanças de hábitos. “Não agimos bem quando nos sentimos privados, e se você está comendo comida de que não gosta, está se preparando para o fracasso. Encontre um estilo de alimentação saudável que você adore e que corresponda ao que você goste. Existem muitas opções saborosas e saudáveis demais para se contentar com alimentos que você não gosta”, finaliza o médico nutrólogo.
FONTES:
*DRA. PAOLA POMERANTZEFF: Dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD), tem mais de 10 anos de atuação em Dermatologia Clínica. Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina Santo Amaro, a médica é especialista em Dermatologia pela Associação Médica Brasileira e pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, e participa periodicamente de Congressos, Jornadas e Simpósios nacionais e internacionais. http://www.drapaola.me/
*DRA. BEATRIZ LASSANCE: Cirurgiã Plástica formada na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e residência em cirurgia plástica na Faculdade de Medicina do ABC. Trabalhou no Onze Lieve Vrouwe Gusthuis – Amsterdam -NL e é Membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, da ISAPS (International Society of Aesthetic Plastic Surgery) e da American Society of Plastic Surgery. Além disso, é membro do American College of LifeStyle Medicine e do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida.
*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo.
*DR. JULIANO BURCKHARDT: Médico Cardiologista, Geriatra e Nutrólogo, membro Titular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Especialista também em Clínica Médica, Medicina de Urgência e Ergometria. É membro da American Heart Association e da International Colleges for Advancement of Nutrology. Mestrando pela Universidade Católica Portuguesa, em Portugal. Atua como docente e palestrante nas suas especialidades na graduação e pós-graduação. É diretor médico do V’naia Institute. Diretor Científico Brasil da European Academy of Personalized Medicine. Membro do Corpo Clínico do Hospital Sírio Libanês.
*DR. GABRIEL NOVAES DE REZENDE BATISTELLA: Médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA). Formado em Neurologia e Neuro-oncologia pela Escola Paulista de Medicina da UNIFESP, hoje é assistente de Neuro-Oncologia Clínica na mesma instituição. O médico é o representante brasileiro do International Outreach Committee da Society for Neuro-Oncology (IOC-SNO).
*DRA. ALINE LAMAITA: Cirurgiã vascular, Dra. Aline Lamaita é membro da diretoria (comissão de marketing) da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). Membro da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia, do American College of Phlebology, e do American College of Lifestyle Medicine, a médica é formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (2000) e hoje dedica a maior parte do seu tempo à Flebologia (estudo das veias). Curso de Lifestyle Medicine pela Universidade de Harvard (2018). A médica possui título de especialista em Cirurgia Vascular pela Associação Médica Brasileira / Conselho Federal de Medicina. RQE 26557 http://www.alinelamaita.com.br/
*PATRÍCIA FRANÇA: Farmacêutica e gerente científica da Biotec Dermocosméticos.