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Terapeuta de Sérgio Hondjakoff, Sandro Barros explica a rotina do acompanhante terapêutico

De passeios a relações com demais especialistas, nova função traz uma alternativa para tratamento de dependência química, explica terapeuta do ator Sérgio Hondjakoff

Em tratamento, Sérgio Hondjakoff recebe elogio de terapeuta – Foto: Divulgação/ TV Globo
Em tratamento, Sérgio Hondjakoff recebe elogio de terapeuta – Foto: Divulgação/ TV Globo

O acompanhamento terapêutico vem atraindo cada vez mais os holofotes, principalmente depois que famosos como Bruno Gagliasso e Kayky Brito falaram sobre a questão em suas redes sociais. Complementando o trabalho desenvolvido por psiquiatras e psicólogos, a nova função sai do consultório e explora mais o cotidiano do paciente. Para entender a nova especialidade, conversamos com Sandro Barros, especialista em acompanhamento terapêutico em dependência química.

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“Ainda existem muitas dúvidas sobre o que é essa profissão, e eu gosto de deixar claro que não sou um psicólogo, e sim um terapeuta. Minha formação é diferente e a forma de atendimento também. Me baseio no acolhimento e no encorajamento do paciente, permitindo que ele possa ter todas as ferramentas necessárias para superar o vício”, explica.

Seu trabalho tem como foco recuperar dependentes químicos, como foi o caso do ator Sérgio Hondjakoff

O acompanhamento é feito ao longo de programas diversos, onde os pacientes se sintam à vontade, como praias, parques, restaurantes, museus e praças. Ele também realiza o acompanhamento em grupos de mútua ajuda.

“A ideia é acompanhar a pessoa nesses lugares e observar como ela se comporta. Busco evitar locais que os pacientes possam se sentir tentados a recaídas. Se eu estou fazendo um acompanhamento na praia e chega alguém com alguma bebida, eu sugiro ao paciente ir para outro lugar. É importante a gente estimular situações que o façam superar aquele vício, mostrar que existe toda uma vida além da droga”, detalha.

Importância de conhecer os limites

Apesar da recomendação, certas situações estão fadadas a acontecer, como uma festa de aniversário ou casamento, onde existe o consumo de álcool, e representa uma situação de fragilidade para o dependente. Nestes casos, o terapeuta fala da importância de preservar o momento e conhecer seus limites.

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“Em determinados casos eu acabo agindo como um “agente secreto”. Seja em uma viagem ou uma festa, acompanho o paciente, que costuma me apresentar como um produtor ou um sócio, o que eu acho ótimo, porque evita uma exposição desnecessária, e ali posso lidar com o ambiente. Em uma celebração, por exemplo, eu os estimulo a irem, mas ficarem pouco tempo. Assim eles comparecem, marcam presença e evitam recaídas. Então quando vou a esses eventos os pacientes ficam só na água, estão progredindo”, conta.

Sandro ainda ressalta que a função de acompanhante terapêutico não elimina o trabalho realizado por psiquiatras e psicólogos, muito pelo contrário, serve como um auxílio a esses profissionais.

“O trabalho deles é imprescindível. Somos um time, trabalhando em conjunto para poder ajudar o paciente a superar um momento difícil”, acrescenta.

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Antes x depois da internação

Para o terapeuta, existem dois momentos cruciais para o acompanhamento de um dependente químico, sendo o antes e o depois da internação. Para ele, a internação deve ser o último recurso, uma vez que retira totalmente o paciente do convívio social.

“Procuramos evitar ao máximo, só internando se for extremamente necessário, como o caso em que o paciente se recusa a aceitar ajuda ou corre risco de vida. É uma situação que ninguém quer, principalmente o paciente e a família, realizamos um trabalho pré-internação para prevenir isso. Se for preciso temos todo um processo de pós-internação, reinserindo o paciente na sociedade, na sua rotina. Quando ele é liberado da clínica, está “limpo”, então tem uma clareza maior, sendo um bom momento para realizar o acompanhamento”, conta.

Quanto tempo dura cada tratamento e acompanhamento terapêutico?

Com relação ao tempo de tratamento, ele menciona a singularidade de cada caso, variando entre cada paciente. Para o profissional, o mais importante é que o tratamento seja regular, e não interrompido de forma brusca, uma vez que o acompanhante age como um “ego auxiliar”. Ele também destaca os pilares do sucesso da recuperação.

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“Dormir bem, se alimentar de forma saudável e praticar atividades físicas fazem parte do sucesso, mas o primeiro passo para superar o vício é admiti-lo, e a partir daí conseguimos trabalhar na reparação. Faço um trabalho que foque nas questões básicas de cada um, como a vida profissional, a família, estudos, relacionamentos e tudo o que faz parte do nosso cotidiano. Através do método de “In-dependência química”, trabalho três pontos importantes: a maneira de ser, a forma de pensar, e o jeito de agir. Assim consigo criar uma reflexão no paciente, questionando suas escolhas e encorajando uma mudança”, realça.

Além de trabalhar com paciente de forma particular, Sandro realiza diversos trabalhos sociais, uma vez que o vício não escolhe classe social. Denominado de “Domingo social”, é um movimento que faz todos os domingos, no qual atende pessoas de forma gratuita em seu consultório, em um modelo mais tradicional de terapia.

“É uma alternativa que encontrei para poder ajudar a quem precisa. O tratamento para a dependência química é difícil, e isso acaba excluindo muitas pessoas, então decidi fazer algo para contornar essa situação. Ainda temos uma ação no qual organizamos um grupo para levar alimento, roupas e cobertores para pessoas em situação de rua, e no final ainda ofereço um tratamento gratuito, para tira-las dessa situação precária. Faz parte de um princípio de espiritualidade, no qual devemos sempre ajudar o próximo”, desabafa.

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Quando o dependente reconhece que é viciado?

Para ele, o maior desafio é fazer com que o dependente químico reconheça o vício. A função do terapeuta é inspirar o paciente, gerando reflexão, se importando com a história dela e a encorajando, por meio de elogios verdadeiros e apoio emocional, para que ela possa reencontrar a esperança. Assim, ajudando o paciente a ter resiliência, colocar seus planos em prática e removendo os bloqueios que o impossibilite a viver.

“Sobriedade não é uma simples ausência de álcool ou droga, sobriedade é um estilo de vida. Busco inspirar meus pacientes através da escuta, da observação e do apoio emocional. Permitir que eles recuperem a confiança em si mesmos, e no mundo a sua volta, é o primeiro passo para superar o vício”, finaliza.