Saúde feminina: obstetra aponta consequências da endometriose para a fertilidade da mulher

Segundo o obstetra e ginecologista César Patez, o distúrbio pode comprometer as chances de gravidez

Endometriose pode comprometer fertilidade – Pexels/Nadezhda Moryak

A endometriose é mais comum do que se pensa. A doença atinge de 10% a 20% das mulheres em idade reprodutiva, afetando mais de 6,5 milhões delas somente no Brasil, de acordo com estudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Mesmo assim, muitas mulheres desconhecem a condição e como ela impacta o organismo, especialmente os órgãos reprodutores. 

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Esse distúrbio – ocorrido quando o tecido que reveste o interior do útero, conhecido como endométrio, cresce fora do órgão – tem relação direta com a fertilidade feminina. Nos casos mais graves, é capaz de comprometer as chances de uma mulher engravidar. De 30% a 50% das mulheres com endometriose são inférteis.

“A cada mês, o endométrio é eliminado normalmente na forma de menstruação. Mas, no organismo de algumas mulheres, esse tecido biológico surge em locais inadequados, como ovários, trompas, intestinos, bexiga, apêndice e vagina. Esse fenômeno é o que chamamos de endometriose”, explica o obstetra e ginecologista César Patez.

Esse processo inflamatório pode causar um ambiente hostil para o processo de ovulação e fecundação. 

“O endométrio saudável também corre risco de ser atacado dentro do próprio útero, atrapalhando a implantação do embrião já em formação. Sem contar as aderências que pode causar no local e alterar a arquitetura das trompas e ovários, favorecendo a infertilidade”, afirma.

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A maioria dos diagnósticos de endometriose é obtido a partir dos sintomas, que além da dificuldade de engravidar, a condição apresenta dores pélvicas, quase sempre associadas ao ciclo menstrual. “Outros sintomas bastante frequentes são as dores no abdômen, durante as relações sexuais, ao urinar e evacuar, além de cólicas intensas, fadiga e diarreia”, lista o médico.

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Buscar um diagnóstico preciso, a partir de exames e consultas regulares, é a melhor forma de entender como a doença afeta o organismo, especialmente quando o assunto é a infertilidade.

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“O diagnóstico pode demorar anos, porém investigar a história clínica de dores frequentes já é um passo muito importante. Vale lembrar que a genética também pode estar associada a essa predisposição. A possibilidade de ficar grávida vai depender do grau de comprometimento da doença, especialmente nos órgãos principais, como tubas uterinas e ovários. A partir disso, podemos lançar mão de exames de imagem como ultrassonografia, ressonância magnética pélvica e abdominal para entender melhor cada caso”, descreve Patez.

“Nos casos de operação, o tecido comprometido é retirado, a reação imunológica é reduzida e as chances de uma gravidez saudável e sem riscos aumentam. A avaliação da reserva ovariana também é fundamental, pois uma fertilização em ambiente com menos inflamação pode favorecer e muito as chances de êxito. Após a regeneração do corpo, as chances do casal conseguir a gestação espontânea e natural pode chegar a 70% em até 18 meses”, indica.

A doença também pode ser tratada a partir de outros métodos. “A estratégia ideal é escolhida a partir da análise de alguns fatores, como a idade da paciente e a gravidade dos sintomas. Os tratamentos mais comuns envolvem a interrupção do ciclo menstrual, o que normalmente é feito com medicações de uso contínuo, consumo de medicamentos análogos de GnRH, a utilização de itens como o DIU e alguns implantes hormonais”, aponta.

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“Já a cirurgia laparoscópica é recomendada em situações mais graves, como a própria infertilidade, comprometimento de órgão vitais e dores pélvicas intensas, cujo tratamento convencional não trouxe melhora”, enfatiza o especialista.

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Hábitos de vida saudáveis são ótimos aliados para a prevenção da doença, como uma alimentação equilibrada e prática de atividades físicas. O obstetra e ginecologista também destaca visitar um profissional da saúde com regularidade.

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“Quanto mais precoce for o diagnóstico, maiores são as chances de um tratamento satisfatório e eficaz. Portanto, não deixe de procurar o seu médico de confiança e investigar se os sintomas que está sentindo são normais ou indicam alguma alteração em seu corpo”, completa.