Filho preferido é assunto espinhoso. Ninguém gosta de falar e, muito menos, admitir. É feio. A mãe dedicada se empenha com esforço em não deixar que ninguém perceba ou sinta os batimentos de seu coração. Há uma crença de que filhos precisam ser amados da mesma forma, com a mesma intensidade, e ela segue essa regra.
Sem perceber e com a melhor das intenções, pais e mães insistem na tecla do amor igual, e assim deixam de enxergar pessoas e veem apenas filhos. Não querem lidar com a saia justa de ter que assumir as singularidades, diferenças e afinidades que se desenvolvem naturalmente com os filhos ao longo do tempo.
Não querem cuidar das feridas infantis, e em algum momento podem ter sentido na pele as diferenças do amor dos pais. Negam com veemência e colocam esse tópico debaixo dos tapetes emocionais. A criança rejeitada do passado não deseja transmitir essa chaga. Mas será que assim é o melhor jeito de agir?
Importância de admitir as diferenças dos filhos
Quando não se dá espaço para o que se sente e a moral rege o pensamento sobre as emoções, invariavelmente acontece uma transferência dessa mesma régua para as pessoas ao redor. Admitir as preferências e afinidades parece pior do que cuidar delas. Esse foi o aprendizado, mesmo que silencioso, sobre o que fazer diante de alguma emoção ruim. Essa foi a decisão tomada diante do coração partido de criança.
Mas olhar com honestidade para aquilo que nos toca mais como pais e mães não significa deixar de amar os que não correspondem a essa expectativa. Pelo contrário. Quanto menos negamos e nos aproximamos, mais conseguimos olhar e identificar, para que, assim, possamos cuidar. Essa possibilidade abre espaço tanto para o sentir dos pais quanto para o ser dos filhos. Eles são diferentes e isso não é um problema.
Temos filhos diferentes e tratá-los ou amá-los da mesma forma é invisibilizar as subjetividades que nos compõem. É preciso encarar essas diferenças e acolhê-las, como quem trata de um jardim, com flores das mais variadas: grandes, pequeninas, delicadas, robustas, coloridas, rasteiras, altas, frondosas, manhosas. Todas flores.
Diante desse Burle Marx à sua frente, mostre-se curioso, atento. O que cada flor desse jardim tem que me emociona, me chama atenção, me faz rir? O que cada um precisa? São esses questionamentos que nos permitem apreciar as sutilezas incontroláveis e adoráveis que nossos filhos carregam.
Por Lua Barros – educadora parental e mãe de quatro filhos. É também autora do livro Eu Não Nasci Mãe.