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Diabetes: a importância da representatividade da doença nas redes sociais

Bate-papo exclusivo com Biabética, a influenciadora que transforma o olhar dos diabéticos pelas redes sociais

Influenciadora nas redes sociais, Biabética fala sobre diabetes com leveza e inspira portadores da doença – Instagram/ @biabetica

Só quem é sabe. Diabética desde os 8 anos, eu, Maylla Rodini, jornalista que vos escreve, senti na pele o que a falta de informação de qualidade e que alcance todos os públicos, e o que as intervenções externas regadas a senso comum podem acarretar.

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Meu primeiro contato foi por meio de uma cartilha, de umas 5 páginas, onde me diziam pra comer uma fruta em casos de hipoglicemia, fazer exercícios leves diariamente e me mostravam pontos para a aplicação da insulina. Quando fiquei mais velha e pensei em procurar na internet algo que me chamasse mais atenção, só encontrei vídeos no Youtube com profissionais de palavras difíceis e chatas.

Depois de grande, fui muito resistente em começar a seguir pessoas com a mesma doença que eu nas redes sociais. Muitas vezes, sentia que os exemplos de vida eram distorcidos, e que ninguém demonstrava algo perto do que eu passava ou sentia. E se você acha que esse caso se trata de um caso isolado, você está enganado. Foi aí, após uma internação extremamente turbulenta em decorrência da diabetes, que conheci a Beatriz Scher (@biabetica). A Bia (mais conhecida como Biabética), é uma das poucas influenciadoras especializadas em educação em diabetes que me cativou desde o primeiro momento.

+++ Casos de diabetes aumentam em 2021; cerca de 573 adultos sofrem com a doença

DIABETES + REDES SOCIAIS: CONHEÇA A INFLUENCIADORA BIABÉTICA 

Ela é cofundadora da CarpeDM, startup que conecta pessoas com doenças crônicas e Community Menager da WinSocial, startup que criou o primeiro seguro de vida para pessoas com diabetes.

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A influenciadora, além de criar e adaptar produtos que facilitam a nossa rotina, também mostra seu dia-a-dia de maneira leve, com verdade, com um toque de humor e ao mesmo tempo com muita responsabilidade e consciência enquanto pessoa pública. Também ajuda muitas mulheres a se sentirem confiantes, mesmo vivendo com uma bomba de insulina ligada ao corpo 24hrs por dia.

Se você é diabético, conhece algum diabético ou apenas não quer fazer parte do senso comum, leia essa entrevista que fizemos com a Bia.

 

Bia, no seu perfil você cita muitas vezes a dificuldade de auto aceitação dos pacientes para lidar com a diabetes. Como foi pra você a descoberta da diabetes e essa fase de aceitação?

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Sempre costumo dizer que foi tranquila, pelo fato de ter ocorrido na infância. Mas, eu dei a sorte de ter uma profissional, no primeiro momento, que tinha diabetes. Então ela acalmou meus pais, no dia do diagnóstico, e disse que se eu cuidasse da diabetes, provavelmente eu não teria nenhuma sequela, mas que não poderia em nenhum dia da minha vida deixar de cuidar! Meus pais também me passaram muita segurança e provaram para mim, todos os dias, que eu poderia fazer o que eu quisesse, que não seria limitada. Nunca me senti inferior por ter diabetes, já que isso é apenas uma característica minha, e não me define por completo. Também fiz muita terapia, e indico para todos, até para quem não possui a doença.

No início, você tinha facilidade para achar pessoas que trouxessem informação e que te influenciassem, do modo que você faz hoje em dia pelas redes sociais? Quem foi sua maior influência para entrar de cabeça nesse assunto e se tornar o que é hoje?

Eu não tinha muitas pessoas para trazer informação, apenas minha médica. Buscávamos informações nela e nas revistas que ela nos dava. Durante muitos anos eu não me lembro de ter esse tipo de informação fácil. Por isso digo que a minha maior influência foi ela. Vê-la com dois filhos, médica, com uma vida maravilhosa e sem complicações me fez pensar que se eu me cuidasse eu também poderia ser assim. Também vi que ela fazia um lindo trabalho de educação em diabetes no seu consultório, e usei como inspiração para escrever sobre e para me conectar com outras pessoas que falassem sobre isso também.

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Recentemente você fez um post sobre o número elevado de diabéticos com depressão. Na sua opinião, quais fatores após o diagnóstico que elevam esse número? E o que é essencial que os diabéticos façam para driblar a depressão?

O fato de a pessoa viver com uma condição crônica de saúde é muito intenso! Ela convive com aquilo todos os dias, o que gera uma carga emocional muito grande e negativa de certa forma. É chato ter diabetes, furar o dedo todos os dias e ter que se preocupar com seus controles glicêmicos. Isso acaba pesando muito emocionalmente. E até as pessoas que lidam muito bem com a doença, podem ter em algum momento episódios de depressão e ansiedade. Mesmo que não seja em decorrência da doença, isso acaba afetando a diabetes, que foi o que aconteceu comigo em um certo período. Os preconceitos existentes em pessoas que não entendem como vivemos também se torna um fator. Muitas pessoas dizem que quem tem diabetes, tem por culpa própria. Tem muitas mentiras e mitos sendo compartilhados que nos fazem sentir limitados e culpados. E não precisa ser assim, mas precisa ser mais falado!

No seu perfil, você fala sobre as mentiras que o senso comum traz para o âmbito da diabetes. Um exemplo disso são as frases “Diabético não pode comer açúcar”, ou “Quem tem diabetes morre mais cedo”. Como quebrar esses mitos que existem a tanto tempo na sociedade?

A maneira mais fácil de quebrar esses mitos é falando e mostrando a realidade. O meu perfil foi criado exatamente com o objetivo de mostrar pra essas pessoas que uma vida com diabetes e normal é possível. Que eu posso fazer muitas coisas, como comer um doce, fazer um exercício mais pesado e viajar, com responsabilidade e mantendo o meu controle glicêmico. A gente combate a desinformação com educação, por isso falo sempre que a educação em diabetes liberta. Ela liberta a pessoa que têm diabetes e que vai começar a saber mais sobre a própria condição, e liberta a sociedade desses mitos.

Acompanhando seu perfil, percebo que você mostra uma rotina real, com “escapadinhas” e as vezes até com um senso de humor mais aflorado sobre situações corriqueiras da nossa rotina, enquanto diabéticos. Como equilibrar a ética e a leveza que seus seguidores tanto comentam, nessa rotina real?

É uma questão que depende mais do ponto de vista. Tem dias que a minha glicemia está uma montanha-russa, nesses dias eu não fico tão animada. Mas entendo que aquilo não vai estragar o meu dia, pode estragar apenas aquele momento. Tento lidar como lido com os problemas do dia-a-dia, aceitando essa diversidade e equilibrando a ética e leveza.

Quando você percebeu que poderia deixar de ser apenas a Bia com diabetes e se tornar a biabética, empreendedora e que influencia pessoas?

Assim que criei o perfil, em 2015, percebi que essa mudança seria possível. Quando muitas pessoas começaram a me responder, a querer saber mais e a se interessar, eu disse: Olha, isso pode ser um trabalho, uma fonte de renda! Durante um tempo fiz de forma despretensiosa, até que em 2020, quando percebi que não daria conta sozinha, comecei a profissionalizar mais. Contratei pessoas para me ajudar e a empreender realmente.

Hoje em dia, você cria e adapta muitos produtos que são vendidos na sua loja para maior facilidade no nosso dia-a-dia. De onde veio o ponto de partida para a criação dessas novas utilidades, como a faixa de perna? Veio da sua vivência ou de observar as necessidades de seus seguidores?

Em 2017, eu comecei a minha loja. Após ver uma foto de uma gringa que tinha um adesivo decorativo para o monitor de glicemia dela, o que achei muito legal! Então imprimi em um papel um adesivo simples e postei uma foto, que fez um sucesso absurdo. Nesse ponto percebi que outras pessoas gostariam de ter um adesivo daquele também. Então comecei a pesquisar pra saber como poderia fornecer aquilo pra elas. Comecei nesse ponto, mas depois disso tudo, cresceu muito mais. Foi quando percebi o sorriso no rosto das pessoas por conseguirem cuidar da rotina da diabetes de forma mais leve e engraçada, como nas frases das camisetas da minha loja. Esse objetivo de leveza na hora dos cuidados, já existia e segue sendo o mesmo.

Você ajudou na autoestima de muitas mulheres, que são suas seguidoras, com a criação da faixa de perna de renda. Você imaginou que além de uma facilidade a mais, seria também um item que faria mulheres se sentirem mais confiantes usando a bomba de insulina?

Com certeza! Exatamente por ser um produto sexy e que ajuda na “hora do vamos ver”. Não foi criado com esse intuito, mas as pessoas acabaram adaptando para isso. É um produto que traz um empoderamento. A mulher que veste uma renda, se sente bonita, sexy e desejada. Além de ser uma facilidade para a rotina das mulheres que precisam usar saias e vestidos, e que não se sentem confortáveis deixando a bomba a mostra. A ideia é que seja bonito e funcional, e que sirva até para as mulheres que não tem diabetes. Tudo foi pensado para ajudar na aceitação da diabetes. Eu uso, e me sinto poderosíssima!

E pra finalizar, qual a importância de falar sobre diabetes fora do âmbito hospitalar, de maneira leve, acessível e quebrando paradigmas?

A importância é ter cada vez mais exemplos de pessoas reais! Nós ouvimos muito os médicos falando, mas temos poucos exemplos de vivência para identificar pessoas na mesma condição que a gente. Para trocar experiências e sentimentos. Hoje eu tenho um grupo de amigas diabéticas, que me dão conforto quando me sinto mal por ter uma hipoglicemia, por exemplo. Elas sabem o que eu estou sentindo e me entendem, então esse contato com outras pessoas diabéticas é extremamente importante. Até porque, no hospital o clima parece ruim, pois fica muito ligado a doença em si. Ir para outros lugares pegar informações, estimula o autocuidado e a comunicação com pessoas que sentem o mesmo que você. E como mensagem final, gostaria dizer para que as pessoas procurassem cada vez mais, perfis de diabéticos para se informar, inspirar, e principalmente acompanhar a rotina dessas pessoas. Você vai se identificar, e o mais importante, ver que não está sozinho!

E se você quer seguir o conselho da Bia, aqui vão alguns nomes de influenciadores especializados em educação em diabetes pra você acompanhar:

@noellydantas

@nutri.anacarolina

@amigosediabetes

@somaisumadm1

@pancreasartificial

@umdiabetico

@eueabete

@joaotipo