Uma cirurgia realizada em um bebê dentro da barriga da mãe ocorreu pela primeira vez na rede pública de saúde da cidade de São Paulo no último mês de junho, no dia 24 de junho. O objetivo era corrigir uma má-formação dos ossos da coluna do feto.
Até a ocasião, um procedimento do tipo só tinha sido realizado no sistema público estadual e na rede privada. Desta vez, a cirurgia aconteceu no Hospital e Maternidade Vila Nova Cachoeirinha, na Zona Norte da capital.
O início dessa operação no sistema público tem potencial para mudar a vida de muitas crianças que ainda nem nasceram, de acordo com o obstetra e ginecologista César Patez. Pouco explorada entre os médicos, a cirurgia fetal é um ramo focado em estratégias para tratar e corrigir problemas congênitos enquanto o feto ainda está no útero da genitora.
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“É um processo realizado por via intra uterina ou pré-natal. Isso, na rede pública de saúde, que atinge um grande número de pessoas, é estratégico não só para o tratamento específico da criança e da gestante, mas também para prevenir futuros casos de espinha bífida e mielomeningoceles, por exemplo. É capaz, sobretudo, de salvar muitas vidas”, explica.
“Infelizmente, ainda não é uma realidade tão presente em nosso país por ser uma cirurgia bastante cara e que exige uma equipe altamente capacitada e treinada. A sua cobertura por operadoras de saúde muitas das vezes é negada.”.
Toda cirurgia de alta complexidade, como a fetal, envolve riscos. Mas é verdade que a sua eficácia é enorme. “É uma técnica que pode aumentar a sobrevida em 70 a 80% dos casos. Antes, as chances de sobrevivência eram bem mais baixas”, afirma
A cirurgia fetal é indicada quando um diagnóstico de malformação fetal é confirmado, e, ao mesmo tempo, as suspeitas de anormalidades cromossômicas são afastadas.
“Inicia-se praticamente uma corrida contra o tempo. A técnica de cirurgia fetal mais recomendada depende do tipo e grau da gravidade de cada caso, assim como a idade gestacional e as condições de saúde da futura mamãe”, afirma o profissional.
Segundo César, existem três tipos de cirurgia fetal: a cirurgia a céu aberto, na qual os órgãos ficam mais expostos; a fetoscópica, que é minimamente invasiva; e as terapias percutâneas, nas quais se faz uma punção na pele para o acesso do organismo. “Em todos os casos, é preciso fazer um corte longitudinal para chegar ao útero, para, em seguida, acessar o corpo do feto”, acrescenta.