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Esgotamento físico e mental atinge mais as mulheres no ambiente de trabalho – Pexels/energepic.com

As condições e as demandas do ambiente de trabalho estão diretamente ligadas ao estado emocional de uma pessoa. Desmotivação e exaustão são algumas das características que meios profissionais podem desencadear em seus funcionários com pedidos de tarefas excessivas e a curto prazo, por exemplo. Em 1974, o psicanalista alemão Herbert Freudenberger já analisava a condição como um distúrbio psíquico, chamado de síndrome de burnout, ou do esgotamento profissional. 

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De acordo com dados da International Stress Management Association, 32% dos trabalhadores brasileiros são acometidos. “Em muitas das vezes a pessoa não percebe que tem relação com o trabalho, mas quando são afastadas ou entram em férias elas melhoram, os sintomas diminuem”, diz o psicanalista e psicólogo Ronaldo Coelho, e ressalta que a diferença desse adoecimento para os outros é a sua causa, que é ocupacional. Quando os sinais de burnout começam a surgir e vão até o esgotamento, “a pessoa realmente não consegue mais ir ao trabalho ou mesmo desenvolver qualquer tarefa, mesmo que de casa”.

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E os casos dessa síndrome são ainda mais elevados quando se trata das mulheres. A pesquisa Women in the Workplace 2021, feita pela consultoria McKinsey & Company e pela organização LeanIn, mostra que das mais de 65 mil pessoas entrevistadas nos Estados Unidos e Canadá, 42% das mulheres relataram sofrer com a síndrome de burnout, enquanto o índice entre os homens foi de 35%. Em um cenário patriarcal nas corporações, Ronaldo Coelho fala que as mulheres precisam enfrentar ambientes de trabalho machistas, com colegas que as deslegitimam em seu saber e, consequentemente, exigem mais delas. Tudo isso somado aos cuidados domésticos, “que afetam muito mais as mulheres do que os homens”. O resultado é uma carga tripla, considerando um homem ocupando a mesma função que uma mulher, como aponta o psicólogo. “Pode parecer coisa do passado, mas esse cenário é mais comum e presente do que podemos imaginar”.

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Para que se tomem ações efetivas contra o avanço da síndrome, é preciso que as organizações passem a se responsabilizar pela saúde de seus membros. “As organizações que não se atentarem para o quanto seu ambiente de trabalho está insalubre podem sofrer processos judiciais e manchar sua imagem no mercado. Acredita-se que por esse motivo as empresas comecem a cuidar melhor das condições de trabalho e da saúde mental de seus funcionários”, comenta Ronaldo. 

Em uma sociedade acelerada, o psicanalista acredita que seja muito difícil retroagirmos em relação à aceleração. “Podemos desacelerar, mas mesmo assim estaremos acelerando”. Mas a questão das relações de trabalho e saúde está mais ligada a fatores de superexploração do trabalho e de condições precárias, de desgaste e estresse causados por relações desumanas no ambiente organizacional, em que “muitas vezes não é o fato de acelerar o problema, mas o fato de o profissional não ter o menor controle sobre essa aceleração, tendo sempre que estar além do seu limite”.

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