Cancelamento, monstro, quarto branco, paredão, ambientes da casa, restrições alimentares, convívio constante. Como isso afeta o psicológico dos participantes e como lidar? Vanessa Gebrim esclarece as principais dúvidas sobre o assunto.
Os comentários sobre a casa do BBB 22 ou mesmo os conflitos entre os participantes do programa estão entre os assuntos mais comentados na internet. Uma das escolhas da produção do programa é sempre trazer uma decoração com muita informação, o que também impacta no comportamento das pessoas. Além disso, o confinamento muitas vezes deixa todos à flor da pele.
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DECORAÇÃO DO BBB 22: CORES INTERFEREM NO COMPORTAMENTO DAS PESSOAS
De acordo com a psicóloga Vanessa Gebrim, já foi comprovado que as cores interferem no comportamento das pessoas. “Se formos pensar no que o ambiente influencia no ser humano e como a pessoa acaba sendo impactada por ele, teríamos mais atenção a isso. Mas esse não é o objetivo do BBB. A própria composição da casa, com suas cores, muitas coisas misturadas, muitos materiais na decoração, fomentam os agentes estressores. E isso foi pensado para estimular em excesso as pessoas para que fiquem mais suscetíveis ao desequilíbrio emocional”, comenta a especialista.
Os ambientes que não combinam entre si também podem ter sido uma escolha proposital, já que o participante sai de um ambiente carregado e vai para outro ainda mais carregado. “O cérebro acaba recebendo tanta informação que não relaxa. Isso pode gerar estresse e ansiedade. O objetivo acaba sendo causar essa sensação de desconforto e muitos estímulos de informações em todos os cantos. Tem poucos elementos naturais, poucas janelas, ou seja, é o oposto do que seria apropriado ao relaxamento”, explica Vanessa Gebrim.
Ainda de acordo com ela, uma casa com muita informação, cores, materiais interferem no nosso humor, produtividade, sono e gera sentimento de angústia, ansiedade e estresse. “A iluminação também acaba influenciando no emocional. A luz quente traz aconchego e a luz fria acorda. A impressão que eu tenho é que na casa do BBB é tudo invertido justamente para a pessoa ficar constantemente ligada e acordada! Muita cor ao mesmo tempo atrapalha e o excesso de informações afetam diretamente as emoções e a saúde mental”, revela Vanessa.
“Além de ficarem presos, o excesso de estímulos da decoração e a pressão de estarem em um programa ao vivo, o fato de conviverem com pessoas diferentes, o uso constante de bebida alcóolica, a política do cancelamento e o fato de serem vigiados o tempo todo, fazem com que os participantes fiquem tensos e agitados e acabam perdendo o controle das situações”, complementa a psicóloga.
Ansiedade no BBB 22 e no Brasil
O Big Brother Brasil é o reality mais famoso do país, no dia a dia, os confinados acabam passando por muitas situações que também acontecem no cotidiano do público em geral. “Naiara Azevedo sofreu uma grave crise de ansiedade e precisou ser amparada pelos colegas de confinamento. O transtorno de ansiedade é mais comum do que se imagina. A ansiedade e a síndrome do pânico são sérios problemas de saúde mental enfrentados por muitos brasileiros. Os sintomas podem ser tanto físicos quanto mentais. Os principais são formigamento, coração acelerado, falta de ar, tremor, suor e sensação de que algo ruim vai acontecer”, alerta a especialista.
Segundo Vanessa, a melhor forma de ajudar alguém no momento da crise é ensinar a respirar. “Voltar a sua atenção para o movimento de inspiração pelo nariz e expiração pela boca é uma técnica muito efetiva. Além de proporcionar calma, o controle da respiração reduz as reações do sistema nervoso autônomo. Os participantes devem sempre acolher a pessoa com crise de ansiedade. No caso da produção, é sempre recomendável ter um psicólogo e um psiquiatra disponíveis para esses casos devido à pressão ser muito grande”, explica a especialista.
Conflitos dentro da casa
Muitas pessoas estão reclamando que nesta edição os conflitos são menores do que no último ano, a psicóloga Vanessa Gebrim acredita que é muito difícil não ocorrer conflitos até o final do programa. “O próprio ambiente estimula a competição entre as pessoas e isso acaba facilitando confusões e brigas. Como é um jogo, não dá pra fazer amizade com todo mundo o tempo todo. O jogo ali é eliminar os participantes e evitar a própria eliminação. Na vida normal, em alguns momentos, a pessoa consegue escapar das situações que geram conflito, no BBB não tem como fugir. A pessoa tem que lidar e resolver lá dentro. Por isso fica mais difícil evitar os conflitos”, conta.
Ela ainda revela que mesmo que alguns fatores acabem turbinando alguns tipos de comportamentos, isso não significa que todos irão perder o equilíbrio no jogo. “Isso vai depender da dinâmica de cada pessoa, como ela lida com a vida, com seu repertório emocional e como isso influencia nos seus relacionamentos. Com certeza, vai se sair melhor quem tiver resistência emocional, resiliência e carisma para conquistar o público. Com o tempo, a pessoa com inteligência emocional e maior jogo de cintura terá mais facilidade de manter o equilíbrio. No geral, é aquela com mais facilidade de se adaptar ao ambiente cheio de estímulos que vai prevalecer, é como ela lida com as relações, com o jogo, a competitividade e a pressão. Essa com certeza terá mais chances de vencer”, revela Vanessa Gebrim.
Outro ponto que também afeta os participantes é colocar o participante no quarto branco, em que o confinado tem uma privação sensorial extrema, e a iluminação constante acaba desregulando o relógio biológico da pessoa. “Saber a diferença entre o dia e a noite e a hora de dormir é fundamental para que o cérebro regule a produção de hormônios importantes para o funcionamento do corpo, como a melatonina. Sem ela, a pessoa não dorme. E sem dormir a pessoa caminha para o estresse absoluto, causando irritabilidade, nervosismo, podendo fazer com que o indivíduo chegue à exaustão”, explica Vanessa Gebrim.
Sobre Vanessa Gebrim
Vanessa Gebrim é Pós-Graduada e especialista em Psicologia pela PUC-SP. Teve em seu desenvolvimento profissional a experiência na psicologia hospitalar e terapia de apoio na área de oncologia infantil na Casa Hope e é autora de monografias que orientam psicólogos em diversos hospitais de São Paulo, sobre tratamento de pacientes com câncer (mulheres mastectomizadas e oncologia infantil). É precursora em Alphaville dos tratamentos em trauma emocional, EMDR, Brainspotting, Play Of Life, Barras de Access, HQI, que são ferramentas modernas que otimizam o tempo de terapia e provocam mudanças no âmbito cerebral. Atua também como Consteladora Familiar, com abordagem sistêmica que promove o equilíbrio e melhora relações interpessoais. Tem amplo conhecimento clínico, humanista, positivista e sistêmico e trabalha para provocar mudanças profundas que contribuam para a evolução e o equilíbrio das pessoas. Mais de 20 anos de atendimento a crianças, adolescentes, adultos, casais e idosos, trata transtornos alimentares, depressão, bullying, síndrome do pânico, TOC, ansiedade, transtorno de estresse pós traumático, orientação de pais, distúrbios de aprendizagem, avaliação psicológica, conflitos familiares, luto, entre outros.