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Covid-19 x doenças autoimunes: médico da linha de frente do combate ao coronavírus fala sobre relação entre doenças

O Dr. Fábio Jennings também foi voluntário da vacina produzida em Oxford e falou sobre suas expectativas com os resultados

”As pessoas nunca voltaram tanto os olhos para a ciência como agora”, explica Fabio Jennings – Pexels

No Brasil, o primeiro caso de infecção pelo novo coronavírus foi detectado em 25 de fevereiro de 2020. De lá para cá, nesses 5 meses e alguns dias que se passaram, os casos só aumentaram, ultrapassando a marca de 2,5 milhões confirmados e chegando ao número de 90 mil mortes.

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Nesse meio tempo, para se proteger do perigo, muitas medidas preventivas foram sendo aplicadas para frear a disseminação no vírus e, principalmente, proteger os pacientes do grupo de risco — que têm alta taxa de óbito pela doença. Porém, diferente do que se acreditava lá em fevereiro, o grupo de risco abriga muito mais gente do que se tinha conhecimento anteriormente.

O assunto ganhou maior visibilidade com a morte de Rodrigo Rodrigues, apresentador da Rede Globo e do canal a cabo SporTV, de 45 anos. O jornalista estava com diagnóstico de COVID-19 há 15 dias quando, após sofrer uma trombose venosa cerebral (TVC), veio a óbito

O caso gerou muita repercussão e o médico Fábio Jennings, Assistente Doutor da Disciplina de Reumatologia da Universidade Federal de São Paulo, explicou a relação entre as duas doenças.

Quando questionado se havia sido um caso isolado o do apresentador, o especialista garantiu que não. “Não foi um caso isolado. Ele, além de provocar o processo inflamatório importante nos pulmões, altera a coagulação sanguínea e provoca fenômenos que chamamos de embólicos e trombóticos. A trombose de veias nos membros inferiores, na artéria do pulmão, AVC (acidente vascular cerebral)… São fenômenos que têm tido, sim, impacto nos pacientes”. 

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O médico, que tem trabalho na linha de frente do combate ao coronavírus, complementou: “Inclusive, tem um marcador sanguíneo que quando já mostra um nível elevado no início do quadro, já é preciso começar com anticoagulação, mesmo sem manifestação. Isso é usado como prevenção do fenômeno trombótico”. 

Fabio Jennings é um dos médicos da linha de frente no combate ao novo coronavírus
Fabio Jennings é um dos médicos da linha de frente no combate ao novo coronavírus – Foto: Instagram/ @fabiojennings

ALERTA PARA A MUDANÇA DOS PACIENTES DO GRUPO DE RISCO

Asmáticos, pessoas com doenças do coração, fumantes, diabéticos. Além de idosos, esses são alguns dos grupos de risco que estão mais suscetíveis a pegar a covid-19. Pacientes com doenças mais debilitantes têm menor capacidade de frear o vírus, aumentando o risco de ele cair na corrente sanguínea, atingir os pulmões e provocar pneumonia.

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Inicialmente, acreditava-se que o novo coronavírus atacava, basicamente, os pulmões e o aparelho respiratório. Porém, hoje já existem muitos estudos que comprovam o ataque dele ao coração, vasos sanguíneos, nervos, rins e pele. Aliás, no início de julho, um estudo realizado por pesquisadores da University College London (UCL), do Reino Unido, e publicado na revista científica Brain, indicou que o SARS-CoV-2 causa complicações neurológicas mesmo em pacientes com sintomas leves ou em recuperação, sendo que, muitas vezes, elas não são sequer detectadas ou então o são bem mais tarde.

Considerando todas as novas informações, além de todos os pacientes que já haviam sido classificados no grupo de risco, outros também entraram para a lista, são eles: “Obesos, mesmo os jovens, pacientes que não têm a hipertensão controlada (porque quem tem o controle, geralmente não apresenta maiores problemas), quem possui insuficiência cardíaca ou qualquer outro problema cardíaco, os pacientes que já tiveram insuficiência coronariana… Temos tido também muitos pacientes transplantados, idosos, claro, e temos estudado também os pacientes das doenças autoimunes. Uma doença autoimune que não esteja controlada é também um fator de risco, além dos pacientes com as doenças respiratórias, que já têm um quadro pulmonar prejudicado, com doenças”.

PACIENTES DE DOENÇAS AUTOIMUNES

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As dúvidas da comunidade científica em torno do novo coronavírus são inúmeras ainda. Os questionamentos aumentam quando entra em pauta a relação das doenças autoimunes (ex Diabetes mellitus tipo 1; Lúpus eritematoso sistêmico; Artrite Reumatóide; Doença de Crohn; Esclerose Múltipla) com o novo coronavírus.

De acordo com Fábio Jennings, “os pacientes das doenças autoimunes, em geral, não têm apresentado um número maior de pacientes graves em relação à população geral, por enquanto. A Eular (European League Against Rheumatism – em português: Liga Européia Contra o Reumatismo) tem acompanhado de perto os casos e emitido relatórios completos sobre o assunto. O que se sabe é que pacientes com a doença controlada caem para o risco da população geral. Já os pacientes que fazem uso de imunossupressores, não estão com a doença controlada e têm crises frequentes, entram, sim, para o grupo de risco”.

VOLUNTÁRIO PARA A VACINA DE OXFORD

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Se por um lado a sociedade teve de se adaptar, por outro a comunidade científica também mudou, trabalhando cada vez mais rapidamente para encontrar uma vacina que seja capaz de combater o vírus, e consequentemente, salvar inúmeras vidas — e sobre esse assunto, Jennings sabe muito bem!

Voluntário nos testes que desembarcaram no Brasil, diretamente da Universidade de Oxford, na Inglaterra, o Dr. pontuou: “Na minha cabeça, como médico e alguém que trabalha em uma Universidade, como pesquisador e também com produção de conhecimento, não só na parte de ensino — não entra que exista um movimento no qual as pessoas sejam anti-pesquisa e anti-vacina, porque é tudo que a gente prega. Quando anunciaram os testes na Universidade, eu fiquei animado. Mandei dois e-mails dizendo que eu queria, sim, ser voluntário, porque eu sempre estive do outro lado, como pesquisador, e estava do outro lado tratando dos pacientes, mas eu queria me prestar àquilo”. E ainda completou: “Se todo mundo está onde está, se as pessoas estão vivendo mais, se atualmente não morrem mais de tuberculose como antes, se não morrem mais de sarampo e rubéola é graças às vacinas e aos tratamentos com antibióticos, que são frutos que muita pesquisa”. 

VACINAS PARA PACIENTES DE DOENÇAS AUTOIMUNES

Pacientes de esclerose múltilpla, de lúpus ou qualquer outra doença autoimune precisam tomar cuidado com as vacinas! Quando produzidas com o vírus vivo, são contraindicadas na maioria das situações. Porém, de acordo com Fábio Jennings, até o momento, tudo indica que os portadores poderão, sim, usufruir dos principais produtos que estão em teste, caso sejam aprovados.

“A vacina chinesa que chama Coronavac é uma vacina de vírus inativado, não é uma vacina que tem o vírus vivo. E na de Oxford só é usada uma partícula do vírus. Não chega a ser patogênica ao ser humano. Então, para esse tipo de vacina, não tem contraindicação formal, até o momento, para as doenças autoimunes. As vacinas contra indicadas são as de vírus vivo, como a vacina da febre amarela. E não é que as vacinas de vírus vivo sejam completamente contra indicadas também. É preciso colocar na balança a necessidade do paciente de tomá-la e se a doença (autoimune) está em atividade ou não”.

“É nessa fase em que as vacinas estão que nós poderemos saber melhor sobre isso [atuação no organismo dos portadores das doenças autoimunes], com os testes etc, mas por enquanto não há contra indicação”, finaliza o médico.

 


Fabio Jennings

Assistente Doutor da Disciplina de Reumatologia da Universidade Federal de São Paulo
Coordenador da Comissão de Reabilitação e Exercício Físico da Sociedade Brasileira de Reumatologia 
Médico do Corpo Clínico do Hospital Israelita Albert Einstein
Consultório em SP: 11 5571 8558 Consultório no Einstein: 2151 5803