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Adolescentes buscam por mais que conhecimento técnico e empatia durante atendimento ginecológico, aponta pesquisa

A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia orienta sobre os principais cuidados com a saúde no período da puberdade

Adolescentes buscam por mais que conhecimento técnico e empatia durante atendimento ginecológico, aponta pesquisa – Foto de Cliff Booth no Pexels

Ter boa relação entre médico e paciente é muito importante, principalmente quando falamos de adolescentes. As jovens que buscam atendimento médico têm grande expectativa em relação aos profissionais de saúde, em especial o ginecologista. Esperam ser ouvidas cuidadosamente, e obterem respostas adequadas para suas questões. Para esta faixa etária, é importante que não sejam fornecidas informações em excesso em uma só consulta, mas sim, que sejam incentivadas a perguntar e tratadas com seriedade.

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Em um estudo realizado com base de informações do IBGE e executado pelo Datafolha, com mulheres brasileira de 16 anos ou mais, pertencentes a todas as classes econômicas, com objetivo de investigar e compreender como a mulher vê o profissional de ginecologia e obstetrícia, apontou que entre os aspectos mais importantes para as mulheres, estão o acolhimento, atenção e confiança dados na consulta, a realização de exames clínicos e fornecimento informações claras e suficientes. Ou seja, são itens primordiais num relacionamento médico-paciente. A satisfação é tendencialmente mais significativa entre as mulheres que utilizam atendimento particular ou convênio.

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Para o ginecologista Dr. Cesar Fernandes, diretor científico da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), essa fase de transição entre a infância e a vida adulta plena requer muitos cuidados. “Nesta época, as adolescentes se constituem em uma população totalmente vulnerável a riscos de infeções sexualmente transmissíveis (ISTs), a gravidez não planejada, infecções e até mesmo violências sexuais. Por estas razões, estão em um grupo que merecem atenção redobrada por parte de seus familiares e cuidadores, em especial, os médicos ginecologistas e obstetras. Um acolhimento respeitoso e educativo deve fazer parte da rotina de atendimento para essas não mais crianças e ainda não adultas plenas”, conclui.

Quando procurar um ginecologista

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Segundo a Comissão Nacional Especializada de Ginecologia Infanto Puberal da Febrasgo, o ideal é que a adolescente faça sua primeira visita ao ginecologista logo que iniciare o desenvolvimento puberal. Nesta fase se constata a normalidade do trato genital. Porém, a consulta pode ser protelada para iniciar a partir da primeira menstruação, se a menina estiver sendo acompanhada pelo pediatra. Elas receberão orientações sobre as mudanças que o corpo está sofrendo, se estas mudanças estão adequadas para sua idade e sobre o processo da menstruação. Esta visita se bem-sucedida permite que a menina confie neste profissional para continuar seu acompanhamento e orientação contraceptiva no futuro. Caso a adolescente já esteja com 13-14 anos e ainda não desenvolveu os caracteres sexuais secundários e menarca, assim como, aquela que chegou aos 15-16 anos, e ainda não teve sua primeira menstruação apesar de estar com desenvolvimento completo de caracteres sexuais – estas situações merecem investigação de amenorreia primária e devem ser tratadas com um ginecologista.

Principais mudanças físicas e biológicas e fases da adolescência

A ginecologista Dra. Marta Rehme, presidente da CNE de Ginecologia Infanto Puberal da Febrasgo, conta que as mudanças biológicas, correspondem à puberdade normal que ocorre a partir dos 8 anos de idade com a reativação do eixo hormonal (hipotálamo-hipófise-ovário) que se encontrava em estado quiescente durante toda a infância. Com a reativação do eixo, a hipófise libera os hormônios FSH e LH que atuam no ovário, este estimulando a produção de estrogênio, que vai atuar no desenvolvimento das mamas e crescimento uterino. Além disso o estrogênio no início da puberdade auxilia no estirão do crescimento. As mudanças físicas da puberdade começam a ser percebidas em torno do 10 – 11 anos com o aparecimento do botão mamário (telarca), pilificação pubiana (pubarca), estirão do crescimento e termina com a primeira menstruação. Ou seja, a partir da menstruação, a menina sai da puberdade e entra no período reprodutivo.

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Adolescência inicial (10 aos 13 anos) – A fase na qual ocorrem as mudanças puberais, e também se observa a preocupação das adolescentes com sua imagem corporal. Nesta fase nota-se o desafio à autoridade dos pais, intensa amizade com adolescentes do mesmo sexo, e metas vocacionais pouco realistas. Nesta fase uma gravidez precoce tem sérias implicações sociais, como abandono da escola.

Adolescência média (14-16 anos) – Fase de maior conflito com os pais, aumento do interesse sexual, sensação de onipotência e tendência a ignorar informações, ser avessa aos riscos.

Adolescência final (17-19 anos) – Há uma melhor aceitação da imagem corporal, metas de vida mais reais, e um retorno emocional com os pais, melhor diálogo.

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Observa-se que a puberdade começa um pouco antes do período de mudanças psicossociais da adolescência e termina no meio da adolescência. Junto com as mudanças físicas, há também um processo de amadurecimento cerebral. O processamento das informações básicas e do raciocínio lógico, das tomadas de decisão e autocontrole que se localizam na região pré-frontal do cérebro só completam seu amadurecimento no final da adolescência.

Riscos e perigos da gestação precoce

A gestação na adolescência está associada a maiores riscos de partos prematuros, de recém-nascidos com baixo peso, de apresentar eclampsia, de transtornos mentais (como a depressão) e de morte devido a complicações decorrentes de abortos inseguros ou da gravidez e do parto. Esses riscos dependem da idade da adolescente (maior risco em menores de 15 anos), do nível socioeconômico, do acesso aos serviços de saúde e da condição de saúde da adolescente (se tiver alguma doença associada, o risco é maior).

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Apesar dos riscos à saúde causados por uma gestação na adolescência, os maiores riscos são os sociais e econômicos. As adolescentes que ficam grávidas, especialmente as de forma não intencional, tem maior risco de sofrer violência física e sexual de seus parceiros. Além disto, a gravidez precoce está associada a maior risco de abandono escolar e perda de oportunidades de empregos, aumentando o risco de perpetuação do ciclo da pobreza. Segundo dados do IBGE, seis de cada dez adolescentes grávidas não trabalham e não estudam. Sem falar no impacto econômico: conforme estudo do Banco Mundial, o Brasil teria incremento de 3,5 bilhões de dólares (14 bilhões de reais) por ano em produtividade caso as meninas adiassem a gravidez para depois dos 20 anos.

A consulta ginecológica na adolescência é de fundamental importância para a garantia da saúde sexual e reprodutiva desta população e para a prevenção de agravos como a gravidez não planejada, o abuso sexual, as doenças sexualmente transmissíveis e a AIDS. Atender adolescentes com qualidade exige respeito às especificidades desta faixa etária de grande crescimento e desenvolvimento, durante a qual a maioria inicia a atividade sexual genital. Espera-se, portanto, auxiliar no entendimento deste segmento do universo feminino, acompanhando suas constantes mudanças e tendo sempre em mente as demandas e as particularidades das jovens, contribuindo para um avanço na qualidade da assistência ginecológica a ser prestada a este público.