Visitante constante durante a pandemia, o inchaço chega sem ser convidado e causa aquela sensação péssima de peso na barriga, nos flancos, nas pernas, nos braços e até no rosto. Mas, afinal, o que causa esse problema?
“Para alguns, a retenção hídrica acontece depois de abusar da comida ou bebida, enquanto para outros é apenas uma parte desconfortável da vida cotidiana. Hábitos de vida desregulados, como falta de sono e atividade física insuficiente, também podem estar relacionados”, afirma a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, professora e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
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O inchaço é uma reclamação tão comum que a indústria investe maciçamente em “chás desintoxicantes”. Mas a verdade é que não existe um tratamento único para inchaço. “A melhor abordagem é adequar a dieta e principalmente perceber os gatilhos para alterar os hábitos de vida”, diz a cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.
ENTENDA A RETENÇÃO DE LÍQUIDOS
De acordo com a Dra Marcella, o inchaço é causado por um acúmulo de água nas células, a famosa retenção de líquidos, que é pior no calor devido a dilatação dos vasos, mas que também pode acontecer no inverno por fatores como alimentação, problemas hormonais (geralmente na tireoide) e alterações no rim e coração. “Além disso, o inchaço também pode acontecer por uma sensação de aumento da pressão no intestino. A pressão acumulada pode resultar de um grande volume de alimentos ou líquidos consumidos ou do gás produzido por nossos micróbios intestinais quando ingerimos grandes quantidades de carboidratos fermentáveis. Isso inclui muitos dos alimentos que ingerimos, desde frutas, legumes, grãos, laticínios, feijões e até leguminosas”, diz a médica nutróloga. “Este aumento no conteúdo estica essencialmente o intestino, dando a sensação de inchaço e flatulência.”
O estresse é outro fator que pode causar inchaço, o que explica por que esse problema tem sido mais frequente durante a pandemia do Covid-19. A Dra. Marcella Garcez explica que isso tem a ver com o eixo intestino-cérebro – em outras palavras, a comunicação entre nosso intestino e nosso cérebro. “Quando nos sentimos estressados, nossa função intestinal também fica impactada, o que pode levar a inúmeras disfunções intestinais”, diz a médica.
Alguns processos naturais do organismo também podem favorecer o surgimento de inchaço. “Na mulher, quando a fase do ciclo menstrual conhecida como ovulação se inicia, o que ocorre cerca de 14 dias antes da menstruação, há um aumento considerável nos níveis de estrogênio e progesterona no organismo que pode levar a uma maior retenção hídrica, favorecendo o surgimento de inchaço”, explica a ginecologista Dra. Eloisa Pinho, ginecologista da Clínica GRU. O mesmo ocorre durante a gravidez devido a maior quantidade de progesterona. “Isso porque o aumento da progesterona causa uma flacidez das veias que pode levar a inchaço, dor nas pernas, tonturas e sensação de queimação”, explica a Dra Aline Lamaita.
O edema também pode começar em áreas como os membros inferiores e se disseminar de maneira ascendente. Segundo a Dra Aline, o inchaço é um sintoma comum de má circulação sanguínea de pessoas que sofrem por causa do fluxo de sangue das pernas de volta ao coração, resultando em edema nas pernas ou sensação de peso no corpo todo. “O acúmulo de líquidos pode ser um sinal de doença cardíaca onde o coração não pode circular sangue suficiente ao redor do corpo”, afirma a Dra Aline. E o problema pode chegar até mesmo ao rosto, principalmente no período da manhã. “Isso porque, durante o sono, o sistema linfático, que é responsável pela absorção de líquido das células, fica mais lento, o que predispõe o inchaço. Além disso, há uma influência também da alimentação, bebidas alcóolicas, remédios, alterações hormonais, posição de dormir e até causas genéticas”, explica a dermatologista Dra. Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Mas que medidas práticas podemos tomar para aliviar o inchaço? As médicas concordam que, na grande maioria dos casos, o edema e a distensão abdominal podem ser reduzidos, ou até eliminados por completo, através de simples mudanças na dieta e no estilo de vida, que estão listadas abaixo:
1) Cuidado com o que você come
Em termos de dieta, evite excesso de alimentos que sejam “causas clássicas de inchaço”, incluindo feijão, brócolis, repolho, couve-flor e aqueles ricos em sódio. “Em vez disso, coma frutas e vegetais frescos, proteínas magras e carboidratos complexos, como grãos inteiros e arroz integral, para evitar o inchaço. Diuréticos naturais – como aipo, pepino, melancia, tomate, aspargos e alho – também podem ajudar a reduzir o inchaço”, aconselha a Dra. Eloisa Pinho. “Três pilares para se manter saudável sempre, mas especialmente durante um período pré-menstrual, são: manter-se hidratado, comer com atenção e dormir o suficiente.”
2) Evite o excesso de sódio
Lembre-se de controlar a quantidade de sódio (sal) nas refeições, pois ele colabora para a retenção de líquido. “Temos visto que, dentro de casa, por conta da pandemia, as pessoas acabam descuidando muito da alimentação e consomem mais produtos enlatados, em conserva, processados e ultraprocessados, que são ricos em sódio. Fique de olho também em sucos de caixinha e produtos light, diet e zero, que também têm muito sódio na composição”, afirma a Dra. Paola Pomerantzeff.
2) Beba bastante água
Manter-se hidratado é indispensável para controlar o inchaço. “Para isso, beba de oito a dez copos de 350 ml de água e coma alimentos ricos em líquidos, como frutas vermelhas, aipo e pepino”, recomenda a Dra Eloisa. Água de coco e chá verde também são boas opções
3) Consuma fibras
A principal recomendação da Dra Marcella Garcez é uma dieta rica em fibras com muitos ingredientes à base de plantas. “Tirar proveito dos nutrientes e prebióticos que ocorrem naturalmente nos alimentos é a melhor maneira de alimentar sua microbiota intestinal”, diz ela. O farelo de aveia também é uma excelente opção, juntamente com frutas como ameixa, mamão e abacate.
4) Controle o estresse
Para controlar o inchaço durante a pandemia, é essencial gerenciar o estresse. “Tente praticar meditação. Se estiver trabalhando em home office, a cada uma hora, pare 15 minutos para respirar, tomar um café, ou simplesmente fechar os olhos. O tempo de recuperação é extremamente importante para manejo de estresse. Também é importante ter pelo menos sete horas de sono por dia”, afirma a Dra Aline Lamaita.
5) Atente-se à forma como você dorme
Para evitar o inchaço facial, fique de olho na posição de dormir. “Deitar de bruços é a opção que mais favorece o inchaço matinal do rosto. Se possível, eleve a cabeça com mais de um travesseiro e durma de barriga para cima. Isso também ajuda a prevenir o aparecimento das rugas conhecidas como linhas do sono”, diz a dermatologista Dra. Paola Pomerantzeff.
6) Aposte nos exercícios
A prática regular de atividade física é uma excelente maneira de aliviar e prevenir o inchaço. “Os exercícios não apenas aumentam a frequência cardíaca, o que melhora o fluxo sanguíneo para o intestino, mas também estimulam o cólon, o que significa que é mais provável que você vá ao banheiro – um passo útil na sua jornada de redução de inchaço” diz a médica nutróloga. “Além disso, a própria contração muscular já contribui para a drenagem dos líquidos”, explica a Dra. Paola. A Dra. Aline ainda ressalta que se exercitar também ajudar com o controle do peso. “Quilos extras colocam mais pressão sobre o coração e reduzem o fluxo sanguíneo em todo o corpo”, afirma a médica.
7) Invista na água termal
Para o rosto, o uso de água termal gelada logo ao acordar, ou simplesmente a higienização com água fria, pode ajudar a estimular a circulação e reduzir o inchaço. “Isso porque a temperatura fria refresca e descongestiona a pele”, destaca a dermatologista. “Para isso, a água termal com ativos calmantes pode ser deixada na geladeira à noite e borrifada no rosto pela manhã logo após a lavagem.”
8) Realize uma massagem facial
O inchaço no rosto também pode ser controlado através da realização de uma massagem. “A massagem facial proporciona uma melhora da circulação sanguínea, o que contribui para uma oxigenação eficiente e faz com que as células da pele sejam nutridas adequadamente. Essa também é uma excelente forma de autocuidado para relaxar e diminuir o estresse”, finaliza a Dra Aline Lamaita.
FONTES:
*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo.
*DRA. ALINE LAMAITA: Cirurgiã vascular, Dra. Aline Lamaita é membro da diretoria (comissão de marketing) da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). Membro da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia, do American College of Phlebology, e do American College of Lifestyle Medicine, a médica é formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (2000) e hoje dedica a maior parte do seu tempo à Flebologia (estudo das veias). Curso de Lifestyle Medicine pela Universidade de Harvard (2018). A médica possui título de especialista em Cirurgia Vascular pela Associação Médica Brasileira / Conselho Federal de Medicina. RQE 26557 http://www.alinelamaita.com.br/
*DRA. ELOISA PINHO: Ginecologista e obstetra, Pós-graduada em ultrassonografia ginecológica e obstétrica pela CETRUS. Parte do corpo clínico da clínica GRU Saúde, a médica é formada pela Universidade de Ribeirão Preto, realiza atendimentos ambulatoriais e procedimentos nos hospitais Cruz Azul e São Cristovão, além de também fazer parte do corpo clínico dos hospitais São Luiz, Pró Matre, Santa Joana e Santa Maria.
*DRA. PAOLA POMERANTZEFF: Dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD), tem mais de 10 anos de atuação em Dermatologia Clínica. Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina Santo Amaro, a médica é especialista em Dermatologia pela Associação Médica Brasileira e pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, e participa periodicamente de Congressos, Jornadas e Simpósios nacionais e internacionais. http://www.drapaola.me/